domingo, 27 de novembro de 2016

Retorno à vida espiritual - Desencarnação

Casa Espírita Missionários da Luz
ESDE1


SUBUNIDADE 5 - PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS

Tema nº 4:    Retorno à vida espiritual - Desencarnação
Data:              22/06/2010 e 29/06/2010


Objetivos:

1.    Compreensão do processo de desencarnação e suas diferentes nuances, face ao grau de desenvolvimento intelectual e espiritual do encarnado.
2.    Reflexão sobre os temas “pós-morte”, “temor da morte” e “desencarnes prematuros”.
3.    Análise e reflexão sobre casos práticos que serão apresentados.


Bibliografia:
a)    O Livro dos Espíritos – Pergs. 149 a 165, 936 e 957.
b)    O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap V, item 21.
c)    O Céu e o Inferno, Caps.  I e II
d)    A Gênese - Cap. XI, Itens 18 e 19.
e)    Casos práticos



Desenvolvimento: (22/06)
1.    Leitura do texto “O homem diante da morte”, Páginas de Espiritismo Cristão, Rodolfo Calligaris (Feb).
2.    Prece de abertura.
3.    Exposição inicial acerca das diferentes correntes (materialismo, panteísmo, espiritismo), no tocante ao pós-morte.
4.    Leitura, debate e reflexão da bibliografia (a) citada.
5.    Análise sobre as causas do “temor da morte” e das “mortes prematuras”.
6.    Prece de encerramento.


Desenvolvimento: (29/06) Estudo de Caso

André Luiz - Obreiros da Vida Eterna Cap.13 - Companheiro libertado

Compreendia, mais uma vez, que há tempo de morrer, como há tempo de nascer. Dimas alcançara o período de renovação e, por isso, seria subtraído à forma grosseira, de modo a transformar-se para o novo aprendizado. Não fora determinado dia exato. Atingira-se o tempo próprio. (...)
Em breve, chegávamos à residência do enfermo, cujo estado era gravíssimo.
Alguns amigos desencarnados velavam, atentos.
Iluminada entidade que evidenciava grande interesse pelo agonizante, acercou-se do Assistente, indagando se o decesso fora marcado para aquele dia.
—  Sim — esclareceu o interpelado —, a resistência orgânica terminou. Estamos autorizados a aliviá-lo, o que faremos hoje, alijando-lhe o fardo pesado de matéria densa. (...)

O transe era, sem dúvida, melindroso.
A esposa do médium, ao pé dele, não obstante prolongadas vigílias e sacrifícios estafantes, que a expressão fisionômica denunciava, mantinha-se firme a seu lado, olhos vermelhos de chorar, emitindo forças de retenção amorosa que prendiam o moribundo em vasto emaranhado de fios cinzentos, dando-nos a impressão de peixe encarcerado em rede caprichosa.
Jerônimo apontou-a, bondoso, e explicou:
— Nossa pobre amiga é o primeiro empecilho a remover. Improvisemos temporária melhora para o agonizante, a fim de sossegar-lhe a mente aflita. Sômente depois de semelhante medida conseguiremos retirá-lo, sem maior impedimento. As correntes de força, exteriorizadas por ela, infundem vida aparente aos centros de energia vital, já em adiantado processo de desintegração.
Recomendou o Assistente que Luciana e Hipólito se mantivessem ao lado da senhora, modificando-lhe as vibrações mentais, e instruindo-me para coadjuvar-lhe a influenciação, como se fazia mister.
Enquanto mantinha as mãos coladas ao cérebro de Dimas, propiciando-lhe a renovação das forças gerais, Jerônimo aplicava-lhe passes longitudinais, desfazendo os fios magnéticos que se entrecruzavam sobre o corpo abatido. (...)

