Casa Espírita Missionários da Luz – ESDE2 - 26/05/2015
Tema: Conceito e Objetivos
Objetivos:
·
Conceituar Médium e Mediunidade;
· Destacar
os objetivos da Mediunidade.
Bibliografia:
O
Livro dos Médiuns – Cap. XIV - item 159, Cap. XX – item 226;
O
Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 28, item 8; cap 26, itens 1 e 2;
O
Consolador, Chico Xavier/Emmanuel, Cap. V ‘Mediunidade’, perg. 382 e 383;
Estudos Espíritas, Cap 18,
“Mediunidade”, Joanna de Ângelis/Divaldo
P. Franco
NT, Atos, Cap. II:17-18; 1a Epístola de Paulo aos
Coríntios, Capítulo 12, VV 1, 4 à 11
Libertação – André Luiz/Chico Xavier, Cap. 16 -
Encantamento pernicioso
Material: Exemplares de O Ev.Seg.Esp; exemplares do NT;
O Consolador e o LM (mandar pergs 382 e 383 ao grupo, por email).
Desenvolvimento:
- Leitura da
página Mediunidade
e Jesus, de Eurípedes, comentários e prece.
- Ler itens
1 e 2 do Evangelho, cap.26 (Dai Gratuitamente o que...)
"Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos,
curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente
haveis recebido."
Foi esta a recomendação de Jesus
a seus discípulos e com isto querendo dizer "(...) que ninguém se faça
pagar daquilo que nada pagou. Ora, o que eles haviam recebido gratuitamente era
a faculdade de curar os doentes e de expulsar os demônios, isto é, os maus
espíritos. Esse dom Deus lhos dera gratuitamente, para alívio dos que sofrem e
como meio de propagação da fé; Jesus, pois, recomendava-lhes que não fizesse
dele objeto de comércio, nem de especulação, um meio de vida."
Prece inicial e comentários dos trechos lidos.
ð
Jesus orientava os discípulos sobre o uso
correto da mediunidade.
- Solicitar
que alguém leia o NT: Atos, Cap. II:17-18
E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que
derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas
filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, os vossos anciãos terão
sonhos; e sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu
Espírito naqueles dias, e eles profetizarão.
èPedro se reporta ao projeta Joel, do VT, explicando sobre o fenômeno da
mediunidade
- Solicitar
que outra pessoa leia o NT: 1a Epístola de Paulo aos Coríntios, Capítulo
12, VV 1, 4 à 11
“1.Ora, a respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos,
que sejais ignorantes. (...) 4. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o
mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há
diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do
Espírito para o proveito comum. Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da
sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; a outro, pelo
mesmo Espírito, a fé; a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; a outro a
operação de milagres; a outro a profecia; a outro o dom de discernir espíritos;
a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação de línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas
estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer. “
ð
Paulo fala do exercício da mediunidade, dos
diversos tipos e do objetivo: “para o proveito comum”.
5. Visto esses trechos do NT, como
podemos definir a mediunidade? Médium?
LM, cap: 14:
159.
Todo aquele que sente, num grau qualquer, a
influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao
homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras
são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que
todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam
aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz
por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma
organização mais ou menos sensitiva.
6. E quanto ao objetivo da
mediunidade?
ð Solicitar que leiam LM, cap. XX,
item 226, perg.2 e 5 (pág. 274 e 276)
èComo oportunidade de crescimento
aos que a possuem; para a melhoria da humanidade.
7. Solicitar que alguém leia as duas
perg’s de O Consolador, de Emmanuel, enviada por email: 382 e 383
8. Quando foi que a mediunidade
deixou de ser uma prática comum nas igrejas? Falar
do Concílio de Nicéia:
O Cristianismo, desde
a Ressurreição até o Concílio de Nicéia, fez uso constante da Mediunidade.
Através deste concílio realizado no ano 325 de nossa era, na cidade de Constantinopla,
foi condenado o uso da mediunidade e outros pontos mantidos pelos primeiros
cristãos, dando início à desagregação e à decomposição do Cristianismo em suas
legítimas bases, que fora tão profundamente marcado pelo dia de Pentecostes. (Joanna, Estudos Espíritas)
9. Fixação de Conteúdo – estudo de caso – Libertação
– André Luiz
ð Importância da moralização do médium para que
sua tarefa mediúnica não se perca.
