Casa Espírita Missionários da Luz – ESDE2 - 27/10/2015
Tema: Do Atendimento aos Espíritos Sofredores
Objetivos:
Analisar as
características do atendimento espiritual aos Sofredores.
Bibliografia:
O Céu e o Inferno –
2ª Parte - Cap. III e IV
Diálogo com as Sombras – Hermínio C. Miranda
O Exilado
– Hermínio C. Miranda, cap. 7 ‘Será Que Deus acredita em mim?’
Material: cópia dos textos de cada grupo; texto - O Céu e o Inferno, 2ª.parte, cap.IV ‘O
Castigo’ – enviar por email.
Desenvolvimento:
- Prece inicial.
- Iniciar falando
que nosso objetivo hoje é estudar as características de alguns Espíritos
em sofrimento, e como ajudá-los na reunião mediúnica.
3. Separar o grupo em 4 subgrupos para estudo dos
casos:
- Diálogo com as Sombras
– trecho do item ‘o Perseguido’, cap. 2;
- O Céu e o Inferno,
2ª.parte, cap.IV trecho do item ‘Claire’;
- O Exilado, trecho do cap. 7 ‘Será Que Deus
acredita em mim?’.
- Diálogo com as Sombras
– trecho do cap. 4 (Diálogo) e cap 2 (Mulheres).
Cada grupo deverá
estudar o texto e verificar:
- característica do
Espírito e sua situação no PE;
- como auxiliá-lo na
doutrinação.
4. Apresentação dos grupos.
5. Prece final
6. Anexos
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O Céu e o Inferno,
2ª.parte cap. IV - O CASTIGO
Exposição geral do estado
dos culpados por ocasião da entrada no mundo dos Espíritos, ditada à Sociedade
Espírita de Paris, em outubro de 1860.
“Depois da morte, os
Espíritos endurecidos, egoístas e maus são logo presas de uma dúvida cruel a respeito
do seu destino, no presente e no futuro. Olham em torno de si e nada vêem que
que possa aproveitar ao exercício da sua maldade — o que os desespera, visto
como o insulamento e a inércia são intoleráveis aos maus Espíritos.
Não elevam o olhar às moradas
dos Espíritos elevados, consideram o que os cerca e, então, compreendendo o
abatimento dos Espíritos fracos e punidos, se agarrarão a eles como a uma
presa, utilizando-se da lembrança de suas falas passadas, que eles põem
continuamente em ação pelos seus gestos ridículos.
Não lhes bastando esse
motejo, atiram-se para a Terra quais abutres famintos, procurando entre os
homens uma alma que lhes dê fácil acesso às tentações. Encontrando-a, dela se
apoderam exaltando-lhe a cobiça e procurando extinguir-lhe a fé em Deus, até
que por fim, senhores de uma consciência e vendo segura a presa, estendem a
tudo quanto se lhe aproxime a fatalidade do seu contágio.
O mau Espírito, no
exercício da sua cólera, é quase feliz, sofrendo apenas nos momentos em que
deixa de atuar, ou nos casos em que o bem triunfa do mal. Passam no entanto os
séculos, e, de repente, o mau Espírito pressente que as trevas acabarão por
envolvê-lo; o círculo de ação se lhe restringe e a consciência, muda até então,
faz--lhe sentir os acerados espinhos do remorso.
Inerte, arrastado no
turbilhão, ele vagueia, como dizem as Escrituras, sentindo a pele
arrepiar-se-lhe de terror. Não tarda, então, que um grande vácuo se faça nele e
em torno dele: chega o momento em que deve expiar; a reencarnação aí está
ameaçadora... e ele vê como num espelho as provações terríveis que o aguardam;
quereria recuar, mas avança e, precipitado no abismo da vida, rola em
sobressalto, até que o véu da ignorância lhe recaia sobre os olhos. Vive, age,
é ainda culpado, sentindo em si não sei que lembrança inquieta, pressentimentos
que o fazem tremer, sem recuar, porém, da senda do mal. Por fim, extenuado de
forças e de crimes, vai morrer. Estendido numa enxerga (ou num leito, que
importa?!), o homem culpado sente, sob aparente imobilidade, revolver-se e
viver dentro de si mesmo um mundo de esquecidas sensações. Fechadas as pupilas,
ele vê um clarão que desponta, ouve estranhos sons; a alma, prestes a deixar o
corpo, agita-se impaciente, enquanto as mãos crispadas tentam agarrar as
cobertas... Quereria falar, gritar aos que o cercam: — Retenham-me! eu vejo o
castigo! — Impossível! a morte sela-lhe os lábios esmaecidos, enquanto os
assistentes dizem: Descansa em paz!