O  coração trabalhava com dificuldade. Enfim, o enfraquecimento atingira o auge.
— Precisamos fornecer-lhe melhoras fictícias — asseverou o dirigente de nossas atividades tranquilizando-lhe os parentes aflitos. A câmara está repleta de substâncias mentais torturantes.
O  Assistente principiou, então, a exercer intensivamente sua influência.
Dimas, de raciocínio obnubilado pela dor, não divisava a nossa presença. Os atritos celulares, pelo rápido desenvolvimento dos vírus portadores do coma, impediam-lhe percepções claras. As proveitosas faculdades mediúnicas que ele possuía haviam caído em temporário eclipse, ante os choques do sofrimento. Era, porém, extremamente sensível à atuação magnética.
Pouco a pouco, com a interferência de Jerônimo, o amigo acalmou-se, respirou em ritmo quase normal, abriu os olhos fundos e exclamou, reconfortado:
— Graças a Deus! Louvado seja Deus! (...)
Falava em voz quase imperceptível, em virtude do abatimento, entrecortando as palavras na respiração opressa.(...)
Jerônimo, agora, pousava a destra na fronte do moribundo, proporcionando-lhe força, inspiração e idéias favoráveis ao desdobramento de nossos serviços. Dimas mostrou novo brilho no olhar, encarou a companheira, esforçando-se por parecer tranquilo, e rogou: (...)
— Repouse a meu pedido. Ficaria tão satisfeito se a visse mais forte... Não se retarde. Sinto-me muito melhor e sei que o dia será de calma e reconforto.
Cedendo às instâncias do esposo e docemente constrangida pela influência de Luciana e Hipólito, a matrona recolheu-se ao quarto.
Em vista das melhoras obtidas, houve expansão de júbilo familiar. (...)
Em breves minutos, o compartimento ficou solitário, facilitando-nos o serviço.
O Assistente distribuiu trabalho a todos nós.
Hipólito e Luciana, depois de tecerem uma rede fluídica de defesa, em torno do leito, para que as vibrações mentais inferiores fôssem absorvidas, permaneceram em prece ao lado, enquanto eu mantinha a destra sobre o plexo solar do agonizante.
— Iniciaremos, agora, as operações decisivas — declarou-nos Jerônimo, resoluto —, antes, porém, forneçamos ao nosso amigo a oportunidade da oração final.
O Assistente tocou-o, demoradamente, na parte posterior do cérebro. Vimos que o agonizante passou a emitir pensamentos luminosos e belos. :
— Meu Senhor Jesus-Cristo, creio que atingi o fim de meu corpo, do corpo que me deste, por algum tempo, como dádiva preciosa e bendita. Eu não sei, Senhor, quantas vezes feri a máquina fisiológica que me confiaste. Inconscicntemente, quebrei-lhe as peças com o meu descaso, menosprezando patrimônios sagrados, cujo valor estou reconhecendo em mais de doze meses de sofrimento carnal incessante. Não te posso implorar a bênção da morte pacífica, porque nada fiz de bom ou de útil por merecê-la. Mas se é possível, Amado Médico, socorre-me com o teu compassivo e desvelado amor! Curaste paralíticos, cegos e leprosos... Porque te não compadecerás de mim, miserável peregrino da Terra?...
Seus olhos deixaram escapar lágrimas abundantes.
Após breves minutos, observamos que o agonisante recordava a meninice distante. Na tela miraculosa da memória, revia o colo materno e sentia sede do carinho de mãe. Oh! se pudesse contar com o socorro da abençoada velhinha que a morte arrebatara há tantos anos! — refletia. Premido pelas doces reminiscências, modificou o quadro da súplica, lembrou a cena da crucificação de Jesus, insistiu mentalmente por vislumbrar o vulto sublime de Maria e, sentindo-se de joelhos, diante dela. implorou:
—        Mãe dos céus, mãe das mães humanas, refúgio dos órfãos da Terra, sou agora, também, o menino frágil com fome do afeto maternal nesta hora suprema! Oh! Senhora Divina, mãe de meu Mestre e de meu Senhor, digna-te abençoar-me! Lembra que teu filho divino pôde ver-te no derradeiro instante e intercede por mim, mísero servo, para que eu tenha minha santa mãe ao meu lado no minuto de partir!... Socorre-me! não me abandones, anjo tutelar da Humanidade, bendita entre as mulheres!
Oh! providência maravilhosa do Céu! Convertera-se o coração do moribundo em foco radioso e a porta de acesso deu entrada a venerável anciã, coroada de luz semelhando neve luminosa. Ela se aproximou de Jerônimo e informou, após desejar-nos a paz divina:
— Sou a mãe dele...
O Assistente comentou a urgência da tarefa que nos aguardava e confiou-lhe o depósito querido.
Em breves instantes, tínhamos perante os olhos inolvidável quadro afetivo. Sentara-se a velhinha no leito, depondo a cabeça do moribundo no regaço acolhedor, afagando-a com as mãos caridosas. (...)
