Casa
Espírita Missionários da Luz
ESDE3 – 22/07/2014
Tema: Desdobramento
Objetivos:
-
Estudar algumas características do desdobramento
Bibliografia:
- A Gênese, Cap. XIV, 22 à 26;
- O Livro dos Espíritos, Cap. VIII –
2ª.Parte, Emancipação da Alma
- O Livro dos Médiuns, Cap. XIV, itens 172
à 174 (MÉDIUNS
SONAMBÚLICOS)
- Fatos de dupla vista e lucidez sonambúlica
relatados na Revue Spirite: janeiro de 1858, pág. 25; novembro de
1858, pág. 313; julho de 1861, pág. 193; novembro de 1865, pág. 352.
- André Luiz – Francisco
Cândido Xavier - Nos domínios da
Mediunidade, Cap. 11
- André Luiz – Francisco
Cândido Xavier - Mecanismos da Mediunidade, Cap.21
- Diversidade dos Carismas, Volume I, Cap. V e
VI – Hermínio C. Miranda
- Desafios da Mediunidade – Raul Teixeira/Camilo,
itens 35 e 37
- Recordações da Mediunidade, Cap. 7, “Amigo
Ignorado”, Yvonne Pereira
Material:
Desenvolvimento:
1. Prece Inicial.
2.Leitura e comentários
da página do Evangelho da noite;
3.Estudar algumas
perguntas de O LE sobre a Emancipação da Alma:
Pergs,
401. Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
402. Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?
407. É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito?
412 - Pode a atividade do Espírito, durante o repouso, ou o sono corporal,
fatigar o corpo?
425. O sonambulismo natural tem alguma relação com os sonhos? Como
explicá-lo?
426. O chamado sonambulismo magnético tem alguma relação com o sonambulismo
natural?
447. O fenômeno a que se dá a designação de dupla vista tem alguma relação com o sonho e o
sonambulismo?
450-a) — Esta faculdade tem qualquer ligação com a organização física?
4.Distribuir cópias de
trechos sobre exemplos de desdobramentos nos livros:
- Recordações da Mediunidade – anímico,
perigo das regiões inferiores
- Diversidade dos Carismas, Vol I, Cap V
(Desdobramento), item 6 (Mecanismo do Desdobramento) – formas de desdobra-se -
animismo
- Diversidade dos Carismas, Vol I, Cap VI
(Desdobramento como Pré-Condição do Trabalho Mediúnico), item 3 (Desdobramento
em desdobramento), 4 e 5
- Nos Domínios da Mediunidade – Cap. 11
(Desdobramento em Serviço)
5. Exibição Prece final
ANEXOS
Mecanismos da
Mediunidade, Cap. 21 – “Desdobramento”
NO SONO ARTIFICIAL — Enfileirando algumas anotações com respeito ao
desdobramento da personalidade, consoante as nossas referências ao hipnotismo
comum, recordemos ainda o fenômeno da hipnose profunda, entre o magnetizador e
o sensitivo.
Quem possa observar além do campo físico, reparará, à medida se afirme a
ordem do hipnotizador, que se escapa abundantemente do tórax do «sujet», caído
em transe, um vapor branquicento que, em se condensando qual nuvem inesperada,
se converte, habitualmente à esquerda do corpo carnal, numa duplicata dele
próprio, quase sempre em proporções ligeiramente dilatadas.
Tal seja o potencial mais amplo da vontade que o dirige, o sensitivo,
desligado da veste física, passa a movimentar-se e, ausentando-se muita vez do
recinto da experiência, atendendo a determinações recebidas, pode efetuar
apontamentos a longa distância ou transmitir notícias, com vistas a certos
fins.
Seguindo-lhe a excursão, vê-lo-emos, porém, constantemente ligado ao corpo
somático por fio tenuíssimo, fio este muito superficialmente comparável, de
certo modo, à onda do radar, que pode vencer imensuráveis distâncias, voltando,
inalterável, ao centro emissor, não obstante sabermos que semelhante confronto
resulta de todo impróprio para o fenômeno que estudamos no campo da inteligência.
Nessa fase, o paciente executa as ordens que recebeu, desde que não
constituam desrespeito evidente à sua dignidade moral, trazendo informes
valiosos para as realidades do Espírito.
Notemos que aí, enquanto o carro fisiológico se detém, resfolegante e
imóvel, a individualidade real, embora teleguiada, evidencia plena integridade
de pensamento, transmitindo, de longe, avisos e anotações através dos órgãos
vocais, em circunstâncias comparáveis aos implementos do alto-falante, num
aparelho radiofônico.
À semelhança do fluxo energético da circulação sanguínea, incessante no
corpo denso, a onda mental é inestancável no Espírito.
Esmaecem-se as impressões nervosas e dorme o cérebro de carne, mas o
coração prossegue ativo, no envoltório somático, e o pensamento vibra, constante,
no cérebro perispirítico.
NO SONO NATURAL — Na maioria das situações, a criatura, ainda extremamente
aparentada com a animalidade primitivista, tem a mente como que voltada para si
mesma, em qualquer expressão de descanso, tomando o sono para claustro remançoso
das impressões que lhe são agradáveis, qual criança que, à solta, procura
simplesmente o objeto de seus caprichos.
Nesse ensejo, configura na onda mental que lhe é característica as imagens
com que se acalenta, sacando da memória a visualização dos próprios desejos,
imitando alguém que improvisasse miragens, na antecipação de acontecimentos que
aspira a concretizar.
Atreita ao narcisismo, tão logo demande o sono, quase sempre se detém
justaposta ao veículo físico, como acontece ao condutor que repousa ao pé do
carro que dirige, entregando-se à volúpia mental com que alimenta os próprios
impulsos afetivos, enquanto a máquina se refaz.
Ensimesmada, a alma, usando os recursos da visão profunda, localizada nos
fulcros do diencéfalo, e, plenamente desacolchetada do corpo carnal, por temporário
desnervamento, não apenas se retempera nas telas mentais com que preliba
satisfações distantes, mas experimenta de igual modo o resultado dos próprios
abusos, suportando o desconforto das vísceras injuriadas por ele mesmo ou a
inquietude dos órgãos que desrespeita, quando não padece a presença de
remorsos constrangedores, àface dos atos reprováveis que pratica, porqüanto
ninguém se livra, no próprio pensamento, dos reflexos de si mesmo.