E contudo ele ouve,
flutuando em torno do corpo que não deseja abandonar. Uma força misteriosa o
atrai; vê, e reconhece finalmente o que já vira. Espavorido, ei-lo que se lança
no Espaço onde desejaria ocultar-se, e nada de abrigo, nada de repouso.
Retribuem-lhe outros
Espíritos o mal que fez; castigado, confuso e escarnecido, por sua vez vagueia
e vagueará até que a divina luz o penetre e esclareça, mostrando-lhe o Deus
vingador, o Deus triunfante de todo o mal, e ao qual não poderá apaziguar senão
à força de expiação e gemidos.
Georges.”
Nunca se traçou quadro
mais terrível e verdadeiro à sorte do mau; será ainda necessária a
fantasmagoria das chamas e das torturas físicas?
O Céu e o Inferno,
2ª.parte cap. IV - ‘CLAIRE’ (Sociedade de Paris, 1861)
O Espírito que forneceu
os ditados seguintes pertenceu a uma senhora que o médium conhecera quando na Terra.
A sua conduta, como o seu caráter, justificam plenamente os tormentos que lhe
sobrevieram. Além do mais, ela era dominada por um sentimento exagerado de
orgulho e egoísmo pessoais, sentimento que se patenteia na terceira das
mensagens, quando pretende que o médium apenas se ocupe com ela. As
comunicações foram obtidas em diferentes épocas, sendo que as três últimas já
denotam sensível progresso nas disposições do Espírito, graças ao cuidado do
médium, que empreendera a sua educação moral.
1. Eis-me aqui, eu, a
desgraçada Claire. Que queres tu que te diga? A resignação, a esperança não
passam de palavras, para os que sabem que, inumeráveis como as pedras da
saraivada, os sofrimentos lhe perdurarão na sucessão interminável dos séculos.
Posso suavizá-los, dizes tu... Que vaga palavra! Onde encontrar coragem e
esperança para tanto? Procura, pois, inteligência obtusa, compreender o que seja
um dia eterno. Um dia, um ano, um século... que sei eu? se as horas o não dividem,
as estações não variam; eterno e lento como a água que o rochedo roreja, este
dia execrando, maldito, pesa sobre mim como avalancha de chumbo... Eu sofro!...
Em torno de mim, apenas sombras silenciosas e indiferentes... Eu sofro!
(...)
3. Por que me esqueces, até
aqui venho procurar-te. Acreditas que preces isoladas e a simples pronúncia do
meu nome bastarão ao apaziguamento das minhas penas? Não, cem vezes não. Eu
urro de dor, errante, sem repouso, sem asilo, sem esperança, sentindo o
aguilhão eterno do castigo a enterrar-se-me na alma revoltada. Quando ouço os vossos
lamentos, rio-me, assim como quando vos vejo aba tido. As vossas efêmeras
misérias, as lágrimas, tormentos que o sono susta, que são? Durmo eu aqui?
Quero (ouviste?) quero que, deixando as tuas lucubrações filosóficas, te ocupes
de mim, além de fazeres com que outros mais também se ocupem. Não tenho
expressões para definir esse tempo que se escoa, sem que as horas lhe assinalem
períodos. Vejo apenas um tênue raio de esperança, foste tu que ma deste: não me
abandones, pois.
4. O Espírito S. Luís. — Este quadro é de todo
verdadeiro e em nada exagerado. Perguntar-se-á talvez o que fez essa mulher
para ser assim tão miserável. Cometeu ela algum crime horrível? roubou?
assassinou? Não; ela nada fez que afrontasse a justiça dos homens. Ao
contrário, divertia-se com o que chamais felicidade terrena; beleza, gozos,
adulações, tudo lhe sorria, nada lhe faltava, a ponto de dizerem os que a viam:
— Que mulher feliz! E invejavam-lhe a sorte. Mas, quereis saber?
Foi egoísta; possuía
tudo, exceto um bom coração. Não violou a lei dos homens, mas a de Deus, visto
como esqueceu a primeira das virtudes — a caridade. Não tendo amado senão a si
mesma, agora não encontra ninguém que a ame e vê-se insulada, abandonada, ao
desamparo no Espaço, onde ninguém pensa nela nem dela se ocupa.