10. Prece final.
11. Anexos
Mediunidade
e Jesus
Eurípedes Barsanulfo - Francisco Cândido
Xavier - "O Espírito da Verdade" - Autores Diversos – Feb
Quem hoje ironiza a mediunidade, em nome do
Cristo, esquece-se, naturalmente, de que Jesus foi quem mais a honrou neste
mundo, erguendo-a ao mais alto nível de aprimoramento e revelação, para
alicerçar a sua eterna doutrina entre os homens.
É assim que começa o apostolado divino,
santificando-lhe os valores na clariaudiência e na clarividência entre Maria e
Isabel, José e Zacarias, Ana e Simeão, no estabelecimento da Boa Nova.
E segue adiante, enaltecendo-a na inspiração
junto aos doutores do Templo; exaltando-a nos fenômenos de efeitos físicos, ao
transformar a água em vinho, nas bodas de Caná; honorificando-a, nas atividades
da cura, em transmitindo passes de socorro aos cegos e paralíticos,
desalentados e aflitos, reconstituindo-lhes a saúde; ilustrando-a na levitação,
quando caminha sobre as águas; dignificando-a nas tarefas de desobsessão, ao
instruir e consolar os desencarnados sofredores por intermédio dos alienados
mentais que lhe surgem à frente; glorificando-a na materialização, em se
transfigurando ao lado de Espíritos radiantes, no cimo do Tabor, e elevando-a
sempre, no magnetismo sublimado, seja aliviando os enfermos com a simples
presença, revitalizando corpos cadaverizados, multiplicando pães e peixes para
a turba faminta ou apaziguando as forças da natureza.
E confirmando o intercâmbio entre os vivos da
Terra e os vivos da Eternidade, reaparece, Ele mesmo, ante os discípulos
espantados, traçando planos de redenção que culminam no dia de Pentecostes - o
momento inesquecível do Evangelho -, quando os seus mensageiros convertem os
Apóstolos em médiuns falantes, na praça pública, para esclarecimento do povo
necessitado de luz.
Como é fácil de observar, a mediunidade, como
recurso espiritual de sintonia, não se confunde com a Doutrina Espírita que
expressa atualmente o Cristianismo Redivivo, mas sempre que enobrecida pela
honestidade e pela fé, pela educação e pela virtude, é o veículo respeitável da
convicção na sobrevivência.
Assim, pois, não nos agastemos contra aqueles
que a perseguem, através do achincalhe - tristes negadores da realidade cristã,
ainda mesmo quando se escondam sob veneráveis distintivos da autoridade humana
-, porquanto os talentos medianímicos estiveram, incessantemente, nas mãos de
Jesus, o nosso Divino Mestre, que deve ser considerado, por todos nós, como
sendo o Excelso Médium de Deus.
Libertação – André Luiz/Chico Xavier, Cap. 16 -
Encantamento pernicioso
Finda a reunião,
reparei que a médium Dona Isaura Silva apresentava sensível transfiguração.
Enquanto
perduravam os trabalhos, mostrava radiações brilhantes, em derredor do cérebro,
oferecendo simpático ambiente pessoal; entretanto, encerrada que foi a sessão,
cercou-se de emissões de substância fluídica cinzento-escura, qual se houvesse
repentinamente apagado, em torno dela, alguma lâmpada invisível.
Impressionado,
dirigi-me a Sidônio, com natural indagação, ao que ele me respondeu, atencioso:
— A pobrezinha encontra-se debaixo de
verdadeira tempestade de fluidos malignos que lhe vão sendo desfechados por
entidades menos esclarecidas, com as quais se sintonizou, inadvertidamente,
pelos fios negros do ciúme - Enquanto se acha sob nossa influência direta,
mormente nos trabalhos espirituais de ordem coletiva, em que age como válvula
captadora das forças gerais dos assistentes, desfruta bom ânimo e alegria,
porque o médium é sempre uma fonte que dá e recebe, quando em função entre os
dois planos; terminada, contudo, a tarefa, Isaura volta às tristes condições a
que se relegou.