SONO E SONHO — Qual ocorre no animal de evolução superior, no homem de
evolução positivamente inferior o desdobramento da individualidade, por
intermédio do sono, é quase que absoluto estágio de mero refazimento físico.
No primeiro, em que a onda mental é simplesmente fraca emissão de forças
fragmentárias, o sonho é puro reflexo das atividades fisiológicas. No segundo,
em que a onda mental está em fase iniciante de expansão, o sonho, por muito
tempo, será invariável ação reflexa de seu próprio mundo consciencial ou
afetivo.
Evolui, no entanto, o pensamento na criatura que amadurece,
espiritualmente, através da repercussão.
Como no caso do sensitivo que, fora do envoltório físico, vai até ao local
sugerido pelo magnetizador, tomando-se a ordem determinante da hipnose
artificial pelo reflexo condicionado que lhe comanda as ideias, a criatura na
hipnose natural, fora do veículo somático, possui no próprio desejo o reflexo
condicionado que lhe circunscreverá o âmbito da ação além da roupagem
fisiológica, alongando-se até ao local em que se lhe vincula o pensamento.
O homem do campo, no repouso físico, supera os fenômenos hipnagógicos e
volta à gleba que semeou, contemplando aí, em Espírito, a plantação que lhe
recolhe o carinho; o artista regressa à obra a que se consagra,
mentalizando-lhe o aprimoramento; o espírito maternal se aconchega ao pé dos
filhinhos que a vida lhe confia, e o delinqüente retorna ao lugar onde se
encarcera a dor do seu arrependimento.
Atravessada a faixa das chamadas imagens eutópticas, exteriorizam de si
mesmos os quadros mentais pertinentes à atividade em que se concentram, com os
quais angariam a atenção das Inteligências desencarnadas que com eles se
afinam, recolhendo sugestões para o trabalho em que se empenham, muito embora,
à distância da veste somática, frequentemente procedam ao modo de crianças
conduzidas ao ambiente de pessoas adultas, mantendo-se entre as ideias
superiores que recebem e as ideias infantis que lhes são próprias, do que
resulta, na maioria das vezes, o aspecto caótico das reminiscências que
conseguem guardar, ao retornarem à vigília.
Nesse estágio evolutivo, permanecem milhões de pessoas — representando a
faixa de evolução mediana da Humanidade — rendendo-se, cada dia, ao impositivo
do sono ou hipnose natural de refazimento, em que se desdobram, mecamicamente,
entrando, fora do indumento carnal, em sintonia com as entidades que se lhes
revelam afins, tanto na ação construtiva do bem, quanto na ação deletéria do
mal, entretecendo-se-lhes o caminho da experiência que lhes é necessária à
sublimação no porvir.
CONCENTRAÇÃO E DESDOBRAMENTO —Quantos se entregam ao labor da arte, atraem,
durante o sono, as inspirações para a obra que realizam, compreendendo-se que
os Espíritos enobrecidos assimilam do contacto com as Inteligências superiores
os motivos corretos e brilhantes que lhes palpitam nas criações, ao passo que
as mentes sarcásticas ou criminosas, pelo mesmo processo, apropriam-se dos
temas infelizes com que se acomodam, acordando a ironia e a irresponsabilidade
naqueles que se lhes ajustam aos pensamentos, pelo trabalho a que se dedicam.
Desdobrando-se no sono vulgar, a criatura segue o rumo da própria
concentração, procurando, automàticamente, fora do corpo de carne, os objetivos
que se casam com os seus interesses evidentes ou escusos.
Desse modo, mencionando apenas um exemplo dos contactos a que aludimos,
determinado escritor exporá ideias edificantes e originais no que tange ao
serviço do bem, induzindo os leitores à elevação de nível moral, ao passo que
outro exibirá elementos aviltantes, alinhando escárnio ou lodo sutil com que
corrompe as emoções de quantos se lhe entrosam à maneira de ser.
INSPIRAÇÃO E DESDOBRAMENTO — Dormindo o corpo denso, continua vigilante a
onda mental de cada um — presidindo ao sono ativo, quando registra no cérebro
dormente as impressões do Espírito desligado das células físicas, e ao sono
passivo, quando a mente, nessa condição, se desinteressa, de todo, da esfera
carnal.
Nessa posição, sintoniza-se com as oscilações de companheiros desencarnados
ou não, com as quais se harmonize, trazendo para a vigília no carro de matéria
densa, em forma de inspiração, os resultados do intercâmbio que levou a efeito,
porqüanto raramente consegue conscientizar as atividades que empreendeu no
tempo de sono.
Muitos apelos do plano terrestre são atendidos, integralmente ou em parte,
nessa fase de tempo.
Formulado esse ou
aquele pedido ao companheiro desencarnado, habitualmente surge a resposta
quando o solicitante se acha desligado do vaso físico. Entretanto, como nem
sempre o cérebro físico está em posição de fixar o encontro realizado ou a
informação recebida, os remanescentes da ação espiritual, entre encarnados e
desencarnados, permanecem, naqueles Espíritos que ainda se demorem chumbados à
Terra, à feição de quadros simbólicos ou de fragmentárias reminiscências,
quando não sejam na forma de súbita intuição, a expressarem, de certa forma, o
socorro parcial ou total que se mostrem capazes de receber.
DESDOBRAMENTO E
MEDIUNIDADE — As ocorrências referidas vigem na conjugação de ondas mentais,
porque apenas excepcionalmente consegue a criatura encarnada desvencilhar-se de
todas as amarras naturais a que se prende, adstrita as conveniências e
necessidades de redenção ou evolução que lhe dizem respeito.
É imperioso notar, porém, que considerável número de pessoas,
principalmente as que se adestraram para esse fim, efetuam incursões nos planos
do Espírito, transformando-se, muitas vezes, em preciosos instrumentos dos
Benfeitores da Espiritualidade, como oficiais de ligação entre a esfera física
e a esfera extrafísica.
Entre os médiuns dessa categoria, surpreenderemos todos os grandes
místicos da fé, portadores de valiosas observações e revelações para quantos
se decidam marchar ao encontro da Verdade e do Bem.
Cumpre destacar, entretanto, a importância do estudo para quantos se vejam
chamados a semelhante gênero de serviço, porque, segundo a Lei do Campo Mental,
cada Espírito sômente logrará chegar, do ponto de vista da compreensão necessária,
até onde se lhe paire o discernimento.
