segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Desdobramento

Casa Espírita Missionários da Luz 
ESDE3 –  22/07/2014

Tema:  Desdobramento

Objetivos:
- Estudar algumas características do desdobramento


Bibliografia:  

  • A Gênese, Cap. XIV, 22 à 26;
  • O Livro dos Espíritos, Cap. VIII – 2ª.Parte, Emancipação da Alma
  • O Livro dos Médiuns, Cap. XIV, itens 172 à 174 (MÉDIUNS SONAMBÚLICOS)
  • Fatos de dupla vista e lucidez sonambúlica relatados na Revue Spirite: janeiro de 1858, pág. 25; novembro de 1858, pág. 313; julho de 1861, pág. 193; novembro de 1865, pág. 352.
  •  André Luiz – Francisco Cândido Xavier  - Nos domínios da Mediunidade, Cap. 11
  •  André Luiz – Francisco Cândido Xavier - Mecanismos da Mediunidade, Cap.21
  • Diversidade dos Carismas, Volume I, Cap. V e VI – Hermínio C. Miranda
  • Desafios da Mediunidade – Raul Teixeira/Camilo, itens 35 e 37
  • Recordações da Mediunidade, Cap. 7, “Amigo Ignorado”, Yvonne Pereira


Material:

Desenvolvimento:


1. Prece Inicial.
2.Leitura e comentários da página do Evangelho da noite;
3.Estudar algumas perguntas de O LE sobre a Emancipação da Alma:
Pergs,
401. Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
402. Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?
407. É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito?
 412 - Pode a atividade do Espírito, durante o repouso, ou o sono corporal, fatigar o corpo?
425. O sonambulismo natural tem alguma relação com os sonhos? Como explicá-lo?
426. O chamado sonambulismo magnético tem alguma relação com o sonambulismo natural?
447. O fenômeno a que se dá a designação de dupla vista tem alguma relação com o sonho e o sonambulismo?
450-a) — Esta faculdade tem qualquer ligação com a organização física?
               

4.Distribuir cópias de trechos sobre exemplos de desdobramentos nos livros:
      - Recordações da Mediunidade – anímico, perigo das regiões inferiores
      - Diversidade dos Carismas, Vol I, Cap V (Desdobramento), item 6 (Mecanismo do Desdobramento) – formas de desdobra-se - animismo
      - Diversidade dos Carismas, Vol I, Cap VI (Desdobramento como Pré-Condição do Trabalho Mediúnico), item 3 (Desdobramento em desdobramento), 4 e 5

      - Nos Domínios da Mediunidade – Cap. 11 (Desdobramento em Serviço)


5. Exibição Prece final


      ANEXOS

Mecanismos da Mediunidade, Cap. 21 – “Desdobramento”

NO SONO ARTIFICIAL — Enfileirando algu­mas anotações com respeito ao desdobramento da personalidade, consoante as nossas referências ao hipnotismo comum, recordemos ainda o fenômeno da hipnose profunda, entre o magnetizador e o sen­sitivo.
Quem possa observar além do campo físico, reparará, à medida se afirme a ordem do hipnotizador, que se escapa abundantemente do tórax do «sujet», caído em transe, um vapor branquicento que, em se condensando qual nuvem inesperada, se converte, habitualmente à esquerda do corpo car­nal, numa duplicata dele próprio, quase sempre em proporções ligeiramente dilatadas.
Tal seja o potencial mais amplo da vontade que o dirige, o sensitivo, desligado da veste física, passa a movimentar-se e, ausentando-se muita vez do recinto da experiência, atendendo a determina­ções recebidas, pode efetuar apontamentos a longa distância ou transmitir notícias, com vistas a cer­tos fins.
Seguindo-lhe a excursão, vê-lo-emos, porém, constantemente ligado ao corpo somático por fio tenuíssimo, fio este muito superficialmente compa­rável, de certo modo, à onda do radar, que pode vencer imensuráveis distâncias, voltando, inalterá­vel, ao centro emissor, não obstante sabermos que semelhante confronto resulta de todo impróprio para o fenômeno que estudamos no campo da in­teligência.
Nessa fase, o paciente executa as ordens que recebeu, desde que não constituam desrespeito evi­dente à sua dignidade moral, trazendo informes valiosos para as realidades do Espírito.
Notemos que aí, enquanto o carro fisiológico se detém, resfolegante e imóvel, a individualidade real, embora teleguiada, evidencia plena integrida­de de pensamento, transmitindo, de longe, avisos e anotações através dos órgãos vocais, em circuns­tâncias comparáveis aos implementos do alto-fa­lante, num aparelho radiofônico.
À semelhança do fluxo energético da circulação sanguínea, incessante no corpo denso, a onda men­tal é inestancável no Espírito.
Esmaecem-se as impressões nervosas e dorme o cérebro de carne, mas o coração prossegue ativo, no envoltório somático, e o pensamento vibra, cons­tante, no cérebro perispirítico.

NO SONO NATURAL — Na maioria das si­tuações, a criatura, ainda extremamente aparentada com a animalidade primitivista, tem a mente como que voltada para si mesma, em qualquer expressão de descanso, tomando o sono para claustro reman­çoso das impressões que lhe são agradáveis, qual criança que, à solta, procura simplesmente o objeto de seus caprichos.
Nesse ensejo, configura na onda mental que lhe é característica as imagens com que se acalenta, sacando da memória a visualização dos pró­prios desejos, imitando alguém que improvisasse miragens, na antecipação de acontecimentos que aspira a concretizar.
Atreita ao narcisismo, tão logo demande o sono, quase sempre se detém justaposta ao veículo físi­co, como acontece ao condutor que repousa ao pé do carro que dirige, entregando-se à volúpia men­tal com que alimenta os próprios impulsos afetivos, enquanto a máquina se refaz.
Ensimesmada, a alma, usando os recursos da visão profunda, localizada nos fulcros do diencéfalo, e, plenamente desacolchetada do corpo carnal, por temporário desnervamento, não apenas se retem­pera nas telas mentais com que preliba satisfações distantes, mas experimenta de igual modo o resul­tado dos próprios abusos, suportando o desconforto das vísceras injuriadas por ele mesmo ou a inquie­tude dos órgãos que desrespeita, quando não pa­dece a presença de remorsos constrangedores, àface dos atos reprováveis que pratica, porqüanto ninguém se livra, no próprio pensamento, dos re­flexos de si mesmo.

