Casa
Espírita Missionários da Luz
ESDE3 – 20/05/2014
Tema:
Alimentação dos Espíritos
Objetivos:
- Conhecer o processo de alimentação
dos espíritos desencarnados
Bibliografia:
Evolução
em Dois Mundos, André Luiz/Chico Xavier, Cap. 21;
Missionários da Luz, André Luiz/Chico Xavier, Cap. 11;
Nosso Lar, André Luiz/Chico
Xavier, Cap’s 9, 10 e 18
Programa Despertar
Espírita, com Yasmin Madeira e Dr. Sérgio Thiesen:
https://www.youtube.com/watch?v=33aeL78SCh4:
Vestimentas e alimentação dos Espíritos
17:18 à
22:14h – alimentação; música até 29:32h; a partir de 40:00 – alimentos.
Ao fim uma
visualização
Material:
Desenvolvimento:
1. Leitura e comentário do Evang, e prece Inicial.
2. Falar do tema do estudo da noite, perguntando se alguém
conseguiu assistir à entrevista gravada no programa Despertar Espírita, e ouvir
comentários.
3.Propor a divisão em 4 grupos para leitura de diferentes
textos de André Luiz, para análise e posterior apresentação aos demais.
Cada grupo deverá escolher um relator,
para que apresente os principais pontos trazidos por André Luiz nos textos
lidos.
i)
Evolução
em Dois Mundos
ii) Missionários da Luz
iii)
Nosso
Lar, Cap 9
iv)
Nosso
Lar, trechos dos Cap. 10 e 18.
4.Conclusão – a respiração e o amor: alimentos da alma.
Precisamos desde já, começar a nos educar com relação à nossa alimentação para
que nos preparemos para quando retornarmos ao Plano Espiritual, não tenhamos
muito dificuldade na questão da alimentação.
5.Prece final
Anexos:
Evolução em Dois Mundos – André
Luiz/Chico Xavier, Cap. 21 - Alimentação dos desencarnados
- Como se
verifica a alimentação dos Espíritos desencarnados?
- Encarecendo a importância da respiração no sustento do corpo espiritual,
basta lembrar a hematose no corpo
físico, pela qual o intercâmbio gasoso se efetua com segurança, através dos
alvéolos, nos quais os gases se transferem do meio exterior para o meio interno
e vice-versa, atendendo à assimilação e desassimilação de variadas atividades
químicas no campo orgânico. (...)
Estudando a respiração celular, encontraremos, junto aos próprios arraiais
da ciência humana, problemas somente eqüacionáveis com a ingerência automática
do corpo espiritual nas funções do veículo físico, porque os fenômenos que lhe
são consequentes se graduam em tantas fases diversas que o fisiologista, sem
noções do Espírito, abordá-los-á sempre com a perplexidade de quem atinge o
insolúvel.
Sabemos que para a subsistência do corpo físico é imprescindível a
constante permuta de substâncias, com incessante transformação de energia.
Substância e energia se conjugam para fornecer ao carro fisiológico os
recursos necessários ao crescimento ou à reparação do contínuo desgaste,
produzindo a força indispensável à existência e os recursos reguladores do
metabolismo. (...)
A ciência terrena não desconhece que o metabolismo guarda
a tendência de manter-se em estabilidade constante, tanto assim que,
reconhecidamente, a despesa de oxigênio e o teor de glicemia em jejum revelam
quase nenhuma diferença de dia para dia.
É que o corpo espiritual, comandando o corpo físico, sana
espontaneamente, quando harmonizado em suas próprias funções, todos os
desequilíbrios acidentais nos processos metabólicos, presidindo as reações do
campo nutritivo comum.
Não ignoramos, desse modo, que desde a experiência carnal
o homem se alimenta muito mais pela respiração, colhendo o alimento de volume simplesmente como
recurso complementar de fornecimento plástico e energético, para o setor das
calorias necessárias à massa corpórea e à distribuição dos potenciais de força
nos variados departamentos orgânicos.
Abandonado o envoltório físico na desencarnação, se o
psicossoma está profundamente arraigado às sensações terrestres, sobrevém ao
Espírito a necessidade inquietante de prosseguir atrelado ao mundo biológico
que lhe é familiar, e, quando não a supera ao preço do próprio esforço, no
auto-reajustamento, provoca os fenômenos da simbiose psíquica, que o levam a
conviver, temporariamente, no halo vital daqueles encarnados com os quais se
afine, quando não promove a obsessão espetacular.