Recordações da mediunidade – Yvonne Pereira, Cap. 7
Ora, há cerca de dois anos, certo fenômeno de desdobramento espontâneo e,
por isso mesmo, não assistido pela vigilância dos mentores espirituais, e verificado
à revelia até da minha própria vontade, levou-me a volitar pelo Espaço em plano
baixo, durante uma linda noite de plenilúnio. Em tais circunstâncias caberá ao
médium precatar-se contra possíveis acidentes, mantendo-se em constante
correspondência mental-vibratória com seus mentores invisíveis, visto que ele
não pode desconhecer a grande responsabilidade que lhe pesa frente ao grave
acontecimento.
Conforme afirmação anterior, fora do corpo carnal tudo se afigura mais
perfeito e lindo ao grau de penetração e compreensão do nosso espírito. O
encanto da noite, pois a poesia se irradiava do luar, que docemente aclarava a
paisagem, a par da luz azul que penetra todo o planeta e parece tratar-se das
vibrações cósmicas; o perfume da flora, que rescendia herôicamente pela
Natureza, certamente excitada pelas irradiações magnéticas da fase lunar e
sensibilizando o meu olfato, e a reconfortante harmonia que se desprendia de
todas as coisas, arrebataram minha imaginação, concedendo-me bem-estar e
alegria. Mas em vez de elevar o pensamento a Deus, louvando-o pelo encantamento
que me era dado desfrutar, penetrando o esplendor da Natureza, e assim
atraindo a assistência dos amigos espirituais, para junto deles algo tentar de
útil a favor do próximo ou da própria Doutrina, entrei a volitar displicentemente
sob a luz do luar, a cantar e a dançar “ballet” clássico, bradando, louca de
alegria, de quando em vez:
— Oh! Como é bom ser livre! Quisera
libertar-me de vez, para expandir intensamente os meus desejos:
E assim permaneci durante algum tempo, que não posso precisar se breve ou
longo, esgotando-me sem necessidade, à mercê de um transe mediúnico perigoso,
sem sequer me lembrar da existência dos Guias Espirituais.
Subitamente fui baixando de plano, sem forças para continuar equilibrada na
atmosfera, até que toquei o solo. Então, não mais me pude erguer porque as
vibrações diminuíram de intensidade, em vista da frivolidade dos pensamentos,
os quais retardaram o meu sistema de energias mentais, e estas são a origem de
todos os acontecimentos nos planos espirituais, sejam estes elevados ou
inferiores. Reconheci-me perdida num deserto de colinas circuladas de montanhas
mais altas.
Tratava-se de local solitário e impressionante pela vastidão, paisagem
tipicamente brasileira, que mais atemorizava pelo silêncio em que se envolvia.
Adveio-me penosa sensação de abandono e perigo. Eu me sentia como que tolhida
por uma pressão hipnótica, pois não podia raciocinar, não podia orar. Dir-se-ia
local de vibrações pesadas, infelicitado por aglomeração de fantasmas obsessores,
que ali estabelecessem o seu quartel general, que me atraíam sempre, quais ímãs
poderosos, para trechos mais lúgubres. Sentia estranha pressão no cérebro e
singular alquebramento de forças de reação, mas ouvia o pipilar dos grilos e o
coaxar das rãs, e silvos finos e agudos me surpreendiam, tendo neles
reconhecido, atemorizada, o sinal inconfundível das cobras e serpentes durante
o seu amistoso conluio noturno. Distendeu-se a minha visão e então consegui
abranger vasto espaço transitado por dezenas desses terríveis ofídios
movimentando-se em agitação sugestiva. Até que atrações mais poderosas,
invencíveis, me arrastaram para uma grota repulsiva, seguida de matagal
profuso e tenebroso. Meu coração pulsava de terror e tremuras incontroláveis me
perturbavam o perispírito, sem que me fôsse possível qualquer movimento de
reação. Mas, em dado momento, surgiu à minha frente o jovem índio acima citado,
que já por várias vezes me socorrera em passadas situações igualmente críticas.
Encontrando-me, ele tomou do meu braço, demonstrando pressa e inquietação,
apertou-o com força e exclamou, com sua «voz» doce e muito baixa, como sempre:
— Que vieste fazer aqui, minha filhinha, estás louca?... Corres grande
perigo neste local...
Não revelou a natureza do perigo, mas elevou-se no espaço, segurando-me
fortemente pelo braço, e desferiu voo rápido e seguro, atravessando o imenso
deserto de colinas, para além das montanhas. Senti, reavivando minhas
energias, todo o estranho vigor que se desprendia dele. E ainda hoje me admiro
do equilíbrio, da leveza, da rapidez desse voo, que a tempo me socorreu e
revigorou. O bom amigo trouxe-me até o quarto de dormir, ràpidamente, sem que
me fôsse possível apreciar o trajeto completo, para verificar em que região do
Brasil teria eu ido pairar.
Contemplei meu próprio corpo enrijecido e meio desmaiado sob a ação do
transe cataléptico parcial, estirado sobre o leito. O caridoso amigo fêz-me
retomá-lo com suavidade, servindo-se da mesma técnica dos demais protetores
espirituais, e infundindo-me energias reparadoras.
Despertando lentamente, pude ouvi-lo ainda, como em afetuosa advertência:
— Não faças mais isso, é muito perigoso. Será necessário a máxima
vigilância nessas ocasiões. E agora fica em paz e repousa...
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Nos Domínios da Mediunidade – André Luiz, Cap. 11 - Desdobramento em serviço
Chegara a vez do médium
Antônio Castro.
Profundamente concentrado,
denotava a confiança com que se oferecia aos objetivos de serviço.
Aproximou-se dele o irmão
Clementino e, à maneira do magnetizador comum, impôs-lhe as mãos aplicando-lhe
passes de longo circuito.
Castro como que adormeceu
devagarinho, inteiriçando-se-lhe os membros.
Do tórax emanava com
abundância um vapor esbranquiçado que, em se acumulando à feição de uma nuvem,
depressa se transformou, à esquerda do corpo denso, numa duplicata do médium,
em tamanho ligeiramente maior.
Nosso amigo como que se
revelava mais desenvolvido, apresentando todas as particularidades de sua
forma física, apreciavelmente dilatadas.
Desejei ensaiar algumas
indagações, contudo, a dignidade do serviço impunha-me silêncio.
O diretor espiritual da casa submetia o
medianeiro a delicada intervenção magnética que não seria lícito perturbar ou
interromper.
O médium, assim desligado do veículo carnal, afastou-se dois passos,
deixando ver o cordão vaporoso que o prendia ao campo somático.