— Não há, porém, algum recurso para
socorrê-la? — indaguei, curioso.
— Sem dúvida — elucidou o orientador da pequena e
simpática instituição —, e, porque não a abandonamos, ainda não sucumbiu. E’
imprescindível, todavia, num processo de semelhante natureza, agir com cautela,
sem humilhá-la e sem feri-la. Quando defendemos um broto tenro, do qual é justo
aguardar preciosa colheita no porvir, é necessário combater os vermes
invasores, sem atingi-lo. Crestar o grelo de hoje é perder a colheita de
amanhã. Nossa irmã é valorosa cooperadora, revela qualidades apreciáveis e
dignas, porém, não perdeu ainda a noção de exclusivismo sobre a vida do
companheiro e, através dessa brecha que a induz a violentas vibrações de
cólera, perde excelentes oportunidades de servir e elevar-se. Hoje, viveu um
dos seus dias mais infelizes, entregando-se totalmente a esse gênero de
flagelação interior. Reclama-nos concurso ativo, nesta noite, pois cada servo
acordado para o bem, quando se projeta em determinada faixa de vibrações
inferiores durante o dia, marca quase sempre uma entrevista pessoal, para a
noite, com os seres e as forças que a povoam.
Estampou na
fisionomia significativa expressão e acrescentou:
— Enquanto a criatura é vulgar e não se destaca
por aspirações de ordem superior, as inteligências pervertidas não se preocupam
com ela; no entanto, logo que demonstre propósitos de sublimação, apura-se-lhe
o tom vibratório, passa a ser notada pelos característicos de elevação e é
naturalmente perseguida por quem se refugia na inveja ou na rebelião
silenciosa, visto não conformar-se com o progresso alheio.
(...)
— Por enquanto — explicou-me a certa altura da
útil palestra —, este domicílio está sob a guarda dos nossos processos de
vigilância. Entidades perturbadoras ou criminosas não dispõem de acesso até
aqui, mas nossa amiga, transtornada pelo ciúme, vai, ela mesma, ao encalço de
maus conselheiros. Esperemos que abandone o veículo de carne, sob a ação do
sono, e verás, de perto.
Decorridas apenas
duas horas, (...) e D. Isaura, fora do corpo de carne, surgiu-nos à vista,
revelando o perispírito intensamente obscuro. Passou rente a nós sem
prestar-nos a mínima atenção, mostrando-se encarcerada em absorvente idéia
fixa. Sidônio endereçou-lhe algumas palavras amigas, que não foram
absolutamente ouvidas. Tentou o amigo tocá-la com a destra luminosa, mas a
médium precipitou-se em desabalada carreira, deixando-nos perceber que a nossa
aproximação lhe constituía, naqueles instantes, aflitiva tortura. Encontrava-se
incapaz de assinalar-nos a presença; entretanto, percebia-nos, instintivamente,
as vibrações mentais e demonstrava temer o contacto espiritual conosco.
O benfeitor
explicou-me que poderia constrangê-la a ouvir-nos, obrigando-a a submeter-se,
sem reservas, à nossa influência; no entanto, semelhante atitude de nosso lado
implicaria a supressão indébita das possibilidades educativas. Isaura, no
fundo, era senhora do próprio destino e, na experiência íntima, dispunha do
direito de errar para melhor aprender — o mais acertado caminho de defesa da
própria felicidade. Ali estava, a fim de ajudá-la, quanto possível, na
preservação das forças físicas, mas não para algemá-la a atitudes com que ainda
não pudesse concordar espontâneamente, nem mesmo em nome do bem que não reclama
escravos em sua ação e, sim, servidores livres, contentes e otimistas.
Com grande
surpresa para mim, o prestimoso guardião continuou explicando que aquela
senhora, efetivamente, detinha extensas possibilidades no serviço aos
semelhantes. Caso quisesse perdê-las temporàriamente, outro recurso não nos
cabia senão o de entregá-la à corrente da própria vontade, até que um dia
conseguisse ela própria despertar em plano de compreensão mais alta. Sabia, à
saciedade, que o marido não lhe era propriedade exclusiva, que o ciúme
tresloucado só poderia conduzi-la a perigosa situação espiritual, não ignorava
que a palavra do Mestre exortava os aprendizes ao perdão e ao amor para que os
companheiros mais infelizes não se projetassem nos despenhadeiros fundos da
estrada. Entretanto, se os seus desígnios se demorassem na linha contrária ao
roteiro que o plano superior lhe havia traçado, só nos restaria deixá-la
circunscrita aos círculos da mente em desânimo ou em desespero, a fim de que o
tempo lhe ensinasse o reajustamento próprio.