Dimas, experimentando indefinível bem-estar no regaço materno, parecia esquecer, agora, todas as mágoas, sentindo-se amparado como criança semi-inconsciente, quase feliz. Ordenou Jerônimo que me conservasse vigilante, de mãos coladas à fronte do enfermo, passando, logo após, ao serviço complexo e silencioso de magnetização. Em primeiro lugar, insensibilizou inteiramente o vago, para facilitar o desligamento nas vísceras. A seguir, utilizando passes longitudinais, isolou todo o sistema nervoso simpático, neutralizando, mais tarde, as fibras inibidoras no cérebro. (...)
E porque eu indagasse, tímido, por onde iríamos começar, explicou-me o orientador:
— Segundo você sabe, há três regiões orgânicas fundamentais que demandam extremo cuidado nos serviços de liberação da alma: o centro vegetativo, ligado ao ventre, como sede das manifestações fisiológicas; o centro emocional, zona dos sentimentos e desejos, sediado no tórax, e o centro mental, mais importante por excelência, situado no cérebro. (...)
Aconselhando-me cautela na ministração de energias magnéticas à mente do moribundo, começou a operar sobre o plexo solar, desatando laços que localizavam forças físicas. Com espanto, notei que certa porção de substância leitosa extravasava do umbigo, pairando em torno. Esticaram-se os membros inferiores, com sintomas de esfriamento.
Dimas gemeu, em voz alta, semi-inconsciente.
Acorreram amigos, assustados. Sacos de água quente foram-lhe apostos nos pés. Mas, antes que os familiares entrassem em cena, Jerônimo, com passes concentrados sobre o tórax, relaxou os elos que mantinham a coesão celular no centro emotivo, operando sobre determinado ponto do coração, que passou a funcionar como bomba mecânica, desreguladamente. Nova cota de substância desprendia-se do corpo, do epigastro à garganta, mas reparei que todos os músculos trabalhavam fortemente contra a partida da alma, opondo-se à libertação das forças motrizes, em esforço desesperado, ocasionando angustiosa aflição ao paciente. O campo físico oferecia-nos resistência, insistindo pela retenção do senhor espiritual.  (...)
O Assistente estabeleceu reduzido tempo de descanso, mas volveu a intervir no cérebro. Era a última etapa. Concentrando todo o seu potencial de energia na fossa romboidal, Jerônimo quebrou alguma coisa que não pude perceber com minúcias, e brilhante chama violeta-dourada desligou-se da região craniana, absorvendo, instantâneamente, a vasta porção de substância leitosa já exteriorizada. Quis fitar a brilhante luz, mas confesso que era difícil fixá-la, com rigor. Em breves instantes, porém, notei que as forças em exame eram dotadas de movimento plasticizante. A chama mencionada transformou-se em maravilhosa cabeça, em tudo idêntica à do nosso amigo em desencarnação, constituindo-se, após ela, todo o corpo perispiritual de Dimas, membro a membro, traço a traço. E, à medida que o novo organismo ressurgia ao nosso olhar, a luz violeta-dourada, fulgurante no cérebro, empalidecia gradualmente, até desaparecer, de todo, como se representasse o conjunto dos princípios superiores da personalidade, momentaneamente recolhidos a um único ponto, espraiando-se, em seguida, através de todos os escaninhos do organismo perispirítico, assegurando, desse modo, a coesão dos diferentes átomos, das novas dimensões vibratórias.
       Dimas-desencarnado elevou-se alguns palmos acima de Dimas-cadáver, apenas ligado ao corpo através de leve cordão prateado, semelhante a sutil elástico, entre o cérebro de matéria densa, abandonado, e o cérebro de matéria rarefeita do organismo liberto.
A genitora abandonou o corpo grosseiro, rapidamente, e recolheu a nova forma, envolvendo-a em túnica de tecido muito branco, que trazia consigo.
Para os nossos amigos encarnados, Dimas morrera, inteiramente. Para nós outros, porém, a operação era ainda incompleta. O Assistente deliberou que o cordão fluídico deveria permanecer até ao dia imediato, considerando as necessidades do “morto”, ainda imperfeitamente preparado para desenlace mais rápido. (...)
—(à mãe:) Minha irmã pode conservar o filho à vontade até amanhã, quando cortaremos o fio derradeiro que o liga aos despojos, antes de conduzi-lo a abrigo conveniente. Por enquanto, repousará ele na contemplação do passado, que se lhe descortina em visão panorâmica no campo interior. Além disso, acusa debilidade extrema após o laborioso esforço do momento. Por essa razão, somente poderá partir, em nossa companhia, findo o enterramento dos envoltórios pesados, aos quais se une ainda pelos últimos resíduos. (...)
A mãe de Dimas revelou-se muito grata e partimos, em grupo, a caminho da fundação de Fabiano, de onde nossa expedição socorrista regressaria à Crosta, no dia seguinte.