Na maioria das vezes, os desencarnados em crise dessa
ordem são conduzidos pelos agentes da Bondade Divina aos centros de reeducação
do Plano Espiritual, onde encontram alimentação semelhante à da Terra, porém
fluídica, recebendo-a em porções adequadas até que se adaptem aos sistemas de
sustentação da Esfera Superior, em cujos círculos a tomada de substância é
tanto menor e tanto mais leve quanto maior se evidencie o enobrecimento da
alma, porqüanto, pela difusão cutânea, o corpo espiritual, através de sua
extrema porosidade, nutre-se de produtos sutilizados ou sínteses
quimioeletromagnéticas, hauridas no reservatório da Natureza e no intercâmbio
de raios vitalizantes e reconstituintes do amor com que os seres se sustentam
entre si.
Essa alimentação psíquica, por intermédio das projeções
magnéticas trocadas entre aqueles que se amam, é muito mais importante que o
nutricionista do mundo possa imaginar, de vez que, por ela, se origina a ideal
euforia orgânica e mental da personalidade. Daí porque toda criatura tem
necessidade de amar e receber amor para que se lhe mantenha o equilíbrio geral.
De qualquer modo, porém, o corpo espiritual com alguma
provisão de substância específica ou simplesmente sem ela, quando já consiga
valer-se apenas da difusão cutânea para refazer seus potenciais energéticos,
conta com os processos da assimilação e da desassimilação dos recursos que lhe
são peculiares, não prescindindo do trabalho de exsudação dos resíduos, pela
epiderme ou pelos emunctórios normais, compreendendo-se, no entanto, que pela
harmonia de nível, nas operações nutritivas, e pela essencialização dos elementos absorvidos, não existem para o
veículo psicossomático determinados excessos e inconveniências dos sólidos e
líquidos da excreta comum.
Emunctório - s.m. Órgão, abertura natural ou
artificial do corpo, que dá saída aos produtos das secreções e aos humores.
Missionários da Luz, André
Luiz/Chico Xavier, Cap. 11, Intercessão
A casa da pobre viúva localizava-se em
rua modesta e, embora relativamente confortável, parecia habitada por muitas
entidades de condição inferior, o que observei sem dificuldade, pelo movimento
de entradas e saídas, antes mesmo de nossa penetração no ambiente doméstico.
Entramos sem que os desencarnados infelizes nos identificassem a presença em
virtude do baixo padrão vibratório que lhes caracterizava as percepções. O
quadro, porém, era doloroso de ver-se. A família, constituída da viúva, três
filhos e um casal de velhos, permanecia à mesa de refeições, no almoço muito
simples. Entretanto, um fato, até então inédito para mim, feriu-me a
observação: seis entidades envolvidas em círculos escuros acompanhavam-nos ao
repasto, como se estivessem tomando alimentos por absorção.
- O. meu Deus! – exclamei, aturdido,
dirigindo-me ao instrutor - será crível? Desencarnados à mesa?
Alexandre replicou, tranqüilo:
- Meu amigo, os quadros de viciação
mental, ignorância e sofrimento nos lares sem equilíbrio religioso, são muito
grandes. Onde não existe organização espiritual, não há defesas da paz de
espírito. Isto é intuitivo para todos os que estimem o reto pensamento.
Após ligeira pausa em que fixava,
compadecido, a paisagem interior, prosseguiu:
- Os que desencarnam em condições de
excessivo apego aos que deixaram na Crosta, neles encontrando as mesmas
algemas, quase sempre se mantêm ligados a casa, às situações domésticas aos
fluidos vitais da família. Alimentam-se com a parentela e dormem nos mesmos
aposentos onde se desligaram do corpo físico.
- Mas chegam a se alimentar, de fato,
utilizando os mesmos acepipes de outro tempo? - indaguei, espantado, ao ver a
satisfação das entidades congregadas ali, absorvendo gostosamente as emanações
dos pratos fumegantes.
Alexandre sorriu e acrescentou:
- Tanta admiração, somente por vê-los
tomando alimentos pelas narinas? E nós outros? Desconhece você, porventura, que
o próprio homem encarnado recebe mais de setenta per cento da alimentação comum
através de princípios atmosféricos, captados pelos condutos respiratórios? Você
não ignora também que as substâncias cozidas ao fogo sofrem profunda
desintegração. Ora, os nossos irmãos, viciados nas sensações fisiológicas,
encontram nos elementos desintegrados o mesmo sabor que experimentavam quando
em uso do envoltório carnal.