Eis o que constitui o seu
tormento. Tendo apenas procurado os gozos mundanos que hoje não mais existem, o
vácuo se lhe fez em torno, e como vê apenas o nada, este lhe parece eterno. Ela
não sofre torturas físicas; não vêm atormentá-la os demônios, o que é aliás
desnecessário, uma vez que se atormenta a si mesma, e isso lhe é mais doloroso,
porquanto, se tal acontecesse, os demônios seriam seres a ocuparem-se dela. O
egoísmo foi a sua alegria na Terra; pois bem, é ainda ele que a persegue —
verme a corroer-lhe o coração, seu verdadeiro demônio.
S. Luís.
(...)
Estudo sobre as
comunicações de Claire (São Luís)
Estas
comunicações são instrutivas por nos mostrarem principalmente uma das feições
mais comuns da vida — a do egoísmo. Delas não resultam esses grandes crimes que
atordoam mesmo os mais perversos, mas a condição de uma turba enorme que vive
neste mundo, honrada e venerada, somente por ter um certo verniz e isentar-se
do opróbrio da repressão das leis sociais. Essa gente não vai encontrar
castigos excepcionais no mundo espiritual, mas uma situação simples, natural e
consentânea com o estado de sua alma e maneira de viver. O insulamento, o
abandono, o desamparo, eis a punição daquele que só viveu para si. Claire era,
como vimos, um Espírito assaz inteligente, mas de árido coração. A posição
social, a fortuna, os dotes físicos que na Terra possuíra, atraiam-lhe
homenagens gratas à sua vaidade — o que lhe bastava; hoje, onde se encontra, só
vê indiferença e vacuidade em torno de si.
Essa punição é não
somente mais mortificante do que a dor que inspira piedade e compaixão: mas é
também um meio de obrigá-la a despertar o interesse de outrem a seu respeito,
pela sua morte.
A sexta mensagem encerra
uma idéia perfeitamente verdadeira concernente à obstinação de certos Espíritos
na prática do mal.
Admiramo-nos de ver como
alguns deles são insensíveis à idéia e mesmo ao espetáculo da felicidade dos
bons Espíritos. É exatamente a situação dos homens degradados que se deleitam
na depravação como nas práticas grosseiramente sensuais. Esses homens estão,
por assim dizer, no seu elemento; não concebem os prazeres delicados,
preferindo farrapos andrajosos a vestes limpas e brilhantes, por se acharem
naqueles mais à vontade. Daí a preterição de boas companhias por orgias
báquicas e deboches. E de tal modo esses Espíritos se identificam com esse modo
de vida, que ela chega a constituir-lhes uma segunda natureza, acreditando-se
incapazes mesmo de se elevarem acima da sua esfera. E assim se conservam até
que radical transformação do ser lhes reavive a inteligência, lhes desenvolva o
senso moral e os torne acessíveis às mais sutis sensações.
Esses Espíritos, quando
desencarnados, não podem prontamente adquirir a delicadeza dos sentimentos, e,
durante um tempo mais ou menos longo, ocuparão as camadas inferiores do mundo
espiritual, tal como acontece na Terra; assim permanecerão enquanto rebeldes ao
progresso, mas, com o tempo, a experiência, as tribulações e misérias das
sucessivas encarnações, chegará o momento de conceberem algo de melhor do que
até então possuíam. Elevam-se-lhes por fim as aspirações, começam a compreender
o que lhes falta e principiam os esforços da regeneração.
Uma vez nesse caminho, a
marcha é rápida, visto como compreenderam um bem superior, comparado ao qual os
outros, que não passam de grosseiras sensações, acabam por inspirar-lhes
repugnância.
(...)
Ele (o desencarnado) pode lutar, e o faz mesmo geralmente com mais
violência do que o encarnado, visto ser mais livre. Nenhuma cogitação de
interesse material, de posição social se lhe antepõe ao raciocínio. Luta por
amor do mal, porém cedo adquire a convicção da sua impotência, em face da
superioridade moral que o domina; a perspectiva de melhor futuro lhe é mais
acessível, por se reconhecer na mesma vida em que se deve completar esse
futuro; e essa visão não se turva no turbilhão dos prazeres humanos. Em uma
palavra, a independência da carne é que facilita a conversão, principalmente quando
se tem adquirido um tal ou qual desenvolvimento pelas provações cumpridas.
(...)
Todo e qualquer ato que
não vise aperfeiçoar a alma, não poderá desviá-la do mal.