Depois de pacientes elucidações, Sidônio concluiu num sorriso melancólico:
— Educação não vem por imposição. Cada
Espírito deverá a si mesmo a ascensão sublime ou a queda deplorável.
A esse tempo, acompanhávamos a senhora Silva, fora do corpo de carne, a
fugir de seu domicílio para a via pública. Estugou o passo até encontrar velha
casa desabitada, a cuja sombra se lhe depararam dois malfeitores desencarnados,
inimigos sagazes do serviço de libertação espiritual de que se convertera em
devotada servidora. É evidente que a esperavam com o propósito deliberado de
intoxicar-lhe o pensamento.
Abeiraram-se dela, amistosos e macios, sem se aperceberem da nossa
presença.
— Com que então, Dona Isaura — disse
um dos embusteiros, apresentando na voz mentiroso acento de compaixão —, a
senhora tem sofrido bastante em seus respeitáveis sentimentos de mulher...
— Ah! meu amigo — clamou a interpelada
visivelmente satisfeita por encontrar alguém que se lhe associasse às dores
imaginárias e infantis —‘então, o senhor também sabe?
— Como não? — comentou o interlocutor,
enfático — sou um dos Espíritos que a “protegem” e sei que seu esposo lhe tem
sido desalmado verdugo. A fim de “ajudá-la”, tenho seguido o infeliz, por toda
parte, surpreendendo-lhe as traições aos compromissos domésticos.
D.Isaura, em lágrimas, confiou-se ao fingido amigo.
— Sim — gritou, molestada —, esta é
que éa verdade! Sofro infinitamente... Não existe neste mundo criatura mais
desventurada que eu...
— Reconheço — acentuou o loquaz
perseguidor —, reconheço a extensão de seus padecimentos morais, vejo-lhe o
esforço e o sacrifício e não ignoro que seu marido eleva a voz nas preces,
através das sessões habituais, para simplesmente acobertar as próprias culpas.
Por vezes, em plena oração, entrega-se a pensamentos de lascivia, fixando
senhoras que lhe frequentam o lar.
Envolvendo a
médium imprevidente na melifluidade das frases, aduzia:
— É um absurdo! Dói-me vê-la algemada a um patife
mascarado de apóstolo.
— É isto mesmo... — confirmava a pobre senhora,
qual se fora andorinha delicada, portadora de importante mensagem,
repentinamente presa num tabuleiro de mel —, estou rodeada de gente desonesta.
Nunca sofri tanto!
Indicando o
quadro triste, Sidônio informou-me:
— Antes de tudo, os agentes da desarmonia
perturbam-lhe os sentimentos de mulher, para, em seguida, lhe aniquilarem as
possibilidades de missionária. O ciúme e o egoísmo constituem portas fáceis de
acesso à obsessão arrasadora do bem. Pelo exclusivismo afetivo, a médium, nesta
conversação, já se ligou mentalmente aos ardilosos adversários de seus
compromissos sublimes.
Deixando
transparecer imensa tristeza, acrescentou:
— Repara.
O inteligente
obsessor abraçou a senhora, parcialmente desligada do corpo físico, e
prosseguiu:
— Dona Isaura, acredite que somos seus leais
amigos. E os protetores verdadeiros são aqueles que, como nós, lhe conhecem os
padecimentos ocultos. Não é justo que se submeta às arbitrariedades do marido
infiel. Abstenha-se de receber-lhe o séquito de companheiros hipócritas, interessados
em orações coletivas, que mais se assemelham a palhaçadas inúteis. É um perigo
entregar-se a práticas mediúnicas, qual vem fazendo em companhia de gente dessa
espécie... Tome cuidado!...