Enquanto o equipamento fisiológico descansava, imóvel, Castro, tateante e
assombrado, surgia, junto de nós, numa cópia estranha de si mesmo. porqüanto,
além de maior em sua configuração exterior, apresentava-se azulada à direita e
alaranjada à esquerda.
Tentou movimentar-se, contudo, parecia sentir-se pesado e inquieto...
Clementino renovou as operações magnéticas e Castro, desdobrado, recuou,
como que se justa-pondo novamente ao corpo físico.
Verifiquei, então, que desse contacto resultou singular diferença. O corpo
carnal engulira, instintivamente, certas faixas de força que imprimiam
manifesta irregularidade ao perispírito, absorvendo-as de maneira
incompreensível para mim.
Desde esse instante, o companheiro, fora do vaso de matéria densa, guardou
o porte que lhe era característico.
Era, agora, bem ele mesmo, sem qualquer deformidade, leve e ágil, embora
prosseguisse encadeado ao envoltório físico pelo laço aeriforme, que parecia
mais adelgaçado e mais luminoso, à medida que Castro-Espírito se movimentava
em nosso meio.
Enquanto Clementino o encorajava com palavras amigas, o nosso orientador,
certamente assinalando-nos a curiosidade, deu-se pressa em esclarecer:
— Com o auxílio do supervisor, o médium foi convenientemente exteriorizado.
A principio, seu perispírito ou “corpo astral” estava revestido com os eflúvios
vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, conhecidos
aqueles, em seu conjunto, como sendo o «duplo etérico», formado por emanações
neuropsíquicas que pertencem ao campo fisiológico e que, por isso mesmo, não
conseguem maior afastamento da organização terrestre, destinando-se à
desintegração, tanto quanto ocorre ao instrumento carnal, por ocasião da morte
renovadora. Para melhor ajustar-se ao nosso ambiente, Castro devolveu essas
energias ao corpo inerme, garantindo assim o calor indispensável à colmeia
celular e desembaraçando-se, tanto quanto possível, para entrar no serviço que
o aguarda.
— Ah! — disse Hilário, com expressão admirativa — aqui vemos, desse modo,
a exteriorização da sensibilidade!...
— Sim, se algum pesquisador humano ferisse o espaço em que se situa a
organização perispirítica do nosso amigo, registraria ele, de imediato, a dor
do golpe que se lhe desfechasse, queixando-se disso, através da língua física,
porque, não obstante liberto do vaso somático, prossegue em comunhão com ele,
por intermédio do laço fluídico de ligação. (...)
O médium, mais à vontade fora do
corpo denso, recebia as instruções que Clementino lhe administrava, paternal.
Dois guardas aproximaram-se dele e lhe aplicaram à cabeça um capacete em
forma de antolhos.
— Para a viagem que fará — avisou-nos o
Assistente —, Castro não deve dispersar a atenção. Incipiente ainda nesse
gênero de tarefa, precisa instrumentação adequada para reduzir a própria
capacidade de observação, de modo a interferir o menos possível na tarefa a
executar.
Vimos o rapaz
plenamente desdobrado alçar-se ao espaço, de mãos dadas com ambos os
vigilantes.
O trio volitou em sentido oblíquo, sob nossa confiante expectação.
Desde esse momento, demonstrando manter segura comunhão com o veículo
carnal, ouvimo-lo dizer através da boca física:
— Seguimos por um trilho estreito e
escuro!
Oh! tenho medo, muito medo...
Rodrigo e Sérgio amparam-me na excursão, mas sinto receio!... Tenho a idéia de
que nos achamos em pleno nevoeiro...
Estampando no rosto sinais de angústia e estranheza, continuava:
— Que noite é esta?... A escuridão
parece pesar sobre nós!... Ai de mim! Vejo formas desconhecidas agitando-se em
baixo, sob nossos pés!... Quero voltar! voltar!... Não posso prosseguir!... não
suporto, não suporto!...
Mas Raul, sob a inspiração do mentor da casa, elevou o padrão vibratório do
conjunto, numa prece fervorosa em que rogava do Alto forças multiplicadas
para o irmão em serviço.
Junto de nós, Aulus informou:
— A oração do grupo, acompanhando-o na
excursão e transmitida a ele, de imediato, constitui-lhe abençoado tônico
espiritual.
— Ah! sim, meus amigos — prosseguia
Castro, qual se o corpo físico lhe fosse um aparelho radiofônico para
comunicações a distância —, a prece de vocês atua sobre mim como se fosse um
chuveiro de luz... Agradeço-lhes o benefício!... Estou reconfortado...
Avançarei!...
Interpretando os fatos sob nossa observação, o Assistente explicou:
— Raros Espíritos encarnados conseguem
absoluto domínio de si próprios, em romagens de Serviço edificante fora do
carro de matéria densa. Habituados à orientação pelo corpo físico, ante
qualquer surpresa menos agradável, na esfera de fenômenos inabituais, procuram
instintivamente o retorno ao vaso carnal, à maneira do molusco que se refugia
na própria concha, diante de qualquer impressão em desacordo com os seus
movimentos rotineiros. Castro, porém, será treinado para a prestação de valioso
concurso aos enfermos de qualquer posição.
Enquanto assinalávamos o apontamento, a voz do médium se elevava no ar,
vigorosa e cristalina.
— Que alívio! Rompemos a barreira de
trevas!... A atmosfera está embalsamada de leve aroma!... Brilham as estrelas
novamente... Oh! éa cidade de luz... Torres fulgurantes elevam-se para o
firmamento! Estamos penetrando um grande parque!... Oh! meu Deus, quem vejo
aqui a sorrir-me!... É o nosso Oliveira! Como está diferente! Mais moço, muito
mais moço...
Lágrimas copiosas banharam o rosto do médium, comovendo-nos a todos.
No gesto de quem se entregava a um abraço carinhoso, de coração a coração,
o medianeiro continuou:
— Que felicidade! que felicidade!...
Oliveira, meu amigo, que saudades de você!... por que razão teríamos ficado
assim, sem a sua cooperação? Sabemos que a Vontade do Senhor deve prevalecer,
mas a distância tem sido para nós um tormento!... a lembrança de seu carinho
vive em nossa casa... Seu trabalho permanece entre nós como inesquecível
exemplo de amor cristão!... Volte! venha incentivar-nos na sementeira do
bem!... amado amigo, nós sabemos que a morte é a própria vida, no entanto,
sentimos sua falta!...