- No entanto - ponderei -, parece
desagradável tomar refeições, obrigando-nos à companhia inevitável de
desconhecidos e, mormente desconhecidos da espécie que temos sob os olhos.
- Mas você não pode esquecer - aduziu
o orientador - que não se trata de gente anônima.
Estamos vendo familiares diversos, que
os próprios encarnados retêm com as suas pesadas vibrações de apego doentio.
(...)
Missionários da Luz, André
Luiz/Chico Xavier, Cap. 11, Intercessão
Em pouco tempo, distanciando-nos dos núcleos
suburbanos, encontramo-nos nas vizinhanças de grande matadouro.
Minha surpresa não tinha limites,
porque observei a atitude de vigilância assumida pelo meu orientador, que
penetrou firmemente a larga porta de entrada. Pelas vibrações ambientes, reconheci
que o lugar era dos mais desagradáveis que conhecera, até então, em minha nova
fase de esforço espiritual. Seguindo Alexandre de muito perto, via numerosos
grupos de entidades francamente inferiores que se alojavam aqui e ali. Diante
do local em que se processava a matança dos bovinos, percebi um quadro
estarrecedor. Grande número de desencarnados, em lastimáveis condições,
atiravam-se aos borbotões de sangue vivo, como se procurassem beber o líquido
em sede devoradora...
Alexandre percebera o assombro
doloroso que se apossara de mim e esclareceu-me com serenidade:
- Está observando, André? Estes
infelizes irmãos que nos não podem ver, pela deplorável situação de
embrutecimento e inferioridade, estão sugando as forças do plasma sanguíneo dos
animais. São famintos que causam piedade.
Poucas vezes, em toda a vida, eu
experimentara tamanha repugnância. As cenas mais tristes das zonas inferiores
que, até ali, pudera observar, não me haviam impressionado com tamanho amargor.
Desencarnados à procura de alimentos
daquela espécie? Matadouro cheio de entidades perversas? Que significava tudo
aquilo? Lembrei meus reduzidos estudos de História, remontando-me à época em
que as gerações primitivas ofereciam aos supostos deuses o sangue de touros e
cabritos. Estaria ali, naquele quadro horripilante, a representação antiga dos
sacrifícios em altares de pedra? Deixei que as primeiras impressões me
incandescessem o cérebro, a ponto de sentir, como noutro tempo, que minhas
idéias vagueavam em turbilhão.
Alexandre, contudo, solícito como
sempre, acercou-se mais carinhosamente de mim e explicou:
- Porque tamanha sensação de pavor,
meu amigo? Saia de si mesmo, quebre a concha da interpretação pessoal e venha
para o campo largo da justificação. Não visitamos, nós ambos, na esfera da
Crosta, os açougues mais diversos? Lembro-me de que em meu antigo lar terrestre
havia sempre grande contentamento familiar pela matança dos porcos. A carcaça
de carne e gordura significava abundância da cozinha e conforto do estômago.
Com o mesmo direito, acercam-se os desencarnados, tão inferiores quanto já o
fomos, dos animais mortos, cujo sangue fumegante lhes oferece vigorosos
elementos vitais. Sem dúvida, o quadro é lastimável; não nos compete, porém,
lavrar as condenações. Cada coisa, cada ser, cada alma, permanece no processo
evolutivo que lhe é próprio. E se já passamos pelas estações inferiores,
compreendendo como é difícil a melhoria no plano de elevação, devemos guardar a
disposição legítima de auxiliar sempre, mobilizando as melhores possibilidades
ao nosso alcance, a serviço do próximo.
Nosso
Lar, Cap. 10
-
Estamos no Bosque das Águas. Temos aqui uma das mais belas regiões de
"Nosso Lar". Trata-se de um dos locais prediletos para as excursões
dos amantes, que aqui vêm tecer as mais lindas promessas de amor e fidelidade,
para as experiências da Terra.
A
observação ensejava considerações muito interessantes, mas Lísias não me deu
azo a perguntas nesse particular. Indicando um edifício de enormes proporções,
esclareceu:
-
Ali é o grande reservatório da colônia. Todo o volume do Rio Azul, que temos à
vista, é absorvido em caixas imensas de distribuição. As águas que servem a
todas as atividades da colônia partem daqui. Em seguida, reúnem-se novamente,
abaixo dos serviços da Regeneração, e voltam a constituir o rio, que prossegue
o curso normal, rumo ao grande oceano de substâncias invisíveis para a Terra.
Percebendo-me
a indagação íntima, acrescentou:
-
Com efeito, a água aqui tem outra densidade. Muito mais tênue, pura, quase
fluídica.