SONO E SONHO — Qual ocorre no animal de evolução superior, no homem de evolução positiva­mente inferior o desdobramento da individualidade, por intermédio do sono, é quase que absoluto es­tágio de mero refazimento físico.
No primeiro, em que a onda mental é sim­plesmente fraca emissão de forças fragmentárias, o sonho é puro reflexo das atividades fisiológicas. No segundo, em que a onda mental está em fase iniciante de expansão, o sonho, por muito tempo, será invariável ação reflexa de seu próprio mundo consciencial ou afetivo.
Evolui, no entanto, o pensamento na criatura que amadurece, espiritualmente, através da repercussão.
Como no caso do sensitivo que, fora do envol­tório físico, vai até ao local sugerido pelo magne­tizador, tomando-se a ordem determinante da hip­nose artificial pelo reflexo condicionado que lhe comanda as ideias, a criatura na hipnose natural, fora do veículo somático, possui no próprio desejo o reflexo condicionado que lhe circunscreverá o âm­bito da ação além da roupagem fisiológica, alon­gando-se até ao local em que se lhe vincula o pensamento.
O homem do campo, no repouso físico, supera os fenômenos hipnagógicos e volta à gleba que se­meou, contemplando aí, em Espírito, a plantação que lhe recolhe o carinho; o artista regressa à obra a que se consagra, mentalizando-lhe o aprimora­mento; o espírito maternal se aconchega ao pé dos filhinhos que a vida lhe confia, e o delinqüente retorna ao lugar onde se encarcera a dor do seu arrependimento.
Atravessada a faixa das chamadas imagens eutópticas, exteriorizam de si mesmos os quadros mentais pertinentes à atividade em que se concen­tram, com os quais angariam a atenção das Inteligências desencarnadas que com eles se afinam, recolhendo sugestões para o trabalho em que se empenham, muito embora, à distância da veste so­mática, frequentemente procedam ao modo de crian­ças conduzidas ao ambiente de pessoas adultas, mantendo-se entre as ideias superiores que rece­bem e as ideias infantis que lhes são próprias, do que resulta, na maioria das vezes, o aspecto caótico das reminiscências que conseguem guardar, ao retornarem à vigília.
Nesse estágio evolutivo, permanecem milhões de pessoas — representando a faixa de evolução mediana da Humanidade — rendendo-se, cada dia, ao impositivo do sono ou hipnose natural de refa­zimento, em que se desdobram, mecamicamente, en­trando, fora do indumento carnal, em sintonia com as entidades que se lhes revelam afins, tanto na ação construtiva do bem, quanto na ação deletéria do mal, entretecendo-se-lhes o caminho da experiên­cia que lhes é necessária à sublimação no porvir.

CONCENTRAÇÃO E DESDOBRAMENTO —Quantos se entregam ao labor da arte, atraem, du­rante o sono, as inspirações para a obra que reali­zam, compreendendo-se que os Espíritos enobrecidos assimilam do contacto com as Inteligências supe­riores os motivos corretos e brilhantes que lhes palpitam nas criações, ao passo que as mentes sar­cásticas ou criminosas, pelo mesmo processo, apro­priam-se dos temas infelizes com que se acomodam, acordando a ironia e a irresponsabilidade naqueles que se lhes ajustam aos pensamentos, pelo traba­lho a que se dedicam.
Desdobrando-se no sono vulgar, a criatura se­gue o rumo da própria concentração, procurando, automàticamente, fora do corpo de carne, os obje­tivos que se casam com os seus interesses evidentes ou escusos.
Desse modo, mencionando apenas um exemplo dos contactos a que aludimos, determinado escritor exporá ideias edificantes e originais no que tange ao serviço do bem, induzindo os leitores à elevação de nível moral, ao passo que outro exibirá elemen­tos aviltantes, alinhando escárnio ou lodo sutil com que corrompe as emoções de quantos se lhe entro­sam à maneira de ser.

INSPIRAÇÃO E DESDOBRAMENTO — Dor­mindo o corpo denso, continua vigilante a onda men­tal de cada um — presidindo ao sono ativo, quando registra no cérebro dormente as impressões do Es­pírito desligado das células físicas, e ao sono passi­vo, quando a mente, nessa condição, se desinteressa, de todo, da esfera carnal.
Nessa posição, sintoniza-se com as oscilações de companheiros desencarnados ou não, com as quais se harmonize, trazendo para a vigília no car­ro de matéria densa, em forma de inspiração, os resultados do intercâmbio que levou a efeito, porqüanto raramente consegue conscientizar as ativi­dades que empreendeu no tempo de sono.
Muitos apelos do plano terrestre são atendidos, integralmente ou em parte, nessa fase de tempo.
Formulado esse ou aquele pedido ao compa­nheiro desencarnado, habitualmente surge a respos­ta quando o solicitante se acha desligado do vaso físico. Entretanto, como nem sempre o cérebro fí­sico está em posição de fixar o encontro realizado ou a informação recebida, os remanescentes da ação espiritual, entre encarnados e desencarnados, permanecem, naqueles Espíritos que ainda se demo­rem chumbados à Terra, à feição de quadros sim­bólicos ou de fragmentárias reminiscências, quando não sejam na forma de súbita intuição, a expres­sarem, de certa forma, o socorro parcial ou total que se mostrem capazes de receber.

DESDOBRAMENTO E MEDIUNIDADE — As ocorrências referidas vigem na conjugação de ondas mentais, porque apenas excepcionalmente consegue a criatura encarnada desvencilhar-se de todas as amarras naturais a que se prende, adstrita as conveniências e necessidades de redenção ou evolução que lhe dizem respeito.
É imperioso notar, porém, que considerável número de pessoas, principalmente as que se ades­traram para esse fim, efetuam incursões nos pla­nos do Espírito, transformando-se, muitas vezes, em preciosos instrumentos dos Benfeitores da Espi­ritualidade, como oficiais de ligação entre a esfera física e a esfera extrafísica.
Entre os médiuns dessa categoria, surpreende­remos todos os grandes místicos da fé, portadores de valiosas observações e revelações para quan­tos se decidam marchar ao encontro da Verdade e do Bem.
Cumpre destacar, entretanto, a importância do estudo para quantos se vejam chamados a semelhante gênero de serviço, porque, segundo a Lei do Campo Mental, cada Espírito sômente logrará chegar, do ponto de vista da compreensão neces­sária, até onde se lhe paire o discernimento.


