Casa Espírita Missionários da Luz
ESDE1
SUBUNIDADE 5 - PLURALIDADE DAS
EXISTÊNCIAS
Tema nº 4: Retorno à vida espiritual -
Desencarnação
Data: 22/06/2010 e 29/06/2010
Objetivos:
1. Compreensão
do processo de desencarnação e suas diferentes nuances, face ao grau de
desenvolvimento intelectual e espiritual do encarnado.
2. Reflexão
sobre os temas “pós-morte”, “temor da morte” e “desencarnes prematuros”.
3. Análise
e reflexão sobre casos práticos que serão apresentados.
Bibliografia:
a) O
Livro dos Espíritos – Pergs. 149 a 165, 936 e 957.
b) O
Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap V, item 21.
c) O
Céu e o Inferno, Caps. I e II
d) A
Gênese - Cap. XI, Itens 18 e 19.
e) Casos
práticos
Desenvolvimento:
(22/06)
1. Leitura
do texto “O homem diante da morte”, Páginas de Espiritismo Cristão,
Rodolfo Calligaris (Feb).
2. Prece
de abertura.
3. Exposição
inicial acerca das diferentes correntes (materialismo, panteísmo, espiritismo),
no tocante ao pós-morte.
4.
Leitura, debate e reflexão da
bibliografia (a) citada.
5.
Análise sobre as causas do “temor da
morte” e das “mortes prematuras”.
6.
Prece de encerramento.
Desenvolvimento:
(29/06) Estudo de Caso
André Luiz - Obreiros
da Vida Eterna Cap.13 - Companheiro libertado
Compreendia, mais uma
vez, que há tempo de morrer, como há tempo de nascer. Dimas alcançara o período
de renovação e, por isso, seria subtraído à forma grosseira, de modo a
transformar-se para o novo aprendizado. Não fora determinado dia exato.
Atingira-se o tempo próprio. (...)
Em breve, chegávamos à
residência do enfermo, cujo estado era gravíssimo.
Alguns amigos
desencarnados velavam, atentos.
Iluminada entidade que
evidenciava grande interesse pelo agonizante, acercou-se do Assistente,
indagando se o decesso fora marcado para aquele dia.
— Sim — esclareceu o interpelado —, a resistência orgânica terminou.
Estamos autorizados a aliviá-lo, o que faremos hoje, alijando-lhe o fardo
pesado de matéria densa. (...)
O transe era, sem
dúvida, melindroso.
A esposa do médium, ao
pé dele, não obstante prolongadas vigílias e sacrifícios estafantes, que a
expressão fisionômica denunciava, mantinha-se firme a seu lado, olhos vermelhos
de chorar, emitindo forças de retenção amorosa que prendiam o moribundo
em vasto emaranhado de fios cinzentos, dando-nos a impressão de peixe
encarcerado em rede caprichosa.
Jerônimo apontou-a,
bondoso, e explicou:
— Nossa pobre amiga é o
primeiro empecilho a remover. Improvisemos temporária melhora para o
agonizante, a fim de sossegar-lhe a mente aflita. Sômente depois de semelhante
medida conseguiremos retirá-lo, sem maior impedimento. As correntes de força,
exteriorizadas por ela, infundem vida aparente aos centros de energia vital, já
em adiantado processo de desintegração.
Recomendou
o Assistente que Luciana e Hipólito se mantivessem ao lado da senhora,
modificando-lhe as vibrações mentais, e instruindo-me para coadjuvar-lhe a
influenciação, como se fazia mister.
Enquanto mantinha as
mãos coladas ao cérebro de Dimas, propiciando-lhe a renovação das forças
gerais, Jerônimo aplicava-lhe passes longitudinais, desfazendo os fios
magnéticos que se entrecruzavam sobre o corpo abatido. (...)
O coração trabalhava com dificuldade. Enfim, o enfraquecimento
atingira o auge.
— Precisamos fornecer-lhe melhoras fictícias — asseverou o dirigente
de nossas atividades tranquilizando-lhe os parentes aflitos. A câmara está
repleta de substâncias mentais torturantes.
O Assistente principiou, então, a exercer intensivamente sua
influência.
Dimas, de raciocínio obnubilado pela dor, não divisava a
nossa presença. Os atritos celulares, pelo rápido desenvolvimento dos vírus
portadores do coma, impediam-lhe percepções claras. As proveitosas faculdades
mediúnicas que ele possuía haviam caído em temporário eclipse, ante os choques
do sofrimento. Era, porém, extremamente sensível à atuação magnética.