A voz do viajante, que se fazia ouvir de tão longe, entrecortava-se agora
de doloridos soluços.
O próprio Raul Silva mostrava
igualmente os olhos marejados de pranto.
Aulus deu-nos a conhecer quanto ocorria.
— Oliveira foi um abnegado trabalhador
neste santuário do Evangelho — explicou. — Desencarnou há dias, e Castro, com
aquiescência dos orientadores, foi apresentar-lhe as afetuosas saudações dos
companheiros. Demora-se em refazimento, ainda inapto a comunicação mais intima
com os irmãos que ficaram. Mas poderá enviar a sua mensagem, por intermédio do
companheiro que o visita.
— Abrace-me, sim, querido amigo! —
prosseguia Castro, com inenarrável inflexão de ternura fraterna. — Estou
pronto!... direi o que você deseja... Fale e repetirei!...
E, recompondo-se, na atitude de quem se devia fazer intermediário digno,
modificou a expressão fisionômica, falando cadenciadamente para os circunstantes:
— Meus amigos, que o Senhor lhes pague. Estou bem, mas na posição do
convalescente, incapaz de caminhada mais difícil... Sinto-me reconfortado,
quase feliz! Indiscutívelmente, não mereço as dádivas recebidas, pois me vejo
no Grande Lar, amparado por afeições inolvidáveis e sublimes! As preces do
nosso grupo alcançam-me cada noite, como projeção de flores e bênçãos! Como
expressar-lhes gratidão se a palavra terrestre é sempre pobre para definir os
grandes sentimentos de nossa vida? Que o Pai os recompense!... Aqui, onde me
encontro, vim reconhecer, mais uma vez, a minha desvalia e agora concluo que
todos os nossos sacrifícios pela causa do bem são bagatelas, comparados à
munificência da Divina Bondade... Meus amigos, a caridade é o grande caminho!
Trabalhemos!... Jesus nos abençoe!...
A voz de Castro apagou-se-lhe nos lábios e, dai a instantes, vimo-lo
regressar, amparado pelos irmãos que o haviam conduzido, retomando o corpo
denso, com naturalidade.
Reajustando-se, qual se o vaso
físico o absorvesse, de inopino, acordou na esfera carnal, na posse de todas
as suas faculdades normais, esfregando os olhos, como quem desperta de grande
sono.
O desdobramento em serviço estava
findo e com a tarefa terminada havíamos recolhido preciosa lição.
Diversidade dos Carismas, Hermínio Miranda -
Vol I – item 6 “MECANISMO DO DESDOBRAMENTO”
Regina distingue seus
desdobramentos em duas categorias: os que ocorrem em plena consciência, no
estado de vigília, e os que acontecem durante o sono, sendo estes os mais
comuns, ainda que menos percebidos, pela simples razão de que, assim que se
encontra desdobrada em conseqüência do mergulho no sono, a atividade do
perispírito começa a ser traduzida sob o que entendemos por sonho. O aspecto
específico do sono/sonho, contudo, fica para outro capítulo.
Regina informa que seus
primeiros desdobramentos ocorreram em plena vigília, perfeitamente acordada e
consciente. Creio, contudo, que esses foram os primeiros de que tomou
conhecimento, pois, segundo sua própria tese - com a qual estou de acordo -, os
demais ocorriam durante o sono e, portanto, assumiam as características de
sonho.
Nos que ocorreram em
vigília, às vezes estava deitada, em repouso, quando começava a sentir uma
estranha movimentação dentro dela. Parecia-lhe estar sendo jogada para cima e
para baixo, como se fosse um ioiô. É a forma que ela encontra para descrever o
fenômeno, porque, na realidade, era como se alguém quisesse tirar alguma coisa
de dentro dela, que aí funcionava como uma caixa ou uma forma. Enquanto isso
ocorria, ela podia ver a cabeceira da cama ou do sofá subindo e descendo
alternadamente, embora tenha logo concluído que não era a cama que se
movimentava, mas sua percepção, ou seja, ela mesma, com sua consciência a
reboque. Mesmo sem conhecer ainda a teoria que sustentava e explicava o fenômeno,
ela acabou igualmente percebendo que aquilo que se movimentava dentro dela era
uma duplicata de si mesma, porque o corpo físico, pesado, continuava imóvel,
deitado, enquanto o outro ia e vinha para cima e para baixo. Até que num desses
impulsos ela saía, como que projetada para fora.
O mais freqüente,
contudo, era sair 'por cima', pela cabeça ou, pelo menos, era a impressão que
ficava. A sensação, aliás, era angustiante para ela, porque experimentava um
empuxo para cima, mas sem entender o mecanismo e sua finalidade, não se
entregava a ele, criando automaticamente certa resistência ao processo. A meio
caminho via, às vezes, parte de si mesma ainda presa ao corpo e outra parte
fora. O inusitado da situação dava-lhe um susto e, então, ela despencava-se para
baixo, com uma sensação de vertigem. De outras vezes parecia-lhe ter se
convertido numa espécie de pulôver que alguém estivesse ajudando a tirar pela
cabeça, mas que,às vezes, engastalhava-se no pescoço. Isso lhe causava uma
sensação de sufocação mais psicológica, talvez, do que real, porque ela ficava
indecisa e presa, com medo de 'sair', e nem sempre sabendo o que fazer para
retornar ao corpo. Mais tarde entendeu que não era um pulôver psíquico que ela
estava tentando tirar pela cabeça, mas seu próprio eu que cuidava de sair de
dentro do corpo físico.
Quando tirava o 'pulôver'
de uma só vez, no primeiro impulso, caía estatelada no chão e assustava-se ante
a perspectiva de bater com o rosto no assoalho. De repente, contudo, o assoalho
parecia abrir-se e ela entrava por ele a dentro, ou melhor, o piso deixava de
existir ou de ter a consistência habitual e não lhe oferecia a menor
resistência. Começava então a caminhar por um local desconhecido e, a partir de
certo momento, não sabia mais que acontecia, ou seja, não tinha mais condições
de acompanhar da sua posição provisória, ainda com a consciência no corpo
físico, a movimentação perispíritica. Isto, porém, ela só iria saber muito
depois, quando descobriu pelo estudo da doutrina espírita que, como todos os seres
encarnados, ela também era um espírito dotado de um corpo sutil habitando um
corpo físico.