Recordações da mediunidade – Yvonne Pereira, Cap. 7

Ora, há cerca de dois anos, certo fenômeno de desdobramento espontâneo e, por isso mesmo, não assis­tido pela vigilância dos mentores espirituais, e veri­ficado à revelia até da minha própria vontade, levou-me a volitar pelo Espaço em plano baixo, durante uma linda noite de plenilúnio. Em tais circunstâncias caberá ao médium precatar-se contra possíveis acidentes, man­tendo-se em constante correspondência mental-vibrató­ria com seus mentores invisíveis, visto que ele não pode desconhecer a grande responsabilidade que lhe pesa frente ao grave acontecimento.
Conforme afirmação anterior, fora do corpo carnal tudo se afigura mais perfeito e lindo ao grau de pene­tração e compreensão do nosso espírito. O encanto da noite, pois a poesia se irradiava do luar, que docemente aclarava a paisagem, a par da luz azul que penetra todo o planeta e parece tratar-se das vibrações cósmi­cas; o perfume da flora, que rescendia herôicamente pela Natureza, certamente excitada pelas irradiações magnéticas da fase lunar e sensibilizando o meu olfato, e a reconfortante harmonia que se desprendia de todas as coisas, arrebataram minha imaginação, conceden­do-me bem-estar e alegria. Mas em vez de elevar o pensamento a Deus, louvando-o pelo encantamento que me era dado desfrutar, penetrando o esplendor da Na­tureza, e assim atraindo a assistência dos amigos espi­rituais, para junto deles algo tentar de útil a favor do próximo ou da própria Doutrina, entrei a volitar displicentemente sob a luz do luar, a cantar e a dançar “ballet” clássico, bradando, louca de alegria, de quan­do em vez:
— Oh! Como é bom ser livre! Quisera libertar-me de vez, para expandir intensamente os meus desejos:
E assim permaneci durante algum tempo, que não posso precisar se breve ou longo, esgotando-me sem necessidade, à mercê de um transe mediúnico perigoso, sem sequer me lembrar da existência dos Guias Espi­rituais.
Subitamente fui baixando de plano, sem forças para continuar equilibrada na atmosfera, até que toquei o solo. Então, não mais me pude erguer porque as vibra­ções diminuíram de intensidade, em vista da frivoli­dade dos pensamentos, os quais retardaram o meu sis­tema de energias mentais, e estas são a origem de todos os acontecimentos nos planos espirituais, sejam estes elevados ou inferiores. Reconheci-me perdida num deserto de colinas circuladas de montanhas mais altas.
Tratava-se de local solitário e impressionante pela vastidão, paisagem tipicamente brasileira, que mais atemorizava pelo silêncio em que se envolvia. Adveio-me penosa sensação de abandono e perigo. Eu me sentia como que tolhida por uma pressão hipnótica, pois não podia raciocinar, não podia orar. Dir-se-ia local de vibra­ções pesadas, infelicitado por aglomeração de fantas­mas obsessores, que ali estabelecessem o seu quartel general, que me atraíam sempre, quais ímãs poderosos, para trechos mais lúgubres. Sentia estranha pressão no cérebro e singular alquebramento de forças de reação, mas ouvia o pipilar dos grilos e o coaxar das rãs, e silvos finos e agudos me surpreendiam, tendo neles reconhecido, atemorizada, o sinal inconfundível das cobras e serpentes durante o seu amistoso conluio noturno. Distendeu-se a minha visão e então consegui abranger vasto espaço transitado por dezenas desses terríveis ofídios movimentando-se em agitação suges­tiva. Até que atrações mais poderosas, invencíveis, me arrastaram para uma grota repulsiva, seguida de mata­gal profuso e tenebroso. Meu coração pulsava de terror e tremuras incontroláveis me perturbavam o perispí­rito, sem que me fôsse possível qualquer movimento de reação. Mas, em dado momento, surgiu à minha frente o jovem índio acima citado, que já por várias vezes me socorrera em passadas situações igualmente críticas. Encontrando-me, ele tomou do meu braço, de­monstrando pressa e inquietação, apertou-o com força e exclamou, com sua «voz» doce e muito baixa, como sempre:
— Que vieste fazer aqui, minha filhinha, estás louca?... Corres grande perigo neste local...
Não revelou a natureza do perigo, mas elevou-se no espaço, segurando-me fortemente pelo braço, e des­feriu voo rápido e seguro, atravessando o imenso de­serto de colinas, para além das montanhas. Senti, reavivando minhas energias, todo o estranho vigor que se desprendia dele. E ainda hoje me admiro do equilí­brio, da leveza, da rapidez desse voo, que a tempo me socorreu e revigorou. O bom amigo trouxe-me até o quarto de dormir, ràpidamente, sem que me fôsse possível apreciar o trajeto completo, para verificar em que região do Brasil teria eu ido pairar.
Contemplei meu próprio corpo enrijecido e meio desmaiado sob a ação do transe cataléptico parcial, estirado sobre o leito. O caridoso amigo fêz-me reto­má-lo com suavidade, servindo-se da mesma técnica dos demais protetores espirituais, e infundindo-me energias reparadoras.
Despertando lentamente, pude ouvi-lo ain­da, como em afetuosa advertência:
— Não faças mais isso, é muito perigoso. Será necessário a máxima vigilância nessas ocasiões. E agora fica em paz e repousa...
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Nos Domínios da Mediunidade – André Luiz, Cap. 11 - Desdobramento em serviço