Pouco a pouco, com a
interferência de Jerônimo, o amigo acalmou-se, respirou em ritmo quase normal, abriu
os olhos fundos e exclamou, reconfortado:
— Graças a Deus! Louvado seja Deus! (...)
Falava em voz quase
imperceptível, em virtude do abatimento, entrecortando as palavras na
respiração opressa.(...)
Jerônimo, agora, pousava
a destra na fronte do moribundo, proporcionando-lhe força, inspiração e idéias
favoráveis ao desdobramento de nossos serviços. Dimas mostrou novo brilho no
olhar, encarou a companheira, esforçando-se por parecer tranquilo, e rogou:
(...)
— Repouse a meu pedido.
Ficaria tão satisfeito se a visse mais forte... Não se retarde. Sinto-me muito
melhor e sei que o dia será de calma e reconforto.
Cedendo às instâncias do
esposo e docemente constrangida pela influência de Luciana e Hipólito, a
matrona recolheu-se ao quarto.
Em vista das melhoras
obtidas, houve expansão de júbilo familiar. (...)
Em breves minutos, o
compartimento ficou solitário, facilitando-nos o serviço.
O Assistente distribuiu
trabalho a todos nós.
Hipólito e Luciana, depois
de tecerem uma rede fluídica de defesa, em torno do leito, para que as
vibrações mentais inferiores fôssem absorvidas, permaneceram em prece ao lado,
enquanto eu mantinha a destra sobre o plexo solar do agonizante.
— Iniciaremos, agora, as
operações decisivas — declarou-nos Jerônimo, resoluto —, antes, porém,
forneçamos ao nosso amigo a oportunidade da oração final.
O Assistente tocou-o, demoradamente,
na parte posterior do cérebro. Vimos que o agonizante passou a emitir
pensamentos luminosos e belos. :
— Meu Senhor Jesus-Cristo, creio que atingi o fim de meu corpo, do
corpo que me deste, por algum tempo, como dádiva preciosa e bendita. Eu não
sei, Senhor, quantas vezes feri a máquina fisiológica que me confiaste.
Inconscicntemente, quebrei-lhe as peças com o meu descaso, menosprezando
patrimônios sagrados, cujo valor estou reconhecendo em mais de doze meses de
sofrimento carnal incessante. Não te posso implorar a bênção da morte pacífica,
porque nada fiz de bom ou de útil por merecê-la. Mas se é possível, Amado
Médico, socorre-me com o teu compassivo e desvelado amor! Curaste paralíticos,
cegos e leprosos... Porque te não compadecerás de mim, miserável peregrino da
Terra?...
Seus olhos deixaram
escapar lágrimas abundantes.
Após breves minutos,
observamos que o agonisante recordava a meninice distante. Na tela miraculosa
da memória, revia o colo materno e sentia sede do carinho de mãe. Oh! se
pudesse contar com o socorro da abençoada velhinha que a morte arrebatara há
tantos anos! — refletia. Premido pelas doces reminiscências, modificou o quadro
da súplica, lembrou a cena da crucificação de Jesus, insistiu mentalmente por
vislumbrar o vulto sublime de Maria e, sentindo-se de joelhos, diante dela.
implorou:
— Mãe dos céus, mãe das mães
humanas, refúgio dos órfãos da Terra, sou agora, também, o menino frágil com
fome do afeto maternal nesta hora suprema! Oh! Senhora Divina, mãe de meu
Mestre e de meu Senhor, digna-te abençoar-me! Lembra que teu filho divino pôde
ver-te no derradeiro instante e intercede por mim, mísero servo, para que eu
tenha minha santa mãe ao meu lado no minuto de partir!... Socorre-me! não me
abandones, anjo tutelar da Humanidade, bendita entre as mulheres!
Oh! providência
maravilhosa do Céu! Convertera-se o coração do moribundo em foco radioso e a
porta de acesso deu entrada a venerável anciã, coroada de luz semelhando neve
luminosa. Ela se aproximou de Jerônimo e informou, após desejar-nos a paz
divina:
— Sou a mãe dele...
O Assistente comentou a
urgência da tarefa que nos aguardava e confiou-lhe o depósito querido.
Em breves instantes,
tínhamos perante os olhos inolvidável quadro afetivo. Sentara-se a velhinha no
leito, depondo a cabeça do moribundo no regaço acolhedor, afagando-a com as
mãos caridosas. (...)