Notando
as magníficas construções que me fronteavam, interroguei:
-
A que Ministério está afeto o serviço de distribuição?
-
Imagine - elucidou Lísias - que este é um dos raros serviços materiais do
Ministério da União Divina!
-
Que diz? - perguntei, ignorando como conciliar uma e outra coisa.
O
visitador sorriu e obtemperou prazenteiro:
-
Na Terra quase ninguém cogita seriamente de conhecer a importância da água. Em
"Nosso Lar", contudo, outros são os conhecimentos. Nos círculos
religiosos do planeta, ensinam que o Senhor criou as águas. Ora, é lógico que
todo serviço criado precisa de energias e braços para ser convenientemente
mantido. Nesta cidade espiritual, aprendemos a agradecer ao Pai e aos seus
divinos colaboradores semelhante dádiva. Conhecendo-a mais intimamente, sabemos
que a água é veículo dos mais poderosos para os fluidos de qualquer natureza.
Aqui, ela é empregada sobretudo como alimento e remédio. Há repartições no
Ministério do Auxílio absolutamente consagradas à manipulação de água pura, com
certos princípios suscetíveis de serem captados na luz do Sol e no magnetismo
espiritual. Na maioria das regiões da extensa colônia, o sistema de alimentação
tem aí suas bases. Acontece, porém, que só os Ministros da União Divina são
detentores do maior padrão de Espiritualidade Superior, entre nós, cabendo-lhes
a magnetização geral das águas do Rio Azul, a fim de que sirvam a todos os
habitantes de "Nosso Lar", com a pureza imprescindível. Fazem eles o
serviço inicial de limpeza e os institutos realizam trabalhos específicos, no
suprimento de substâncias alimentares e curativas.
Quando os diversos fios da corrente
se reúnem de novo, no ponto longínquo, oposto a este bosque, ausenta-se o rio
de nossa zona, conduzindo em seu seio nossas qualidades espirituais.
Eu
estava embevecido com as explicações.
-
No planeta - objetei -, jamais recebi elucidações desta natureza.
-
O homem é desatento, há muitos séculos - tornou Lísias -; o mar equilibra-lhe a
moradia planetária, o elemento aquoso fornece-lhe o corpo físico, a chuva
dá-lhe o pão, o rio organiza-lhe a cidade, a presença da água oferece-lhe a
bênção do lar e do serviço; entretanto, ele sempre se julga o absoluto
dominador do mundo, esquecendo que é filho do Altíssimo, antes de qualquer
consideração.
Virá
tempo, contudo, em que copiará nossos serviços, encarecendo a importância dessa
dádiva do Senhor.
Compreenderá,
então, que a água, como fluido criador, absorve, em cada lar, as
características mentais de seus moradores. A água, no mundo, meu amigo, não
somente carreia os resíduos dos corpos, mas também as expressões de nossa vida
mental. Será nociva nas mãos perversas, útil nas mãos generosas e, quando em
movimento, sua corrente não só espalhará bênção de vida, mas constituirá
igualmente um veículo da Providência Divina, absorvendo amarguras, ódios e
ansiedades dos homens, lavando-lhes a casa material e purificando-lhes a
atmosfera íntima.
Calou-se
o interlocutor em atitude reverente, enquanto meus olhos fixavam a corrente
tranqüila a despertar-me sublimes pensamentos.
Nosso Lar, Cap.18 - AMOR, ALIMENTO DAS ALMAS
Terminada a oração, chamou-nos à mesa a dona da casa, servindo caldo
reconfortante e frutas perfumadas, que mais pareciam concentrados de fluidos
deliciosos. Eminentemente surpreendido, ouvi a senhora Laura observar com
graça:
- Afinal, nossas refeições aqui são muito mais agradáveis que na Terra.
Há residências, em "Nosso Lar", que as dispensam quase por completo;
mas, nas zonas do Ministério do Auxílio, não podemos prescindir dos concentrados
fluídicos, tendo em vista os serviços pesados que as circunstâncias impõem.
Despendemos grande quantidade de energias. É necessário renovar provisões de
força.
- Isso, porém - ponderou uma das jovens -, não quer dizer que somente
nós, os funcionários do Auxílio e da Regeneração, vivamos a depender de
alimentos. Todos os Ministérios, inclusive o da União Divina, não os dispensam,
diferindo apenas a feição substancial. Na Comunicação e no Esclarecimento há
enorme dispêndio de frutos. Na Elevação o consumo de sucos e concentrados não é
reduzido, e, na União Divina, os fenômenos de alimentação atingem o
inimaginável.