       Chegara a vez do médium Antônio Castro.
       Profundamente concentrado, denotava a con­fiança com que se oferecia aos objetivos de serviço.
       Aproximou-se dele o irmão Clementino e, à ma­neira do magnetizador comum, impôs-lhe as mãos aplicando-lhe passes de longo circuito.
       Castro como que adormeceu devagarinho, in­teiriçando-se-lhe os membros.
       Do tórax emanava com abundância um vapor esbranquiçado que, em se acumulando à feição de uma nuvem, depressa se transformou, à esquerda do corpo denso, numa duplicata do médium, em tamanho ligeiramente maior.
       Nosso amigo como que se revelava mais de­senvolvido, apresentando todas as particularidades de sua forma física, apreciavelmente dilatadas.
       Desejei ensaiar algumas indagações, contudo, a dignidade do serviço impunha-me silêncio.
       O diretor espiritual da casa submetia o me­dianeiro a delicada intervenção magnética que não seria lícito perturbar ou interromper.
O médium, assim desligado do veículo carnal, afastou-se dois passos, deixando ver o cordão va­poroso que o prendia ao campo somático.
Enquanto o equipamento fisiológico descansa­va, imóvel, Castro, tateante e assombrado, surgia, junto de nós, numa cópia estranha de si mesmo. porqüanto, além de maior em sua configuração ex­terior, apresentava-se azulada à direita e alaran­jada à esquerda.
Tentou movimentar-se, contudo, parecia sen­tir-se pesado e inquieto...
Clementino renovou as operações magnéticas e Castro, desdobrado, recuou, como que se justa-pondo novamente ao corpo físico.
Verifiquei, então, que desse contacto resultou singular diferença. O corpo carnal engulira, instintivamente, certas faixas de força que imprimiam manifesta irregularidade ao perispírito, absorven­do-as de maneira incompreensível para mim.
Desde esse instante, o companheiro, fora do vaso de matéria densa, guardou o porte que lhe era característico.
Era, agora, bem ele mesmo, sem qualquer de­formidade, leve e ágil, embora prosseguisse encadeado ao envoltório físico pelo laço aeriforme, que parecia mais adelgaçado e mais luminoso, à me­dida que Castro-Espírito se movimentava em nosso meio.
Enquanto Clementino o encorajava com pala­vras amigas, o nosso orientador, certamente assinalando-nos a curiosidade, deu-se pressa em es­clarecer:
— Com o auxílio do supervisor, o médium foi convenientemente exteriorizado. A principio, seu perispírito ou “corpo astral” estava revestido com os eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, conhecidos aqueles, em seu conjunto, como sendo o «duplo etérico», for­mado por emanações neuropsíquicas que perten­cem ao campo fisiológico e que, por isso mesmo, não conseguem maior afastamento da organização terrestre, destinando-se à desintegração, tanto quan­to ocorre ao instrumento carnal, por ocasião da morte renovadora. Para melhor ajustar-se ao nos­so ambiente, Castro devolveu essas energias ao corpo inerme, garantindo assim o calor indispen­sável à colmeia celular e desembaraçando-se, tan­to quanto possível, para entrar no serviço que o aguarda.
— Ah! — disse Hilário, com expressão admi­rativa — aqui vemos, desse modo, a exteriorização da sensibilidade!...
— Sim, se algum pesquisador humano ferisse o espaço em que se situa a organização perispirítica do nosso amigo, registraria ele, de imediato, a dor do golpe que se lhe desfechasse, queixando-se disso, através da língua física, porque, não obs­tante liberto do vaso somático, prossegue em co­munhão com ele, por intermédio do laço fluídico de ligação. (...)
O  médium, mais à vontade fora do corpo den­so, recebia as instruções que Clementino lhe administrava, paternal.
Dois guardas aproximaram-se dele e lhe apli­caram à cabeça um capacete em forma de antolhos.
— Para a viagem que fará — avisou-nos o Assistente —, Castro não deve dispersar a atenção. Incipiente ainda nesse gênero de tarefa, precisa instrumentação adequada para reduzir a própria capacidade de observação, de modo a interferir o menos possível na tarefa a executar.
Vimos o rapaz plenamente desdobrado alçar-se ao espaço, de mãos dadas com ambos os vigilantes.
O trio volitou em sentido oblíquo, sob nossa confiante expectação.
Desde esse momento, demonstrando manter se­gura comunhão com o veículo carnal, ouvimo-lo dizer através da boca física:
— Seguimos por um trilho estreito e escuro!
       Oh! tenho medo, muito medo... Rodrigo e Sérgio amparam-me na excursão, mas sinto receio!... Tenho a idéia de que nos achamos em pleno ne­voeiro...
Estampando no rosto sinais de angústia e es­tranheza, continuava:
— Que noite é esta?... A escuridão parece pesar sobre nós!... Ai de mim! Vejo formas des­conhecidas agitando-se em baixo, sob nossos pés!... Quero voltar! voltar!... Não posso prosseguir!... não suporto, não suporto!...
Mas Raul, sob a inspiração do mentor da casa, elevou o padrão vibratório do conjunto, numa pre­ce fervorosa em que rogava do Alto forças mul­tiplicadas para o irmão em serviço.
Junto de nós, Aulus informou:
— A oração do grupo, acompanhando-o na excursão e transmitida a ele, de imediato, consti­tui-lhe abençoado tônico espiritual.
— Ah! sim, meus amigos — prosseguia Cas­tro, qual se o corpo físico lhe fosse um aparelho radiofônico para comunicações a distância —, a prece de vocês atua sobre mim como se fosse um chuveiro de luz... Agradeço-lhes o benefício!... Estou reconfortado... Avançarei!...
Interpretando os fatos sob nossa observação, o Assistente explicou:
— Raros Espíritos encarnados conseguem ab­soluto domínio de si próprios, em romagens de Serviço edificante fora do carro de matéria densa. Habituados à orientação pelo corpo físico, ante qualquer surpresa menos agradável, na esfera de fenômenos inabituais, procuram instintivamente o retorno ao vaso carnal, à maneira do molusco que se refugia na própria concha, diante de qualquer impressão em desacordo com os seus movimentos rotineiros. Castro, porém, será treinado para a prestação de valioso concurso aos enfermos de qual­quer posição.
Enquanto assinalávamos o apontamento, a voz do médium se elevava no ar, vigorosa e cristalina.
— Que alívio! Rompemos a barreira de tre­vas!... A atmosfera está embalsamada de leve aro­ma!... Brilham as estrelas novamente... Oh! éa cidade de luz... Torres fulgurantes elevam-se para o firmamento! Estamos penetrando um gran­de parque!... Oh! meu Deus, quem vejo aqui a sorrir-me!... É o nosso Oliveira! Como está dife­rente! Mais moço, muito mais moço...
Lágrimas copiosas banharam o rosto do mé­dium, comovendo-nos a todos.
No gesto de quem se entregava a um abraço carinhoso, de coração a coração, o medianeiro con­tinuou:
— Que felicidade! que felicidade!... Oliveira, meu amigo, que saudades de você!... por que razão teríamos ficado assim, sem a sua cooperação? Sabemos que a Vontade do Senhor deve prevalecer, mas a distância tem sido para nós um tormento!... a lembrança de seu carinho vive em nossa casa... Seu trabalho permanece entre nós como inesque­cível exemplo de amor cristão!... Volte! venha incentivar-nos na sementeira do bem!... amado amigo, nós sabemos que a morte é a própria vida, no entanto, sentimos sua falta!...
A voz do viajante, que se fazia ouvir de tão longe, entrecortava-se agora de doloridos soluços.
O  próprio Raul Silva mostrava igualmente os olhos marejados de pranto.
Aulus deu-nos a conhecer quanto ocorria.
       — Oliveira foi um abnegado trabalhador neste santuário do Evangelho — explicou. — Desencar­nou há dias, e Castro, com aquiescência dos orien­tadores, foi apresentar-lhe as afetuosas saudações dos companheiros. Demora-se em refazimento, ain­da inapto a comunicação mais intima com os irmãos que ficaram. Mas poderá enviar a sua men­sagem, por intermédio do companheiro que o visita.
— Abrace-me, sim, querido amigo! — prosse­guia Castro, com inenarrável inflexão de ternura fraterna. — Estou pronto!... direi o que você deseja... Fale e repetirei!...
E, recompondo-se, na atitude de quem se devia fazer intermediário digno, modificou a expressão fisionômica, falando cadenciadamente para os cir­cunstantes:
— Meus amigos, que o Senhor lhes pague. Estou bem, mas na posição do convalescente, incapaz de caminhada mais difícil... Sinto-me re­confortado, quase feliz! Indiscutívelmente, não mereço as dádivas recebidas, pois me vejo no Grande Lar, amparado por afeições inolvidáveis e subli­mes! As preces do nosso grupo alcançam-me cada noite, como projeção de flores e bênçãos! Como expressar-lhes gratidão se a palavra terrestre é sempre pobre para definir os grandes sentimentos de nossa vida? Que o Pai os recompense!... Aqui, onde me encontro, vim reconhecer, mais uma vez, a minha desvalia e agora concluo que todos os nossos sacrifícios pela causa do bem são bagatelas, comparados à munificência da Divina Bondade... Meus amigos, a caridade é o grande caminho! Trabalhemos!... Jesus nos abençoe!...
A voz de Castro apagou-se-lhe nos lábios e, dai a instantes, vimo-lo regressar, amparado pelos irmãos que o haviam conduzido, retomando o corpo denso, com naturalidade.
Reajustando-se, qual se o vaso físico o absor­vesse, de inopino, acordou na esfera carnal, na posse de todas as suas faculdades normais, esfre­gando os olhos, como quem desperta de grande sono.
O   desdobramento em serviço estava findo e com a tarefa terminada havíamos recolhido pre­ciosa lição.