Quanto à migração da
consciência, é fenômeno que o coronel de Rochas confirma em suas notáveis
experimentações e de que há notícia mais extensa em A memória e o tempo. No
decorrer do processo de desdobramento, a consciência (ou, se você quiser, o EU)
assume progressivamente três posições distintas. Está, inicialmente, no corpo
físico e daí é que observa os primeiros movimentos e esforços. (Em Regina, a
impressão é de que a cama ou o sofá é que se movimenta.) Em seguida, a
consciência como que se reparte, observando o fenômeno ao mesmo tempo, do corpo
físico e do corpo espiritual, pois Regina vê um e outro, no ato de se
"desencaixarem". Finalmente, a consciência se transfere toda para o
corpo espiritual, que começa a movimentar-se numa dimensão diferente da
habitual, deixando de atuar no corpo físico; e a partir desse momento ela não
sabe mais o que ocorre, a não ser que seja programada para lembrar-se
posteriormente ou que não desmagnetize as lembranças gravadas no cérebro
físico, como no episódio em que ela se lembrou do sacrifício das duas sobrinhas
no antigo Egito. (Ou, talvez, ela apenas colocasse ali, naqueles pontos
específicos do cérebro, uma espécie de anestesia a fim de impedir que eles
emergissem na memória de vigília, após despertar.)
Esta hipótese nada tem de
fantástica, quando nos lembramos de que o famoso pesquisador canadense, dr.
Penfield (ver A memória e o tempo), despertava lembranças específicas estimulando,
com pequeno toque, determinados pontos no cérebro físico onde tais memórias
estavam arquivadas, não propriamente nas células físicas, por certo, mas nos
pontos correspondentes do cérebro perispiritual. Segundo André luiz, o corpo
físico está ancorado no núcleo das células, enquanto o perispírito, no
citoplasma. É portanto na intimidade de cada célula que o espírito atua sobre o
corpo material; ali está na câmara de compensação, onde se processam as trocas
entre um sistema físico e o outro (O perispiritual, e deste, ao espírito). Tudo
isso confere com a informação contida na codificação de que o processo de
reencarnação se realiza célula a célula. Estas, como indivíduos microscópicos,
são orquestradas para que seja possível realizar-se a maravilhosa sinfonia da
vida orgânica.
Continuemos com Regina.
Havia um terceiro
processo de desdobramento para ela. Neste, ela sentia deslocar-se em círculos,
como se estivesse atada à ponta de um cordão que ninguém fizesse girar com
velocidade, chegando a provocar-lhe a clara sensação de zumbido. Este parecia
ser o mais eficiente, porque, de repente, ela se via em pé, ali mesmo no
ambiente físico, mas fora do corpo, lá estava o sofá e nele seu corpo físico,
deitado, em repouso, enquanto ela o contemplava por alguns momentos, como que
observando se estava tudo bem mesmo e, em seguida, partia para seu destino,
fosse qual fosse.
Das primeiras vezes, as
saídas eram angustiantes, porque, sem saber do que se tratava e exatamente o
que se passava com ela, temia, como todas as pessoas, o desconhecido e seus
riscos, imaginários ou reais. Aos poucos foi observando, porém, que não corria
perigo algum, não se perdia nem morria só porque se afastava do corpo em
repouso. Essa confiante tranqüilidade produziu uma sensação de segurança que
facilitava consideravelmente o processo, uma vez que ela decidiu não oferecer
resistência a ele. Vencido o temor, as impressões desagradáveis desapareceram e
os desdobramentos passaram a ser mais suaves e interessantes.
Mais familiarizada com o
fenômeno, começou a observar que também ocorria à noite, Parece, não obstante,
que era mais fácil tomar conhecimento dele na volta ao corpo em vez de na ida.
Notou isto ao perceber que, ao levantar-se no meio da noite para tomar água ou
ir ao banheiro, por exemplo, nem sempre conseguia 'levar' consigo o corpo
físico, nas primeiras tentativas. Era assim: sentava-se na cama para se
levantar, mas observava o 'outro eu' deitado, ou seja, metade dela estava
sentada na cama e a outra metade deitada. Era preciso deitar-se de novo, em
espírito, 'apanhar' o corpo físico, por um impulso da vontade, e então
levantar-se inteirinha, com os dois corpos fundidos um no outro para as
providências que desejava tomar.
Ocorria também acordar
durante a noite e ver duas cabeças suas, uma virada para o canto, por exemplo,
e outra para o lado de fora da cama. Detalhe: 'a outra' é que estava dormindo,
ou seja, o corpo físico.
Uma vez lidos O livro dos
espíritos e O livro dos médiuns, ela passou a entender melhor os fenômenos e a
observá-los com maior proveito para seu aprendizado. Mal sabia, àquela altura,
que o treinamento das faculdades de desdobramento pelos diversos processos era
a base do preparo para o exercício futuro de faculdades mediúnicas que, no
devido tempo, estariam acopladas e prontas para entrar em serviço. Nessa época
já se convencera de que o desdobramento era um fenômeno natural que nenhum dano
lhe poderia causar e que, ao contrário, lhe proporcionava oportunidades
valiosas para importantes observações e aprendizado.
Certa noite, uma de suas
irmãs dormiu em sua casa com um filho menor, de quatro anos de idade, A criança
estava resfriada e tossia muito. Como o apartamento era pequeno e havia uma só
cama, ou melhor, um sofá, Regina cedeu-o à irmã e ao menino e improvisou para
si mesma uma cama no chão. Estava absorta em seus pensamentos, perfeitamente
acordada (irmã e \ menino já adormecidos), quando, de repente, viu-se
desdobrada. Bem mais familiarizada com o processo, não criava resistências e
por isso aprendera a dominar bem seu mecanismo. Uma vez fora do corpo físico,
deitado aos seus pés, examinou o ambiente à sua volta. Lá estavam a irmã e o
menino adormecidos no sofá e seu próprio corpo ali no chão, em repouso. Ouviu a
criança a tossir e continuou suas observações exploratórias. Caminhou pela sala
e foi até uma saleta contígua, na entrada. Chegou junto à parede, do outro lado
a qual era o apartamento vizinho e pensou: "Estou desdobrada; esta parede
não existe para mim. Se quiser, posso atravessá-la, mas não devo fazê-lo porque
estaria invadindo a privacidade alheia."
Voltou-se para o
interior, onde o corpo físico continuava em repouso. O menino tossiu e ela o
viu agitar-se. 'Deitou-se' então sobre o corpo físico e, assumindo-lhe os
controles, abriu os olhos físicos. A criança voltou a tossir e ela pensou:
"É, o menino continua tossindo; realmente me desdobrei.