Dimas, experimentando
indefinível bem-estar no regaço materno, parecia esquecer, agora, todas as
mágoas, sentindo-se amparado como criança semi-inconsciente, quase feliz.
Ordenou Jerônimo que me conservasse vigilante, de mãos coladas à fronte do
enfermo, passando, logo após, ao serviço complexo e silencioso de magnetização.
Em primeiro lugar, insensibilizou inteiramente o vago, para facilitar o
desligamento nas vísceras. A seguir, utilizando passes longitudinais, isolou
todo o sistema nervoso simpático, neutralizando, mais tarde, as fibras
inibidoras no cérebro. (...)
E porque eu indagasse,
tímido, por onde iríamos começar, explicou-me o orientador:
— Segundo você sabe, há três
regiões orgânicas fundamentais que demandam extremo cuidado nos serviços de
liberação da alma: o centro vegetativo, ligado ao ventre, como sede das
manifestações fisiológicas; o centro emocional, zona dos sentimentos e
desejos, sediado no tórax, e o centro mental, mais importante por
excelência, situado no cérebro. (...)
Aconselhando-me cautela
na ministração de energias magnéticas à mente do moribundo, começou a operar
sobre o plexo solar, desatando laços que localizavam forças físicas. Com
espanto, notei que certa porção de substância leitosa extravasava do umbigo,
pairando em torno. Esticaram-se os membros inferiores, com sintomas de
esfriamento.
Dimas gemeu, em voz
alta, semi-inconsciente.
Acorreram
amigos, assustados. Sacos de água quente foram-lhe apostos nos pés. Mas, antes
que os familiares entrassem em cena, Jerônimo, com passes concentrados sobre
o tórax, relaxou os elos que mantinham a coesão celular no centro emotivo,
operando sobre determinado ponto do coração, que passou a funcionar como bomba
mecânica, desreguladamente. Nova cota de substância desprendia-se do corpo, do
epigastro à garganta, mas reparei que todos os músculos trabalhavam
fortemente contra a partida da alma, opondo-se à libertação das forças
motrizes, em esforço desesperado, ocasionando angustiosa aflição ao paciente. O
campo físico oferecia-nos resistência, insistindo pela retenção do senhor
espiritual. (...)
O Assistente estabeleceu
reduzido tempo de descanso, mas volveu a intervir no cérebro. Era a última
etapa. Concentrando todo o seu potencial de energia na fossa romboidal,
Jerônimo quebrou alguma coisa que não pude perceber com minúcias, e
brilhante chama violeta-dourada desligou-se da região craniana, absorvendo,
instantâneamente, a vasta porção de substância leitosa já exteriorizada. Quis
fitar a brilhante luz, mas confesso que era difícil fixá-la, com rigor. Em
breves instantes, porém, notei que as forças em exame eram dotadas de movimento
plasticizante. A chama mencionada transformou-se em maravilhosa cabeça, em tudo
idêntica à do nosso amigo em desencarnação, constituindo-se, após ela, todo o
corpo perispiritual de Dimas, membro a membro, traço a traço. E, à medida que o
novo organismo ressurgia ao nosso olhar, a luz violeta-dourada, fulgurante
no cérebro, empalidecia gradualmente, até desaparecer, de todo, como se
representasse o conjunto dos princípios superiores da personalidade,
momentaneamente recolhidos a um único ponto, espraiando-se, em seguida, através
de todos os escaninhos do organismo perispirítico, assegurando, desse modo, a
coesão dos diferentes átomos, das novas dimensões vibratórias.
Dimas-desencarnado
elevou-se alguns palmos acima de Dimas-cadáver, apenas ligado ao corpo
através de leve cordão prateado, semelhante a sutil elástico, entre o
cérebro de matéria densa, abandonado, e o cérebro de matéria rarefeita do
organismo liberto.
A genitora abandonou o
corpo grosseiro, rapidamente, e recolheu a nova forma, envolvendo-a em túnica
de tecido muito branco, que trazia consigo.
Para os nossos amigos
encarnados, Dimas morrera, inteiramente. Para nós outros, porém, a operação era
ainda incompleta. O Assistente deliberou que o cordão fluídico deveria
permanecer até ao dia imediato, considerando as necessidades do “morto”, ainda
imperfeitamente preparado para desenlace mais rápido. (...)