Diversidade dos Carismas, Hermínio Miranda - Vol I – item 6 “MECANISMO DO DESDOBRAMENTO”
Regina distingue seus desdobramentos em duas categorias: os que ocorrem em plena consciência, no estado de vigília, e os que acontecem durante o sono, sendo estes os mais comuns, ainda que menos percebidos, pela simples razão de que, assim que se encontra desdobrada em conseqüência do mergulho no sono, a atividade do perispírito começa a ser traduzida sob o que entendemos por sonho. O aspecto específico do sono/sonho, contudo, fica para outro capítulo.
Regina informa que seus primeiros desdobramentos ocorreram em plena vigília, perfeitamente acordada e consciente. Creio, contudo, que esses foram os primeiros de que tomou conhecimento, pois, segundo sua própria tese - com a qual estou de acordo -, os demais ocorriam durante o sono e, portanto, assumiam as características de sonho.
Nos que ocorreram em vigília, às vezes estava deitada, em repouso, quando começava a sentir uma estranha movimentação dentro dela. Parecia-lhe estar sendo jogada para cima e para baixo, como se fosse um ioiô. É a forma que ela encontra para descrever o fenômeno, porque, na realidade, era como se alguém quisesse tirar alguma coisa de dentro dela, que aí funcionava como uma caixa ou uma forma. Enquanto isso ocorria, ela podia ver a cabeceira da cama ou do sofá subindo e descendo alternadamente, embora tenha logo concluído que não era a cama que se movimentava, mas sua percepção, ou seja, ela mesma, com sua consciência a reboque. Mesmo sem conhecer ainda a teoria que sustentava e explicava o fenômeno, ela acabou igualmente percebendo que aquilo que se movimentava dentro dela era uma duplicata de si mesma, porque o corpo físico, pesado, continuava imóvel, deitado, enquanto o outro ia e vinha para cima e para baixo. Até que num desses impulsos ela saía, como que projetada para fora.
O mais freqüente, contudo, era sair 'por cima', pela cabeça ou, pelo menos, era a impressão que ficava. A sensação, aliás, era angustiante para ela, porque experimentava um empuxo para cima, mas sem entender o mecanismo e sua finalidade, não se entregava a ele, criando automaticamente certa resistência ao processo. A meio caminho via, às vezes, parte de si mesma ainda presa ao corpo e outra parte fora. O inusitado da situação dava-lhe um susto e, então, ela despencava-se para baixo, com uma sensação de vertigem. De outras vezes parecia-lhe ter se convertido numa espécie de pulôver que alguém estivesse ajudando a tirar pela cabeça, mas que,às vezes, engastalhava-se no pescoço. Isso lhe causava uma sensação de sufocação mais psicológica, talvez, do que real, porque ela ficava indecisa e presa, com medo de 'sair', e nem sempre sabendo o que fazer para retornar ao corpo. Mais tarde entendeu que não era um pulôver psíquico que ela estava tentando tirar pela cabeça, mas seu próprio eu que cuidava de sair de dentro do corpo físico.
Quando tirava o 'pulôver' de uma só vez, no primeiro impulso, caía estatelada no chão e assustava-se ante a perspectiva de bater com o rosto no assoalho. De repente, contudo, o assoalho parecia abrir-se e ela entrava por ele a dentro, ou melhor, o piso deixava de existir ou de ter a consistência habitual e não lhe oferecia a menor resistência. Começava então a caminhar por um local desconhecido e, a partir de certo momento, não sabia mais que acontecia, ou seja, não tinha mais condições de acompanhar da sua posição provisória, ainda com a consciência no corpo físico, a movimentação perispíritica. Isto, porém, ela só iria saber muito depois, quando descobriu pelo estudo da doutrina espírita que, como todos os seres encarnados, ela também era um espírito dotado de um corpo sutil habitando um corpo físico.
Quanto à migração da consciência, é fenômeno que o coronel de Rochas confirma em suas notáveis experimentações e de que há notícia mais extensa em A memória e o tempo. No decorrer do processo de desdobramento, a consciência (ou, se você quiser, o EU) assume progressivamente três posições distintas. Está, inicialmente, no corpo físico e daí é que observa os primeiros movimentos e esforços. (Em Regina, a impressão é de que a cama ou o sofá é que se movimenta.) Em seguida, a consciência como que se reparte, observando o fenômeno ao mesmo tempo, do corpo físico e do corpo espiritual, pois Regina vê um e outro, no ato de se "desencaixarem". Finalmente, a consciência se transfere toda para o corpo espiritual, que começa a movimentar-se numa dimensão diferente da habitual, deixando de atuar no corpo físico; e a partir desse momento ela não sabe mais o que ocorre, a não ser que seja programada para lembrar-se posteriormente ou que não desmagnetize as lembranças gravadas no cérebro físico, como no episódio em que ela se lembrou do sacrifício das duas sobrinhas no antigo Egito. (Ou, talvez, ela apenas colocasse ali, naqueles pontos específicos do cérebro, uma espécie de anestesia a fim de impedir que eles emergissem na memória de vigília, após despertar.)