Cap. 14 - Prestando assistência
(André Luiz retorna à casa, para o velório, e encontra um outro mentor,  Fabriciano, junto da mãe de Dimas)
Logo após, contemplando o recém-desencarnado, como a indicar que deveríamos centralizar todo o interesse da hora no bem-estar dele, considerou, acariciando-lhe a fronte:
       - Nosso amigo repousa agora, terminada a tormenta das provas incessantes. Está enfraquecido, o pobrezinho. A sensibilidade, posta a serviço da obrigação bem cumprida, castigou-lhe a alma, até ao fim; todavia, plantou a fé, a serenidade, o otimismo e a alegria em milhares de corações, estabelecendo sólidas causas de felicidade futura. Por enquanto, permanecerá na posição de ave frágil, incapaz de voar longe do ninho.
       —  Felizmente — aventou a genitora, satisfeita -, vem melhorando de modo visível. Os resíduos que o ligam ao cadáver estão quase extintos.
Relanceou o olhar pelos ângulos da modesta residência e acrescentou:
—  Se fôsse possível receber maior cooperação dos amigos encarnados, ser-lhe-ia muito mais fácil o restabelecimento integral. No entanto, cada vez que os parentes se debruçam, em pranto, sobre os despojos, é chamado ao cadáver, com prejuízo para a restauração mais rápida.
—  Lamentavelmente, porém — tornou Fabriciano —, nossos irmãos encarnados não possuem a chave de reais conhecimentos para organizar ação adequada a esta hora.
—  Em vista disso — revidou a genitora, conformada —, insisto para que Dimas durma, embora o sono, que poderia ser calmo e doce, esteja povoado de pesadelos.
Diante da surpresa que me absorvia, o companheiro apressou-se a esclarecer-me:
  As imagens contidas nas evocações das palestras incidem sobre a mente do desencarnado, mantido em repouso depois de rápido mergulho na contemplação dos fatos alusivos à existência finda. Não somente as imagens. Por vezes, nossos amigos presentes, fecundos nas conversações sem proveito. exumem, com tamanho calor, a lembrança de certos fatos, que trazem até aqui alguns dos protagonistas já desencarnados. (…)
—  Nossos amigos da esfera carnal são ainda muito ignorantes para o trato com a morte. Ao invés de trazerem pensamentos amigos e reconfortadores, preces de auxílio e vibrações fraternais, atiram aos recém-desencarnados as pedras e os espinhos que deixaram nas estradas percorridas. É por isso que, por enquanto, os mortos que entre­gam despojos aos solitários necrotérios da indigência são muito mais felizes.
Ainda não havia terminado, de todo, as considerações, quando a esposa de Dimas, num acesso de pranto, levantou-se do leito em que repousava e adiantou-se para o cadáver, repetindo-lhe o nome, comovedoramente:
—  Dimas! Dimas! como ficarei? Estaremos separados, então, para sempre?...
Como Fabriciano se dirigisse apressado para o quarto humilde em que permanecia o desencarnado, acompanhei-o. A genitora do médium fazia esforços para contê-lo, mas debalde. Pelo fio prateado, estabelecera-se vigoroso contacto entre ele e a companheira, porque Dimas se ergueu, cambaleante, apesar do carinho materno. Estava lívido, semilouco. Avançou para a sala mortuária, rogando paz, mas antes que pudesse aproximar-se muito dos despojos, Fabriciano aplicou energias de prostração na esposa imprudente, que foi novamente conduzida ao leito, agora sem sentidos, enquanto Dimas voltava ao regaço maternal, menos aflito.