S. Luís.
- Diálogo com as Sombras
– trecho do item ‘o Perseguido’, cap. 2;
Também neste
ponto tivemos, certa vez, uma experiência inesquecível. Um companheiro
desencarnado, em lamentável estado de desorientação, perseguido por uma pequena
multidão de implacáveis obsessores, acabou por ser recolhido pelos
trabalhadores do bem. Alguns de seus perseguidores foram tratados e reeducados
moralmente, como ensina Kardec. Outros se afastaram, por sentir que a vítima
punha-se fora de seu alcance. Alguns deles continuaram a ser levados ao grupo
de desobsessão, a fim de serem doutrinados, e, no desespero em que viviam,
descarregavam todo o seu rancor e agressividade sobre os componentes da equipe
de socorro, especialmente contra o doutrinador, por ser este o porta-voz,
aquele que fala e procura convencê-los a abandonar seus propósitos, que eles julgam
justíssimos.
Pois bem. Certa
noite, volta, para receber os nossos cuidados, o companheiro que havia sido
recolhido. Estava novamente em poder de um impiedoso hipnotizador, de quem já o
havíamos subtraído, a duras penas. Ele próprio confessou o seu drama: recaira
na faixa vibratória de seus perseguidores, ao deixar tombar as guardas que o
protegiam. No decorrer do diálogo revelou-se mais impaciente do que nunca,
exigindo, quase, solução imediata para o seu caso, pedindo a presença de
parentes, sem nenhum desejo de entregar-se à prece e, acima de tudo, pronto
para a vingança! “Assim que estivesse em condições” — e exatamente por isso não
conseguia alcançar tais condições — “ele”, o obsessor, “iria ver...”
Meu Deus, como poderemos negar o perdão ao que nos feriu, se o exigimos
para nós, exatamente para as dores que resultaram da nossa imprudência em ferir
os outros?
O obsidiado só pensa em livrar-se de seus adversários, a qualquer preço,
mas se esquece, ou ignora, que ele também está em dívida perante a lei, pois,
de outra maneira, não estaria sujeito à obsessão, o obsessor, por sua vez,
procura punir o companheiro que o fez sofrer, deslembrado de que ele próprio
criou, com a sua incúria, as condições para merecer a dor que lhe é infligida.
Julga-se no direito de cobrar, pensando assim cumprir a lei de Deus, para que a
“justiça” se faça. E, de fato, a lei do equilíbrio universal coloca o ofensor
ao alcance da punição, que é, em suma, a oportunidade do reajuste. Por isso,
dizia o nosso Paulo, em sua penetrante sabedoria:
— Tudo me é lícito, mas nem tudo me
convém.
Com freqüência, os perseguidos apresentam-se em nossos grupos, nos
primeiros momentos da libertação. Quantos dramas, Senhor! Vêm transidos de
pavor, cansados de prisões tenebrosas, fugindo de obsessões que lhes parecem
terem durado uma eternidade. Esgotaram todo o cálice de profundas amarguras,
sofreram todos os tormentos, passaram por todas as humilhações, submeteram-se a
caprichos e desmandos, cumpriram ordens iníquas.
Um desses nos disse que estivera num dos calabouços infectos das trevas,
onde nem chorar podia. Passaram-se séculos. Só nos pôde dizer que foi um
sacerdote e que traiu alguém. Sente agora o peso de um enorme arrependimento e,
quando convidado a orar comigo, não tem coragem de dirigir-se a Deus, pois se
julga o último dos réprobos. A muito custo, consegue murmurar uma palavra:
- Jesus!...
E fala baixinho,
consigo mesmo:
— Que sacrilégio,
meu Deus!
Outro, também
egresso de um calabouço, não conseguia articular a palavra; fazia entender-se
por gestos. Trazia um peso na cabeça, que o obrigava a manter-se curvado sobre
si mesmo e, além de tudo, estava cego.
Um terceiro
apresenta-se com as “carnes” roídas pelos “ratos” e “baratas”, após um longo
período de reclusão.
Quase todos
trazem ainda no perispírito os estigmas de suas penas: cegueira, deformações e
mutilações, e, na mente, a lembrança de torturas e horrores inconcebíveis.
Subitamente, ao
cabo de agonias seculares, durante as quais resgataram-se através da dor,
escapam à sanha de seus perseguidores, tornam-se inacessíveis aos seus
processos, evadem-se das masmorras e libertam-se do domínio magnético sob o
qual se encontravam. Em suma: a Lei disse o “Basta!” a que até mesmo o mais
terrível perseguidor tem de obedecer, ao assistir, impotente, à escapada da
vítima. Chegou ao fim o processo corretivo e reajustador. Antes, era
impossível: ninguém conseguiria interromper o curso da dor.
Este é o exemplo
vivo da experiência mediúnica. Espíritos superiores, e já redimidos, seguem-nos
os passos, até mesmo às profundezas da dor mais horrenda, sem poderem
interferir senão com uma prece, ou uma vibração amorosa, pois o pobre
companheiro transviado nem mesmo a presença dos amigos maiores pode perceber.