Esta hipótese nada tem de fantástica, quando nos lembramos de que o famoso pesquisador canadense, dr. Penfield (ver A memória e o tempo), despertava lembranças específicas estimulando, com pequeno toque, determinados pontos no cérebro físico onde tais memórias estavam arquivadas, não propriamente nas células físicas, por certo, mas nos pontos correspondentes do cérebro perispiritual. Segundo André luiz, o corpo físico está ancorado no núcleo das células, enquanto o perispírito, no citoplasma. É portanto na intimidade de cada célula que o espírito atua sobre o corpo material; ali está na câmara de compensação, onde se processam as trocas entre um sistema físico e o outro (O perispiritual, e deste, ao espírito). Tudo isso confere com a informação contida na codificação de que o processo de reencarnação se realiza célula a célula. Estas, como indivíduos microscópicos, são orquestradas para que seja possível realizar-se a maravilhosa sinfonia da vida orgânica.
Continuemos com Regina.
Havia um terceiro processo de desdobramento para ela. Neste, ela sentia deslocar-se em círculos, como se estivesse atada à ponta de um cordão que ninguém fizesse girar com velocidade, chegando a provocar-lhe a clara sensação de zumbido. Este parecia ser o mais eficiente, porque, de repente, ela se via em pé, ali mesmo no ambiente físico, mas fora do corpo, lá estava o sofá e nele seu corpo físico, deitado, em repouso, enquanto ela o contemplava por alguns momentos, como que observando se estava tudo bem mesmo e, em seguida, partia para seu destino, fosse qual fosse.
Das primeiras vezes, as saídas eram angustiantes, porque, sem saber do que se tratava e exatamente o que se passava com ela, temia, como todas as pessoas, o desconhecido e seus riscos, imaginários ou reais. Aos poucos foi observando, porém, que não corria perigo algum, não se perdia nem morria só porque se afastava do corpo em repouso. Essa confiante tranqüilidade produziu uma sensação de segurança que facilitava consideravelmente o processo, uma vez que ela decidiu não oferecer resistência a ele. Vencido o temor, as impressões desagradáveis desapareceram e os desdobramentos passaram a ser mais suaves e interessantes.
Mais familiarizada com o fenômeno, começou a observar que também ocorria à noite, Parece, não obstante, que era mais fácil tomar conhecimento dele na volta ao corpo em vez de na ida. Notou isto ao perceber que, ao levantar-se no meio da noite para tomar água ou ir ao banheiro, por exemplo, nem sempre conseguia 'levar' consigo o corpo físico, nas primeiras tentativas. Era assim: sentava-se na cama para se levantar, mas observava o 'outro eu' deitado, ou seja, metade dela estava sentada na cama e a outra metade deitada. Era preciso deitar-se de novo, em espírito, 'apanhar' o corpo físico, por um impulso da vontade, e então levantar-se inteirinha, com os dois corpos fundidos um no outro para as providências que desejava tomar.
Ocorria também acordar durante a noite e ver duas cabeças suas, uma virada para o canto, por exemplo, e outra para o lado de fora da cama. Detalhe: 'a outra' é que estava dormindo, ou seja, o corpo físico.
Uma vez lidos O livro dos espíritos e O livro dos médiuns, ela passou a entender melhor os fenômenos e a observá-los com maior proveito para seu aprendizado. Mal sabia, àquela altura, que o treinamento das faculdades de desdobramento pelos diversos processos era a base do preparo para o exercício futuro de faculdades mediúnicas que, no devido tempo, estariam acopladas e prontas para entrar em serviço. Nessa época já se convencera de que o desdobramento era um fenômeno natural que nenhum dano lhe poderia causar e que, ao contrário, lhe proporcionava oportunidades valiosas para importantes observações e aprendizado.
Certa noite, uma de suas irmãs dormiu em sua casa com um filho menor, de quatro anos de idade, A criança estava resfriada e tossia muito. Como o apartamento era pequeno e havia uma só cama, ou melhor, um sofá, Regina cedeu-o à irmã e ao menino e improvisou para si mesma uma cama no chão. Estava absorta em seus pensamentos, perfeitamente acordada (irmã e \ menino já adormecidos), quando, de repente, viu-se desdobrada. Bem mais familiarizada com o processo, não criava resistências e por isso aprendera a dominar bem seu mecanismo. Uma vez fora do corpo físico, deitado aos seus pés, examinou o ambiente à sua volta. Lá estavam a irmã e o menino adormecidos no sofá e seu próprio corpo ali no chão, em repouso. Ouviu a criança a tossir e continuou suas observações exploratórias. Caminhou pela sala e foi até uma saleta contígua, na entrada. Chegou junto à parede, do outro lado a qual era o apartamento vizinho e pensou: "Estou desdobrada; esta parede não existe para mim. Se quiser, posso atravessá-la, mas não devo fazê-lo porque estaria invadindo a privacidade alheia."
Voltou-se para o interior, onde o corpo físico continuava em repouso. O menino tossiu e ela o viu agitar-se. 'Deitou-se' então sobre o corpo físico e, assumindo-lhe os controles, abriu os olhos físicos. A criança voltou a tossir e ela pensou: "É, o menino continua tossindo; realmente me desdobrei. Interessante!" Ouvira, pois, a criança tossindo, tanto na condição de vigília como na de desdobramneto, fora do corpo físico. Em seguida, adormeceu e desdobrou-se novamente, desta vez pelo sono natural, e sem consciência, a partir daí, do que fazia e para onde seguia.