Interessante!" Ouvira, pois, a criança tossindo, tanto na condição de
vigília como na de desdobramneto, fora do corpo físico. Em seguida, adormeceu e
desdobrou-se novamente, desta vez pelo sono natural, e sem consciência, a
partir daí, do que fazia e para onde seguia.
Diversidade dos Carismas, Hermínio Miranda,
Vol I, Cap. VI - 3. Desdobramento em desdobramento
É comum observar-se em
Regina o trabalho mediúnico específico e bem caracterizado em desdobramento. Em
várias oportunidades, em vez de o espírito manifestante ser 'trazido' ao grupo,
ela é que vai ao encontro dele, o que dá conhecimento antecipado ao dirigente
dos trabalhos. Desprende-se e é levada pelos amigos espirituais. Não sei bem o
que se passa nesses casos, mas suponho que lá é que se promove a ligação do
manifestante com o seu perispírito e, como este continua ligado ao corpo
físico, a comunicação psicofônica ocorre normalmente, possibilitando o diálogo
com o doutrinador. (...)
Em outras oportunidades,
Regina tem trabalhado mediunicamente, ou seja, funcionando como médium, estando
já desdobrada, no plano espiritual. De um desses episódios ela se lembra com
nitidez.
Era uma reunião ao ar
livre, em algum local não-identificado no mundo invisível. Havia um lindo
gramado e as pessoas sentavam-se ao chão descontraidamente. Um casal, que
parecia coordenar os trabalhos, conduziu Regina a uma pequena mesa, em frente
ao grupo de pessoas espalhadas pela grama. Ela sentou-se e orou, em silêncio,
por alguns momentos. Formou-se um cone de luz, vindo não sabe ela de onde e que
terminava aberto sobre sua cabeça, envolvendo-a até o pescoço como um imenso
capuz luminoso que se estendia pelo infinito afora. Fez-se um silêncio
respeitoso e ela começou a falar sobre o perdão, sentindo-se mero instrumento
de ligação entre um plano e outro, tal como na atividade mediúnica habitual, no
grupo terreno.
Há outra lembrança
semelhante. Já desdobrada, ela foi conduzida a um auditório ou cenáculo enorme,
lotado de gente encarnada e desencarnada. Sentia-se algo nervosa e tensa,
talvez ante a perspectiva da responsabilidade de que sabia ter de
desincumbir-se. Um homem, amigo seu no plano físico, ali presente, levou-a a
uma salinha ao lado, fez uma prece e ministrou-lhe um passe. Ela acalmou-se e,
juntos, voltaram ao salão. O seu amigo sentou-se e ela foi colocada na frente
daquela pequena multidão. Novamente ocorreu o fenômeno do cone de luz sobre sua
cabeça, a envolvê-la, e a entidade comunicante pôs-se a falar, evidentemente à
distância. Infelizmente, Regina não se lembra de nada do que por seu intermédio
falou o espírito, nem quem seria ele.
Um desses fenômenos ficou
mais bem marcado na sua memória de vigília.
Ao retornar da reunião
mediúnica semanal, no plano físico, chegou à sua casa vinte minutos antes da
meia-noite. Banhou-se, tomou um lanche, leu uma página do livro Vinha de Luz,
orou e deitou-se. Após um sono mais ou menos breve, acordou normalmente e, logo
em seguida, voltou a adormecer. Viu-se, desdobrada, integrando um grupo de
pessoas encarnadas que se preparavam para seguir para um local onde
participariam de uma reunião no mundo espiritual.
Puseram-se a caminhar
conversando tranqüilamente e chegaram a um local onde estava armada uma espécie
de plataforma. Aguardaram alguns momentos, até que chegou um veículo parecido
com um helicóptero que transportava apenas duas pessoas de cada vez, além da
que manobrava o aparelho. Regina não deixou de manifestar certo receio e chegou
a comentar com uma companheira: - Acho que vou ter medo; imagine se a gente cai
lá de cima. Isto porque o veículo não era fechado e os dois assentos destinados
aos 'passageiros' pendiam sobre o espaço, como os de um teleférico. Chegada a
sua vez, embarcou no estranho veículo juntamente com outra pessoa e a 'coisa'
começou a subir e subir e parecia nunca mais chegar ao seu destino. Mas chegou.
Era uma nova plataforma onde o aparelho pousou e elas desceram. Ali também o
espaço 'físico' era exíguo e precário. Parecia apenas uma estreita prancha
suspensa sobre a imensidão do espaço vazio. Uma pessoa as recebeu e as conduziu
ao local da reunião, aonde chegaram sãs e salvas.
Era um salão amplo, numa
construção também muito ampla, arejada e pintada de branco. Tudo muito simples,
quase primitivo e rústico. No salão principal, havia filas de bancos toscos
para o público. Respirava-se uma atmosfera de paz indizível. À frente dos
bancos destinados ao público, um pouco à direita, ficavam outros, onde se
encontravam algumas pessoas já sentadas, todos obviamente à espera do orador
convidado para aquela noite.
Regina sabia que o grupo
responsável pela instituição que funcionava naquela construção estava ligado
aos pioneiros do cristianismo primitivo e via lá entidades veneráveis; algumas
ela identificou, outras, não. Seu amigc espiritual - que acompanhara o
desenvolvimento de suas faculdades desde o início, como vimos - também estava
lá. Foi das raras vezes em que ela esteve pessoalmente com ele ou pelo menos
das vezes em que se lembra de ter estado com ele.
Havia grande expectativa
enquanto se aguardava o orador da noite, que fora um dos grandes pregadores dos
tempos primitivos do cristianismo. Ela foi informada de que este espírito era o
coordenador do movimento de restauração do cristianismo à sua pureza primitiva.
Era sobre isso, aliás, que estava programado para falar.
No momento seguinte, ela
viu-se desdobrada pela segunda vez, pois foi informada de que iria trabalhar
mediunicamente, ou seja, colaborar, através de suas faculdades, com a tarefa da
noite, logo em seguida, vê a entidade a falar. Era uma figura esbelta, alta,
vestida com uma túnica simples, cor alaranjada. É a primeira a surpreender-se
com o seu desdobramento em desdobramento: - Como posso eu, já estando aqui -
pensou ela -, ser desdobrada outra vez: Em verdade, ela via a sua própria forma
perispiritual ser utilizada no trabalho, perfeitamente consciente de estar
sentada na primeira fila entre os assistentes. Era como uma materialização,
pois à medida que pessoa falava e gesticulava, ela sentia a repercussão dos
gestos e da fala como se ela própria estivesse a falar e fazer os mesmos
movimentos. Regina surpreendeu-se por um rápido momento a pensar: - Nem mesmo
aqui consigo ficar totalmente inconsciente!