A médium
invigilante arregalou os olhos, Impressionada com a estranha inflexão impressa
nas palavras ouvidas, e gritou:
— Aconselhe-me, Espírito generoso e amigo, que
tão bem me conhece o martírio silencioso!
O interlocutor,
na intenção de destruir a célula iluminativa que funcionava com imenso proveito
no santuário doméstico da jovem senhora, assediada agora por seus argumentos
adocicados e venenosos, observou com malicia:
— A senhora não nasceu com a vocação do
picadeiro. Não permita a transformação de sua casa em sala de espetáculo. Seu
marido e suas relações sociais exageram-lhe as faculdades. Precisa ainda de
longo tempo para desenvolver-se suficientemente.
E envolvendo-a
nos pesados véus da dúvida que anulam tantos trabalhadores bem intencionados,
aduziu:
— Já meditou bastante na mistificação
inconsciente? Está convencida de que não engana os outros? É indispensável
acautelar-se. Se estudar a grave questão do Espiritismo, com inteligência e
acerto, reconhecerá que as mensagens escritas por seu intermédio e as
incorporações de entidades supostamente benfeitoras não passam de pálidas
influências de Espíritos perturbados e de alta percentagem dos produtos de seu
próprio cérebro e de sua sensibilidade agitada pelas exigências descabidas das
pessoas que lhe frequentam a casa. Não vê a plena consciência com que se entrega
ao imaginado intercâmbio? Não creia em possibilidades que não possui. Trate de
preservar a dignidade de sua casa, mesmo porque seu esposo não tem outro
objetivo senão o de utilizar-lhe a credulidade excessiva, lançando-a a triste
aventura do ridículo.
A pobre criatura,
tão ingênua e prestimosa, registrava com visível terror aquela conceituação do
assunto.
Espantado com a
passividade de Sidônio, ante aquele assalto, enderecei-lhe a palavra,
respeitoso, porém menos tranqüilo:
— Não será razoável defendê-la?
Ele sorriu compreensivamente e elucidou:
— Todavia, que fizemos, há poucas
horas, no culto da prece e do socorro fraternal, senão prepará-la à própria
defensiva? Trabalhou mediúnicamente conosco; ouviu formosa e comovedora
preleção evangélica contra os perigos do egoísmo enfermiço; colaborou,
decidida, para que o bem se concretizasse e ela própria emprestou-nos os lábios
a fim de ensinarmos princípios de salvação em nome do Cristo, a quem deveria
confiar-se. Entretanto, apenas porque o esposo se dispôs a justa gentileza com
as damas que lhe buscaram a companhia esclarecedora e fraterna, obscureceu o
pensamento no ciúme destruidor e perdeu o equilíbrio íntimo, entregando-se,
inerme, a entidades que lhe exploram o sentimentalismo.
Fêz significativo gesto, apontando os malfeitores desencarnados, e
explicou:
— Estes companheiros retardados
procedem com os médiuns à maneira de ladrões que, depois de saquearem uma casa,
acordam o dono, hipnotizam-no e obrigam-no a tomar-lhes o lugar, compelindo-o a
sentir-se na condição de mentiroso e mistificador. Aproximam-se da mente
invigilante, dilaceram-lhe a harmonia, furtam-lhe a tranquilidade e, depois,
com sarcasmo imperceptível e sutil, obrigam-na a acreditar-se fantasiosa e
desprezível. Muitos missionários se deixam atropelar pela falsa argumentação
que acabamos de ouvir e menosprezam as sublimes oportunidades de estender o
bem, através de preciosa sementeira que lhes enriqueça o futuro.
— Mas não há recurso — inquiri,
sensibilizado — de afastar semelhantes malfeitores?
— Sem dúvida — elucidou Sidônio, bem
humorado —, em toda parte existe contenção e panacéia, remediando situações
pela violência ou pelo engodo prejudiciais, mas, na intimidade de nossa tarefa,
que será mais aconselhável? Espantar moscas ou curar a ferida?
Sorriu,
enigmático, e prosseguiu:
— Tais dificuldades são lições valiosas que o
Espírito do medianeiro, entre encarnados e desencarnados, deve aproveitar em
benditas experiências e não nos compete subtrair o ensinamento ao aprendiz.