Diversidade dos Carismas, Hermínio Miranda, Vol I, Cap. VI - 3. Desdobramento em desdobramento
É comum observar-se em Regina o trabalho mediúnico específico e bem caracterizado em desdobramento. Em várias oportunidades, em vez de o espírito manifestante ser 'trazido' ao grupo, ela é que vai ao encontro dele, o que dá conhecimento antecipado ao dirigente dos trabalhos. Desprende-se e é levada pelos amigos espirituais. Não sei bem o que se passa nesses casos, mas suponho que lá é que se promove a ligação do manifestante com o seu perispírito e, como este continua ligado ao corpo físico, a comunicação psicofônica ocorre normalmente, possibilitando o diálogo com o doutrinador. (...)
Em outras oportunidades, Regina tem trabalhado mediunicamente, ou seja, funcionando como médium, estando já desdobrada, no plano espiritual. De um desses episódios ela se lembra com nitidez.
Era uma reunião ao ar livre, em algum local não-identificado no mundo invisível. Havia um lindo gramado e as pessoas sentavam-se ao chão descontraidamente. Um casal, que parecia coordenar os trabalhos, conduziu Regina a uma pequena mesa, em frente ao grupo de pessoas espalhadas pela grama. Ela sentou-se e orou, em silêncio, por alguns momentos. Formou-se um cone de luz, vindo não sabe ela de onde e que terminava aberto sobre sua cabeça, envolvendo-a até o pescoço como um imenso capuz luminoso que se estendia pelo infinito afora. Fez-se um silêncio respeitoso e ela começou a falar sobre o perdão, sentindo-se mero instrumento de ligação entre um plano e outro, tal como na atividade mediúnica habitual, no grupo terreno.
Há outra lembrança semelhante. Já desdobrada, ela foi conduzida a um auditório ou cenáculo enorme, lotado de gente encarnada e desencarnada. Sentia-se algo nervosa e tensa, talvez ante a perspectiva da responsabilidade de que sabia ter de desincumbir-se. Um homem, amigo seu no plano físico, ali presente, levou-a a uma salinha ao lado, fez uma prece e ministrou-lhe um passe. Ela acalmou-se e, juntos, voltaram ao salão. O seu amigo sentou-se e ela foi colocada na frente daquela pequena multidão. Novamente ocorreu o fenômeno do cone de luz sobre sua cabeça, a envolvê-la, e a entidade comunicante pôs-se a falar, evidentemente à distância. Infelizmente, Regina não se lembra de nada do que por seu intermédio falou o espírito, nem quem seria ele.
Um desses fenômenos ficou mais bem marcado na sua memória de vigília.
Ao retornar da reunião mediúnica semanal, no plano físico, chegou à sua casa vinte minutos antes da meia-noite. Banhou-se, tomou um lanche, leu uma página do livro Vinha de Luz, orou e deitou-se. Após um sono mais ou menos breve, acordou normalmente e, logo em seguida, voltou a adormecer. Viu-se, desdobrada, integrando um grupo de pessoas encarnadas que se preparavam para seguir para um local onde participariam de uma reunião no mundo espiritual.
Puseram-se a caminhar conversando tranqüilamente e chegaram a um local onde estava armada uma espécie de plataforma. Aguardaram alguns momentos, até que chegou um veículo parecido com um helicóptero que transportava apenas duas pessoas de cada vez, além da que manobrava o aparelho. Regina não deixou de manifestar certo receio e chegou a comentar com uma companheira: - Acho que vou ter medo; imagine se a gente cai lá de cima. Isto porque o veículo não era fechado e os dois assentos destinados aos 'passageiros' pendiam sobre o espaço, como os de um teleférico. Chegada a sua vez, embarcou no estranho veículo juntamente com outra pessoa e a 'coisa' começou a subir e subir e parecia nunca mais chegar ao seu destino. Mas chegou. Era uma nova plataforma onde o aparelho pousou e elas desceram. Ali também o espaço 'físico' era exíguo e precário. Parecia apenas uma estreita prancha suspensa sobre a imensidão do espaço vazio. Uma pessoa as recebeu e as conduziu ao local da reunião, aonde chegaram sãs e salvas.
Era um salão amplo, numa construção também muito ampla, arejada e pintada de branco. Tudo muito simples, quase primitivo e rústico. No salão principal, havia filas de bancos toscos para o público. Respirava-se uma atmosfera de paz indizível. À frente dos bancos destinados ao público, um pouco à direita, ficavam outros, onde se encontravam algumas pessoas já sentadas, todos obviamente à espera do orador convidado para aquela noite.
Regina sabia que o grupo responsável pela instituição que funcionava naquela construção estava ligado aos pioneiros do cristianismo primitivo e via lá entidades veneráveis; algumas ela identificou, outras, não. Seu amigc espiritual - que acompanhara o desenvolvimento de suas faculdades desde o início, como vimos - também estava lá. Foi das raras vezes em que ela esteve pessoalmente com ele ou pelo menos das vezes em que se lembra de ter estado com ele.
Havia grande expectativa enquanto se aguardava o orador da noite, que fora um dos grandes pregadores dos tempos primitivos do cristianismo. Ela foi informada de que este espírito era o coordenador do movimento de restauração do cristianismo à sua pureza primitiva. Era sobre isso, aliás, que estava programado para falar.
No momento seguinte, ela viu-se desdobrada pela segunda vez, pois foi informada de que iria trabalhar mediunicamente, ou seja, colaborar, através de suas faculdades, com a tarefa da noite, logo em seguida, vê a entidade a falar. Era uma figura esbelta, alta, vestida com uma túnica simples, cor alaranjada. É a primeira a surpreender-se com o seu desdobramento em desdobramento: - Como posso eu, já estando aqui - pensou ela -, ser desdobrada outra vez: Em verdade, ela via a sua própria forma perispiritual ser utilizada no trabalho, perfeitamente consciente de estar sentada na primeira fila entre os assistentes. Era como uma materialização, pois à medida que pessoa falava e gesticulava, ela sentia a repercussão dos gestos e da fala como se ela própria estivesse a falar e fazer os mesmos movimentos. Regina surpreendeu-se por um rápido momento a pensar: - Nem mesmo aqui consigo ficar totalmente inconsciente!