Meu
olhar indagador ia de Lísias para a Senhora Laura, ansioso de explicações
imediatas. Sorriam todos da minha natural perplexidade, mas a mãe de Lísias
veio ao encontro dos meus desejos, explicando:
-
Nosso irmão talvez ainda ignore que o maior sustentáculo das criaturas é
justamente o amor. De quando em quando, recebemos em "Nosso Lar"
grandes comissões de instrutores, que ministram ensinamentos relativos à
nutrição espiritual. Todo sistema de alimentação, nas variadas esferas da vida,
tem no amor a base profunda. O alimento físico, mesmo aqui, propriamente
considerado, é simples problema de materialidade transitória, como no caso dos
veículos terrestres, necessitados de colaboração da graxa e do óleo. A alma, em
si, apenas se nutre de amor. Quanto mais nos elevarmos no plano evolutivo da
Criação, mais extensamente conheceremos essa verdade. Não lhe parece que o amor
divino seja o cibo do Universo?
Tais
elucidações confortavam-me sobremaneira. Percebendo-me a satisfação íntima,
Lísias interveio, acentuando:
-
Tudo se equilibra no amor infinito de Deus, e, quanto mais evolvido o ser
criado, mais sutil o processo de alimentação. O verme, no subsolo do planeta,
nutre-se essencialmente de terra. O grande animal colhe na planta os elementos
de manutenção, a exemplo da criança sugando o seio materno. O homem colhe o
fruto do vegetal, transforma-o segundo a exigência do paladar que lhe é próprio,
e serve-se dele à mesa do lar. Nós outros, criaturas desencarnadas,
necessitamos de substâncias suculentas, tendentes à condição fluídica, e o
processo será cada vez mais delicado, à medida que se intensifique a ascensão
individual.
Cibo - significa: alimento, comida, isca.
Nosso Lar, André Luiz/Chico Xavier, Cap.9 “PROBLEMA DE ALIMENTAÇÃO”
Enlevado na visão dos
jardins prodigiosos, pedi ao dedicado enfermeiro para descansar alguns minutos
num banco próximo. Lísias anuiu de bom grado.
Agradável sensação de
paz me felicitava o espírito. Caprichosos repuxos de água colorida
ziguezagueavam no ar, formando figuras encantadoras.
- Quem observa esta
colmeia imensa de serviço - ponderei - é induzido a examinar numerosos
problemas. E o abastecimento? Não tenho notícia de um Ministério da Economia...
- Antigamente -
explicou o paciente interlocutor - os serviços dessa natureza assumiam feição
mais destacada. Deliberou, porém, o atual Governador atenuar todas as
expressões de vida que nos recordassem os fenômenos puramente materiais. As
atividades de abastecimento ficaram, assim, reduzidas a simples serviço de
distribuição, sob o controle direto da Governadoria. Aliás, a providência
constitui medida das mais benéficas.
Rezam os anais que a
colônia, há um século, lutava com extremas dificuldades para adaptar os
habitantes às leis da simplicidade. Muitos recém-chegados ao "Nosso
Lar" duplicavam exigências. Queriam mesas lautas, bebidas excitantes,
dilatando velhos vícios terrenos. Apenas o Ministério da União Divina ficou
imune de tais abusos, pelas características que lhe são próprias; no entanto,
os demais viviam sobrecarregados de angustiosos problemas dessa ordem.
O Governador atual,
todavia, não poupou esforços. Tão logo assumiu obrigações administrativas, adotou
providências justas. Antigos missionários, daqui, puseram-me ao corrente de
curiosos acontecimentos.
Disseram-me que, a
pedido da Governadoria, vieram duzentos instrutores de uma esfera muito
elevada, a fim de espalharem novos conhecimentos, relativos à ciência da
respiração e da absorção de princípios vitais da atmosfera. Realizaram-se
assembléias numerosas. Alguns colaboradores técnicos de "Nosso Lar"
manifestavam-se contrários, alegando que a cidade é de transição e que não
seria justo, nem possível, desambientar imediatamente os homens desencarnados,
mediante exigências desse teor, sem grave perigo para suas organizações
espirituais. O Governador, contudo, não desanimou. Prosseguiram as reuniões,
providências e atividades, durante trinta anos consecutivos. Algumas entidades
eminentes chegaram a formular protestos de caráter público, reclamando. Por
mais de dez vezes, o Ministério do Auxílio esteve superlotado de enfermos, onde
se confessavam vítimas do novo sistema de alimentação deficiente. Nesses períodos,
os opositores da redução multiplicavam acusações. O Governador, porém, jamais
castigou alguém. Convocava os adversários da medida a palácio e expunha-lhes,
paternalmente, os projetos e finalidades do regime; destacava a superioridade
dos métodos de espiritualização, facilitava aos mais rebeldes inimigos do novo
processo variadas excursões de estudo, em planos mais elevados que o nosso,
ganhando, assim, maior número de adeptos.