Enquanto um trabalhador da mediunidade empresta ouvido. a histórias que lhe
lisonjeiem a esfera pessoal, disso fazendo condição para cooperar na obra do
bem, quer dizer que ainda estima o personalismo inferior e o fenômeno, acima do
serviço que lhe cabe no plano divino. Nessa posição, demorar-se-á longo tempo
entre desencarnados ociosos que disputam a mesma presa, anulando valiosa
ocasião de elevar-se, porque, depois de certo tempo de auxílio desaproveitado,
perde provisoriamente a companhia edificante de irmãos mais evolvidos que tudo
fazem inútilmente pelo reerguer no caminho. Então cai vibratôriamente no nível
moral a que se ajusta, convive com as entidades cujo contacto prefere, e
acorda, mais tarde, verificando as horas preciosas que desprezou.
A esse tempo, o
obsidente de Dona Isaura afirmava-lhe, palrador.
— Estude a senhora o próprio caso. Consulte
cientistas competentes. Leia as últimas novidades em psicanálise e não perca
sua oportunidade de restauração, sob pena de enlouquecer.
E comentava,
sacrílego:
— Falo-lhe em nome das Esferas Superiores na
qualidade de amigo fiel.
— Sim... compreendo... — concordava a
interlocutora, tímida e desapontada.
Nesse momento,
Sidônio abeirou-se do grupo e fêz-se visível para Dona Isaura, hipnotizada
pelos perseguidores, e a médium registrou-lhe a presença com alguma
dificuldade, exclamando:
— Vejo Sidônio, nosso devotado amigo espiritual!
O verboso obsessor, que de maneira alguma percebia a nossa vizinhança, em
virtude do baixo padrão emocional em que se mantinha, zombou, franco:
— Nada disso. A senhora nada vê. É
pura ilusão. Abandone o vicio mental para furtar-se a maiores desequilíbrios.
Sidônio voltou algo triste e informou sem rebuços:
— Desde o instante em que Isaura se projetou
na zona sombria do ciúme, tem a matéria mental em posição difícil e não se acha
em condições de compreender-me. Mas, poderemos socorrê-la de outro modo.
Em volitação rápida, no que foi seguido por mim, encontrou o marido da
medianeira numa reunião instrutiva, junto de vários amigos espirituais, e
recomendou-lhe tomar o corpo físico sem perda de tempo, a fim de auxiliar a
esposa em dificuldade.
O irmão Silva não hesitou.
Em breve, regressava à câmara conjugal, reapossando-se do veículo denso.
O corpo da senhora, ao lado dele, arfava em reiteradas contorções, acorrentado
a indizível pesadelo.
Dócil à influenciação de Sidônio, procurou despertá-la, sacudindo-lhe o
busto, delicadamente.
Isaura, em copioso pranto, retornou ao campo carnal sem detença, abrindo os
olhos assustadiços:
— Oh! como sou infeliz! — bradou,
angustiada — estou sozinha!
Sidônio, quase incorporado ao marido complacente e bondoso, levava-o a
falar, construtivamente:
— Lembra-te, querida, de nossa fé e de
quanto temos recebido de nossos amados benfeitores espirituais!
— Nada disso! —retrucou, Irritada.
— Como assim? — tornou ele, paciente —
não temos sido tão amparados, através de tua própria mediunidade?
— Nunca! nunca... — protestou a pobre
senhora —, tudo é uma farsa. As mensagens que recebo são pura atividade de
minha imaginação. Tudo é expressão de mim mesma.
— Mas ouve, Isaura! — aduziu o esposo,
sorrindo — jamais foste mentirosa. Já sei. Caíste nas malhas dos nossos
infelizes irmãos que te conduzem ao purgatório do ciúme terrível, mas Jesus nos
auxiliará no oportuno reajustamento.
Nesse momento, Sidônio voltou-se para mim e lembrou:
— Penso, André, que já assististe à
fase culminante da lição. E esta conversa agora seguirá até muito longe. Com o
milagroso concurso das horas, pacificaremos a mente da servidora respeitável,
mas exclusivista e invigilante. Volta ao teu círculo de trabalho e guarda o
ensinamento desta noite.
Profundamente tocado pelo que vira, agradeci e
afastei-me.
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