Quando a reunião terminou, generalizou-se uma conversação fraterna e descontraída. Regina foi levada a uma sala onde pôde, então, falar pessoalmente com o seu amigo espiritual, a quem tanto ama, admira e respeita. Falaram, a princípio, de alguns problemas pessoais que a afligiam no momento (lá embaixo, na Terra, e depois ela lhe perguntou como teria sido possível aquele segundo desdobramento, já que ela se encontrava desdobrada do corpo físico que repousava no seu quarto de dormir. Ele disse que sim, aquilo era possível, tanto que ocorreu, mas não se estendeu em explicações. Acrescentou que se haviam utilizado do recurso porque era muito importante para ela ouvir o que a entidade tinha a dizer e daquela forma seria mais fácil para ela gravar e reter na memória de vigília, o que de fato ocorreu, pois ela guardou, em suas linhas gerais, os principais tópicos da palestra da noite. 
4. SINGULARIDADES DO MUNDO ESPIRITUAL
Nunca se sabe, ao certo, que tipo de atividade está planejada para cada um dos desdobramentos de Regina, quando ela se retira para o seu quarto de dormir. Nem todos, claro, são 'viagens a serviço'. Às vezes são de recreio também. Encontros com pessoas amadas, das quais ela se acha separada, aqui no plano físico, por motivos e compromissos vários, ou com amigos espirituais que, embora não nominalmente identificados, ela sabe que são pessoas muito queridas, às quais se ligou em passado remoto e que continuam fiéis aos vínculos de afeição. Em tais ocasiões, há alegrias e emoções profundas em ambientes de beleza indescritível nos quais a paz, a harmonia e o amor não são apenas palavras soltas e vagos conceitos insubstanciais, mas são da própria essência das coisas, como se aqueles mundos fossem constituídos com esses elevados sentimentos e não como o nosso, de matéria densa. E, no entanto, eles são tão sólidos e reais como este, mas sem as opressões e inquietações que aqui experimentamos. Parece que os amigos espirituais desejam nos proporcionar com isto alguns momentos de 'recreio', uma visita a locais que, um dia, serão o nosso próprio 'habitat'. Enquanto não construirmos em nós as fundações do reino de Deus, só nos resta sonhar com aqueles ambientes de serenidade e visitá-los ocasionalmente. (...)
Alguns de nós, como Regina, visitam, ocasionalmente, regiões mais purificadas, ainda que não consigamos sequer chegar perto das mais elevadas. Vimos, ainda há pouco, na experiência em que ela funcionou como médium após passar por um segundo desdobramento, a inconcebível distância espiritual entre o plano em que vivemos e aquele em que se passaram as atividades que ela descreve. Para figurar objetivamente essa distância, que é vibratória, é moral, que não é mensurável em termos geográficos, o seu sistema de codificação pessoal traduziu a viagem em símbolos oníricos: primeiro a caminhada em grupo e, em seguida, o transporte numa espécie de helicóptero no qual apenas duas pessoas de cada vez poderiam embarcar, como que a sugerir que raras pessoas poderiam ser selecionadas para essa 'viagem'; parecia um teleférico em que o passageiro ficava sentado numa cadeira individual pendurado sobre imensos abismos. É de se supor que a um descuido mais sério em qualquer ponto da trajetória, como um pensamento impróprio ou um momento de invigilância, poderia o viajante precipitar-se de volta àquele minúsculo grãozinho de poeira cósmica em que vivemos, presos a um bloco de carne e ossos ... mesmo depois que o aparelho depositou as pessoas, duas a duas, em algum ponto identificável, ainda houve necessidade de um guia que a levasse à instituição a que se destinavam.
Outro pormenor interessante é o de que ela teve de ser desdobrada novamente, numa forma ainda mais sutil que a perispirítica, a fim de poder funcionar como médium de apoio ao orador que veio de regiões muito mais elevadas do que aquela em que se encontravam reunidos os que vieram ouvi-lo.
5. PSICOLOGIA DO DESDOBRAMENTO
Habituada aos desdobramentos ocorridos ao longo de anos de experiência quase diária, Regina passou a considerá-los como atividade rotineira, em paralelo com o exercício de suas faculdades, seja antecipando trabalhos mediúnicos em preparação, seja complementando-os posteriormente, bem como em reuniões de instrução e de aprendizado, como vimos. Não lhe é difícil, portanto, manter sua lucidez no decorrer do processo, ainda que o desprendimento seja conseqüência do sono comum. Logo que ocorre o desdobramento - que não apresenta mais aquelas tensões e receios - ela tem consciência de estar fora do corpo físico, sabe onde está e o que está fazendo. O mais importante, contudo, é o que se poderia chamar de deslocamento do centro de interesse com a sua conseqüente alteração na perspectiva e nas prioridades. Uma vez destacada do corpo físico é como se algo mudasse na sua própria psicologia ou, pelo menos, na maneira de considerar importantes aspectos da vida. Na posse de um corpo mais sutil, que melhor obedece aos seus comandos mentais e certamente com acesso mais fácil a um vasto mundo de informações e perspectivas, sente-se, de fato, outra pessoa. É como se ficassem naquele corpo adormecido e pesado as motivações de muitas angústias e problemas. Não que tais sensações deixem de existir porque os problemas, ela bem o sabe, continuam, mas se posicionam em novos arranjos, numa diferente hierarquia de valores. No corpo mais sutil, mais senhora de si mesma, ela chega até a lamentar a perda de tempo com aspectos de sua vida que não têm, afinal de contas, a importância com que se apresentam à sua ótica de encarnada, contida pelas bem-definidas limitações da vida física:
- É como se eu não tivesse nada a ver com os problemas daquela mulher adormecida que ficou lá na minha cama ... - diz Regina.
Como se tudo aquilo que ela é e representa fossem coisas de outro mundo, de outra pessoa, com a qual ela está vagamente relacionada.


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