Cap. 15 - Aprendendo sempre

Duas horas antes de organizar-se o cortejo fúnebre, estávamos a postos.
A residência de Dimas enchia-se de pessoas gratas, além de apreciável assembléia de entidades espirituais.
Jerônimo, resoluto, penetrou a casa, seguido de nós outros. Encaminhou-se para o recanto onde o recém-desencarnado permanecia abatido e sonolento, sob a carícia materna. Reparei que o médium liberto tinha agora o corpo perispiritual mais aperfeiçoado, mais concreto. Tive a nítida impressão de que através do cordão fluídico, de cérebro morto a cérebro vivo, o desencarnado absorvia os princípios vitais restantes do campo fisiológico. Nosso dirigente contemplou-o, enternecido, e pediu informes à genitora, que os forneceu, satisfeita:
— Graças a Jesus, melhorou sensívelmente. É visível o resultado de nossa influência restauradora e creio que bastará o desligamento do último laço para que retome a consciência de si mesmo.
Jerônimo examinou-o e auscultou-o, como clínico experimentado. Em seguida, cortou o liame final, verificando-se que Dimas, desencarnado, fazia agora o esforço do convalescente ao despertar, estremunhado, findo longo sono.
Somente então notei que, se o organismo perispirítico recebia as últimas forças do corpo inanimado, este, por sua vez, absorvia também algo de energia do outro, que o mantinha sem notáveis alterações. O apêndice prateado era verdadeira artéria fluídica, sustentando o fluxo e o refluxo dos princípios vitais em readaptação. Retirada a derradeira via de intercâmbio, o cadáver mostrou sinais, quase de imediato, de avançada decomposição. (…)
Em compensação, Dimas-livre, Dimas-espírito, despertava. Amparado pela genitora, abriu os olhos, fixou-os em derredor, num impulso de criança alarmada e chamou a esposa, aflitivamente. Dormira em excesso, mas alcançara sensível melhora. (…)
— Mãe! minha mãe!... será possível?
A anciã deteve-o ternamente nos braços e falou:
— Escute! Refreie a emoção, que lhe será extremamente prejudicial. Sustente o equilíbrio, diante do fato consumado. Estamos, agora, juntou, numa vida mais feliz. Não tenha preocupações acerca dos que ficaram. Tudo será remediado, como convém, no momento oportuno. Acima de qualquer pensamento que o incline à prisão no circulo que acabou de deixar, faça valer a confiança sincera e firme em nosso Pai Celestial.
— Ó minha mãe! e a esposa, os filhos?... A sábia benfeitora, todavia, cortou-lhe as palavras, consolando-o:
Os laços terrenos, entre você e eles, foram Interrompidos. Restitua-os a Deus, certo de que o Eterno Senhor da Vida, a quem de fato pertencemos, permitirá sempre que nos amemos uns aos outros.(...)
Dimas procurou conter-se, ante a perturbação geral do ambiente doméstico, e, vacilante, debruçou-se sobre o ataúde, vertendo grossas lágrimas. Via-se-lhe o inaudito esforço para manter serenidade naquela hora. Rente a ele, a esposa proferia frases de intensa amargura. Todavia, em obediência às recomendações maternas, ele guardava discreta atitude de tristeza e enternecimento.
Notei que Dimas sentia dificuldade para concatenar raciocínios, porque tentou em vão articular uma prece, em voz alta. Percebendo-lhe o intenso desejo, aproximou-se Jerônimo de sensível irmão encarnado, então presente, tocou-lhe a fronte com a destra luminosa e o companheiro, declarando sentir-se inspirado, levantou-se e pediu permissão para pronunciar breve súplica, no que foi atendido e acompanhado por todos.
Sob a influência do orientador espiritual, o companheiro orou sentidamente. Verifiquei que Dimas experimentava imensa consolação, graças ao gesto amigo de Jerônimo.
Logo após, ante as exclamações dolorosas dos familiares, o ataúde foi cerrado e iniciou-se o présito silencioso.
Seguíamos, ao fim do cortejo, em número superior a vinte entidades desencarnadas, inclusive o irmão recém-liberto.
Abraçado à genitora, Dimas, em passos incertos e vagarosos, ouvia-lhe discretas exortações e sábios conselhos.
Entre os muitos afeiçoados do círculo carnal, reinava profundo constrangimento, mas, entre nós, imperava tranqüilidade efetiva e espontânea.



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