Quando a reunião
terminou, generalizou-se uma conversação fraterna e descontraída. Regina foi
levada a uma sala onde pôde, então, falar pessoalmente com o seu amigo
espiritual, a quem tanto ama, admira e respeita. Falaram, a princípio, de
alguns problemas pessoais que a afligiam no momento (lá embaixo, na Terra, e
depois ela lhe perguntou como teria sido possível aquele segundo desdobramento,
já que ela se encontrava desdobrada do corpo físico que repousava no seu quarto
de dormir. Ele disse que sim, aquilo era possível, tanto que ocorreu, mas não
se estendeu em explicações. Acrescentou que se haviam utilizado do recurso
porque era muito importante para ela ouvir o que a entidade tinha a dizer e
daquela forma seria mais fácil para ela gravar e reter na memória de vigília, o
que de fato ocorreu, pois ela guardou, em suas linhas gerais, os principais
tópicos da palestra da noite.
4. SINGULARIDADES DO
MUNDO ESPIRITUAL
Nunca se sabe, ao certo,
que tipo de atividade está planejada para cada um dos desdobramentos de Regina,
quando ela se retira para o seu quarto de dormir. Nem todos, claro, são
'viagens a serviço'. Às vezes são de recreio também. Encontros com pessoas
amadas, das quais ela se acha separada, aqui no plano físico, por motivos e
compromissos vários, ou com amigos espirituais que, embora não nominalmente
identificados, ela sabe que são pessoas muito queridas, às quais se ligou em
passado remoto e que continuam fiéis aos vínculos de afeição. Em tais ocasiões,
há alegrias e emoções profundas em ambientes de beleza indescritível nos quais
a paz, a harmonia e o amor não são apenas palavras soltas e vagos conceitos
insubstanciais, mas são da própria essência das coisas, como se aqueles mundos
fossem constituídos com esses elevados sentimentos e não como o nosso, de
matéria densa. E, no entanto, eles são tão sólidos e reais como este, mas sem
as opressões e inquietações que aqui experimentamos. Parece que os amigos
espirituais desejam nos proporcionar com isto alguns momentos de 'recreio', uma
visita a locais que, um dia, serão o nosso próprio 'habitat'. Enquanto não
construirmos em nós as fundações do reino de Deus, só nos resta sonhar com
aqueles ambientes de serenidade e visitá-los ocasionalmente. (...)
Alguns de nós, como
Regina, visitam, ocasionalmente, regiões mais purificadas, ainda que não
consigamos sequer chegar perto das mais elevadas. Vimos, ainda há pouco, na
experiência em que ela funcionou como médium após passar por um segundo
desdobramento, a inconcebível distância espiritual entre o plano em que vivemos
e aquele em que se passaram as atividades que ela descreve. Para figurar
objetivamente essa distância, que é vibratória, é moral, que não é mensurável
em termos geográficos, o seu sistema de codificação pessoal traduziu a viagem
em símbolos oníricos: primeiro a caminhada em grupo e, em seguida, o transporte
numa espécie de helicóptero no qual apenas duas pessoas de cada vez poderiam
embarcar, como que a sugerir que raras pessoas poderiam ser selecionadas para
essa 'viagem'; parecia um teleférico em que o passageiro ficava sentado numa
cadeira individual pendurado sobre imensos abismos. É de se supor que a um
descuido mais sério em qualquer ponto da trajetória, como um pensamento
impróprio ou um momento de invigilância, poderia o viajante precipitar-se de
volta àquele minúsculo grãozinho de poeira cósmica em que vivemos, presos a um
bloco de carne e ossos ... mesmo depois que o aparelho depositou as pessoas,
duas a duas, em algum ponto identificável, ainda houve necessidade de um guia
que a levasse à instituição a que se destinavam.
Outro pormenor
interessante é o de que ela teve de ser desdobrada novamente, numa forma ainda
mais sutil que a perispirítica, a fim de poder funcionar como médium de apoio
ao orador que veio de regiões muito mais elevadas do que aquela em que se
encontravam reunidos os que vieram ouvi-lo.
5. PSICOLOGIA DO
DESDOBRAMENTO
Habituada aos
desdobramentos ocorridos ao longo de anos de experiência quase diária, Regina
passou a considerá-los como atividade rotineira, em paralelo com o exercício de
suas faculdades, seja antecipando trabalhos mediúnicos em preparação, seja
complementando-os posteriormente, bem como em reuniões de instrução e de
aprendizado, como vimos. Não lhe é difícil, portanto, manter sua lucidez no
decorrer do processo, ainda que o desprendimento seja conseqüência do sono
comum. Logo que ocorre o desdobramento - que não apresenta mais aquelas tensões
e receios - ela tem consciência de estar fora do corpo físico, sabe onde está e
o que está fazendo. O mais importante, contudo, é o que se poderia chamar de
deslocamento do centro de interesse com a sua conseqüente alteração na
perspectiva e nas prioridades. Uma vez destacada do corpo físico é como se algo
mudasse na sua própria psicologia ou, pelo menos, na maneira de considerar
importantes aspectos da vida. Na posse de um corpo mais sutil, que melhor
obedece aos seus comandos mentais e certamente com acesso mais fácil a um vasto
mundo de informações e perspectivas, sente-se, de fato, outra pessoa. É como se
ficassem naquele corpo adormecido e pesado as motivações de muitas angústias e
problemas. Não que tais sensações deixem de existir porque os problemas, ela
bem o sabe, continuam, mas se posicionam em novos arranjos, numa diferente
hierarquia de valores. No corpo mais sutil, mais senhora de si mesma, ela chega
até a lamentar a perda de tempo com aspectos de sua vida que não têm, afinal de
contas, a importância com que se apresentam à sua ótica de encarnada, contida
pelas bem-definidas limitações da vida física:
- É como se eu não tivesse
nada a ver com os problemas daquela mulher adormecida que ficou lá na minha
cama ... - diz Regina.
Como se tudo aquilo que
ela é e representa fossem coisas de outro mundo, de outra pessoa, com a qual
ela está vagamente relacionada.
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