—(à mãe:) Minha
irmã pode conservar o filho à vontade até amanhã, quando cortaremos o fio
derradeiro que o liga aos despojos, antes de conduzi-lo a abrigo conveniente.
Por enquanto, repousará ele na contemplação do passado, que se lhe descortina
em visão panorâmica no campo interior. Além disso, acusa debilidade extrema
após o laborioso esforço do momento. Por essa razão, somente poderá partir, em
nossa companhia, findo o enterramento dos envoltórios pesados, aos quais se une
ainda pelos últimos resíduos. (...)
A mãe de Dimas
revelou-se muito grata e partimos, em grupo, a caminho da fundação de Fabiano,
de onde nossa expedição socorrista regressaria à Crosta, no dia seguinte.
Cap. 14 - Prestando
assistência
(André Luiz
retorna à casa, para o velório, e encontra um outro mentor, Fabriciano, junto da mãe de Dimas)
Logo após, contemplando
o recém-desencarnado, como a indicar que deveríamos centralizar todo o
interesse da hora no bem-estar dele, considerou, acariciando-lhe a fronte:
- Nosso amigo repousa agora, terminada a tormenta das provas
incessantes. Está enfraquecido, o pobrezinho. A sensibilidade, posta a serviço
da obrigação bem cumprida, castigou-lhe a alma, até ao fim; todavia, plantou a
fé, a serenidade, o otimismo e a alegria em milhares de corações, estabelecendo
sólidas causas de felicidade futura. Por enquanto, permanecerá na posição de
ave frágil, incapaz de voar longe do ninho.
— Felizmente — aventou a
genitora, satisfeita -, vem melhorando de modo visível. Os resíduos que o ligam
ao cadáver estão quase extintos.
Relanceou o olhar pelos
ângulos da modesta residência e acrescentou:
— Se fôsse possível receber maior
cooperação dos amigos encarnados, ser-lhe-ia muito mais fácil o
restabelecimento integral. No entanto, cada vez que os parentes se debruçam,
em pranto, sobre os despojos, é chamado ao cadáver, com prejuízo para a
restauração mais rápida.
— Lamentavelmente, porém — tornou
Fabriciano —, nossos irmãos encarnados não possuem a chave de reais
conhecimentos para organizar ação adequada a esta hora.
— Em vista disso — revidou a
genitora, conformada —, insisto para que Dimas durma, embora o sono, que
poderia ser calmo e doce, esteja povoado de pesadelos.
Diante da surpresa que
me absorvia, o companheiro apressou-se a esclarecer-me:
— As imagens contidas nas evocações das palestras incidem sobre a mente do
desencarnado, mantido em repouso depois de rápido mergulho na contemplação dos
fatos alusivos à existência finda. Não somente as imagens. Por vezes, nossos
amigos presentes, fecundos nas conversações sem proveito. exumem, com tamanho
calor, a lembrança de certos fatos, que trazem até aqui alguns dos
protagonistas já desencarnados. (…)
— Nossos amigos da esfera carnal são ainda muito ignorantes para o
trato com a morte. Ao invés de trazerem pensamentos amigos e reconfortadores,
preces de auxílio e vibrações fraternais, atiram aos recém-desencarnados as
pedras e os espinhos que deixaram nas estradas percorridas. É por isso que, por
enquanto, os mortos que entregam despojos aos solitários necrotérios da
indigência são muito mais felizes.
Ainda não havia
terminado, de todo, as considerações, quando a esposa de Dimas, num acesso de
pranto, levantou-se do leito em que repousava e adiantou-se para o cadáver,
repetindo-lhe o nome, comovedoramente:
— Dimas! Dimas! como ficarei? Estaremos separados, então, para
sempre?...
Como Fabriciano se
dirigisse apressado para o quarto humilde em que permanecia o desencarnado,
acompanhei-o. A genitora do médium fazia esforços para contê-lo, mas debalde.
Pelo fio prateado, estabelecera-se vigoroso contacto entre ele e a companheira,
porque Dimas se ergueu, cambaleante, apesar do carinho materno. Estava lívido,
semilouco. Avançou para a sala mortuária, rogando paz, mas antes que pudesse
aproximar-se muito dos despojos, Fabriciano aplicou energias de prostração na
esposa imprudente, que foi novamente conduzida ao leito, agora sem sentidos,
enquanto Dimas voltava ao regaço maternal, menos aflito.
Cap.
15 - Aprendendo sempre
Duas horas antes de
organizar-se o cortejo fúnebre, estávamos a postos.