Ante pausa mais
longa, reclamei, interessado:
- Continue, por
favor, meu caro Lísias. Como terminou a luta edificante?
- Depois de vinte e
um anos de perseverantes demonstrações, por parte da Governadoria, aderiu o
Ministério da Elevação, passando a abastecer-se apenas do indispensável. O
mesmo não aconteceu com o Ministério do Esclarecimento, que demorou muito a
assumir compromisso, em vista dos numerosos espíritos dedicados às ciências
matemáticas, que ali trabalham. Eram eles os mais teimosos adversários.
Mecanizados nos processos de proteínas e carboidratos, imprescindíveis aos
veículos físicos, não cediam terreno nas concepções correspondentes daqui.
Semanalmente, enviavam ao Governador longas observações e advertências,
repletas de análises e numerações, atingindo, por vezes, a imprudência. O velho
governante, contudo, nunca agiu por si só. Requisitou assistência de nobres
mentores, que nos orientam através do Ministério da União Divina, e jamais
deixou o menor boletim de esclarecimento sem exame minucioso. Enquanto
argumentavam os cientistas e a Governadoria contemporizava, formaram-se
perigosos distúrbios no antigo Departamento de Regeneração, hoje transformado
em Ministério. Encorajados pela rebeldia dos cooperadores do Esclarecimento, os
espíritos menos elevados que ali se recolhiam entregaram-se a condenáveis
manifestações. Tudo isso provocou enormes cisões nos órgãos coletivos de
"Nosso Lar", dando ensejo a perigoso assalto das multidões obscuras
do Umbral, que tentaram invadir a cidade, aproveitando brechas nos serviços de
Regeneração, onde grande número de colaboradores entretinha certo intercâmbio
clandestino, em virtude dos vícios de alimentação. Dado o alarme, o Governador
não se perturbou.
Terríveis ameaças
pairavam sobre todos. Ele, porém, solicitou audiência ao Ministério da União
Divina e, depois de ouvir o nosso mais alto Conselho, mandou fechar
provisoriamente o Ministério da Comunicação, determinou funcionassem todos os
calabouços da Regeneração, para isolamento dos recalcitrantes, advertiu o
Ministério do Esclarecimento, cujas impertinências suportou mais de trinta anos
consecutivos, proibiu temporariamente os auxílios às regiões inferiores, e,
pela primeira vez na sua administração, mandou ligar as baterias elétricas das
muralhas da cidade, para emissão de dardos magnéticos a serviço da defesa
comum. Não houve combate, nem ofensiva da colônia, mas resistência resoluta.
Por mais de seis meses, os serviços de alimentação, em "Nosso Lar",
foram reduzidos à inalação de princípios vitais da atmosfera, através da
respiração, e água misturada a elementos solares, elétricos e magnéticos. A
colônia ficou, então, sabendo o que vem a ser a indignação do espírito manso e
justo. Findo o período mais agudo, a Governadoria estava vitoriosa. O próprio
Ministério do Esclarecimento reconheceu o erro e cooperou nos trabalhos de
reajustamento. Houve, nesse comenos, regozijo público e dizem que, em meio da
alegria geral, o Governador chorou sensibilizado, declarando que a compreensão
geral constituía o verdadeiro prêmio ao seu coração. A cidade voltou ao
movimento normal. O antigo Departamento da Regeneração foi convertido em
Ministério. Desde então, só existe maior suprimento de substâncias alimentícias
que lembram a Terra, nos Ministérios da Regeneração e do Auxílio, onde há
sempre grande número de necessitados.
Nos demais há somente
o indispensável, isto é, todo o serviço de alimentação obedece a inexcedível
sobriedade. Presentemente, todos reconhecem que a suposta impertinência do
Governador representou medida de elevado alcance para nossa libertação
espiritual. Reduziu-se a expressão física e surgiu maravilhoso coeficiente de
espiritualidade.
Lísias silenciou e eu
me entreguei a profundos pensamentos sobre a grande lição.
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