A residência de Dimas
enchia-se de pessoas gratas, além de apreciável assembléia de entidades
espirituais.
Jerônimo, resoluto,
penetrou a casa, seguido de nós outros. Encaminhou-se para o recanto onde o
recém-desencarnado permanecia abatido e sonolento, sob a carícia materna.
Reparei que o médium liberto tinha agora o corpo perispiritual mais
aperfeiçoado, mais concreto. Tive a nítida impressão de que através do cordão
fluídico, de cérebro morto a cérebro vivo, o desencarnado absorvia os
princípios vitais restantes do campo fisiológico. Nosso dirigente contemplou-o,
enternecido, e pediu informes à genitora, que os forneceu, satisfeita:
— Graças a Jesus,
melhorou sensívelmente. É visível o resultado de nossa influência restauradora
e creio que bastará o desligamento do último laço para que retome a
consciência de si mesmo.
Jerônimo examinou-o e
auscultou-o, como clínico experimentado. Em seguida, cortou o liame final,
verificando-se que Dimas, desencarnado, fazia agora o esforço do convalescente
ao despertar, estremunhado, findo longo sono.
Somente então notei que, se o organismo perispirítico recebia as últimas
forças do corpo inanimado, este, por sua vez, absorvia também algo de energia
do outro, que o mantinha sem notáveis alterações. O apêndice prateado era
verdadeira artéria fluídica, sustentando o fluxo e o refluxo dos princípios
vitais em readaptação. Retirada a derradeira via de intercâmbio, o cadáver
mostrou sinais, quase de imediato, de avançada decomposição. (…)
Em compensação,
Dimas-livre, Dimas-espírito, despertava. Amparado pela genitora, abriu os
olhos, fixou-os em derredor, num impulso de criança alarmada e chamou a esposa,
aflitivamente. Dormira em excesso, mas alcançara sensível melhora. (…)
— Mãe! minha mãe!... será possível?
A anciã deteve-o
ternamente nos braços e falou:
— Escute! Refreie a
emoção, que lhe será extremamente prejudicial. Sustente o equilíbrio, diante do
fato consumado. Estamos, agora, juntou, numa vida mais feliz. Não tenha
preocupações acerca dos que ficaram. Tudo será remediado, como convém, no
momento oportuno. Acima de qualquer pensamento que o incline à prisão no
circulo que acabou de deixar, faça valer a confiança sincera e firme em nosso
Pai Celestial.
— Ó minha mãe! e a esposa, os
filhos?... A sábia benfeitora, todavia, cortou-lhe as palavras, consolando-o:
— Os laços terrenos, entre você e eles, foram Interrompidos. Restitua-os a
Deus, certo de que o Eterno Senhor da Vida, a quem de fato pertencemos,
permitirá sempre que nos amemos uns aos outros.(...)
Dimas procurou
conter-se, ante a perturbação geral do ambiente doméstico, e, vacilante,
debruçou-se sobre o ataúde, vertendo grossas lágrimas. Via-se-lhe o inaudito
esforço para manter serenidade naquela hora. Rente a ele, a esposa proferia
frases de intensa amargura. Todavia, em obediência às recomendações maternas,
ele guardava discreta atitude de tristeza e enternecimento.
Notei que Dimas sentia
dificuldade para concatenar raciocínios, porque tentou em vão articular uma
prece, em voz alta. Percebendo-lhe o intenso desejo, aproximou-se Jerônimo de
sensível irmão encarnado, então presente, tocou-lhe a fronte com a destra
luminosa e o companheiro, declarando sentir-se inspirado, levantou-se e pediu
permissão para pronunciar breve súplica, no que foi atendido e acompanhado por
todos.
Sob a influência do
orientador espiritual, o companheiro orou sentidamente. Verifiquei que Dimas
experimentava imensa consolação, graças ao gesto amigo de Jerônimo.
Logo após, ante as exclamações dolorosas dos familiares,
o ataúde foi cerrado e iniciou-se o présito silencioso.
Seguíamos, ao fim do cortejo, em número superior a vinte
entidades desencarnadas, inclusive o irmão recém-liberto.
Abraçado à genitora,
Dimas, em passos incertos e vagarosos, ouvia-lhe discretas exortações e sábios
conselhos.
Entre os muitos
afeiçoados do círculo carnal, reinava profundo constrangimento, mas, entre nós,
imperava tranqüilidade efetiva e espontânea.
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