Chegado, porém, o momento, tudo se precipita. Os mensageiros do bem estão
apenas à espera de uma prece, ainda que somente esboçada, de um impulso de
arrependimento, de um gesto de boa-vontade ou de perdão. Lembram-se da
advertência do Cristo?
— Reconcilia-te
com teu adversário enquanto estás a caminho com ele, para que não te arraste
ele ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial de justiça, e este te ponha no
cárcere. Digo-te que não sairás de lá enquanto não tiveres pago o último
centavo.
Não está bem
claro?
E muitos ainda
acham que o Evangelho é só literatura... ou só poesia, ideal, inatingível...
Razão de sobra teve Kardec para optar pela adoção da moral evangélica, pois há
mais sabedoria e ciência nos textos ali preservados, do que em todos os
tratados de psicologia jamais escritos e nos que ainda se escreverão. A
problemática do ser humano, suas complexidades e seus mecanismos de reajuste,
estão inseparavelmente ligados aos conceitos fundamentais da moral. Um dia, a
psicologia e a psiquiatria descobrirão o Cristo.
- Diálogo com as Sombras – trecho do item do, cap. 4;
O DESENVOLVIMENTO DO DIÁLOGO. FIXAÇÕES. CACOETES. DORES “FÍSICAS”.
DEFORMAÇÕES. MUTILAÇÕES.
Em uma
oportunidade, tivemos também um caso, intensamente dramático, de um pobre
sofredor, guilhotinado na França, durante a Revolução. Desde então — segundo
apuramos em seguida — trazia a cabeça “destacada do corpo”, na mão direita,
segura pelos cabelos. O diálogo inicial foi difícil, pois convicto de que
estava sem cabeça, ele não tinha condições de falar. A custo, porém, o fui
convencendo de que podia falar através do médium. Vivia apavorado ante a idéia
de perder de vista a cabeça e nunca mais recuperá-la. Enquanto a tivesse ali, à
mão, mesmo decepada, alimentava a esperança de “repô-la” no lugar. Isto foi
possível fazer, com a graça de Deus. Oramos e lhe demos passes. Subitamente,
ele sentiu que a cabeça voltara à sua posição correta. Louco de alegria, ele
apalpava-se e só sabia repetir:
— Ela está aqui! Ela
está aqui!...
E conferia, com a
ponta dos dedos, toda a anatomia facial e craniana: os olhos, o nariz, a boca,
as orelhas. Estava tudo lá. E dizia:
— Posso falar! Estou
falando!
Queria saber quem
fizera o “milagre” de “colar” a cabeça novamente no lugar próprio. Quanto ao
que lhe acontecera, não acreditava que Deus o tivesse feito, para castigá-lo,
pois Deus não permitiria que um homem andasse sem cabeça por tanto tempo.
Levo-o cautelosamente para uma introspecção, tentando fazer que ele encontre em
si mesmo a razão do seu espantoso sofrimento. Explico-lhe que vivemos muitas
existências, embora as esqueçamos. Em alguma de suas vidas anteriores ele
encontraria a explicação. “Provavelmente”, digo-lhe, “você andou também
cortando a cabeça de alguém”. É verdade, isso. Ele se lembra, agora, que eram infiéis
a Jeová e, depois de condenados, ele os executava. Reviu até a fila de
espera...
(...)
LINGUAGEM
ENÉRGICA
Certo Espírito
apresentou-se-nos, certa vez, em estado de terrível agitação. Caíra em poder de
implacável hipnotizador, que o reduzira ao mais extremo desespero.
Aproveitando-se da incorporação ao médium e da proteção do grupo, falou
aflitivamente de seu problema. Este é o irmão a que já me referi, ao contar
que, depois de recolhido pelos trabalhadores espirituais, recaíra em poder de
seu perseguidor. Quando me levanto para ajudá-lo, reclama, em altos brados e
com desprezo, que de nada valem meus passes e minhas preces. Deseja morrer,
desintegrar-se. Contraditoriamente, diz, a seguir, que se vingará
implacavelmente de seu obsessor, quando conseguir pegá-lo. Está possuído de
intenso ódio e de muita revolta. A uma palavra minha, diz que sim, que pediu a
Deus, mas que isso de nada adiantou.
Este é o momento
em que certa dose de energia torna-se de imperiosa necessidade. Ele foi
recolhido, pelo nosso grupo, em estado de pânico e aflição indescritíveis, pois
desencarnara, muito jovem, em condições dolorosas e trágicas. Foi socorrido e
encaminhado a uma instituição hospitalar do Espaço. A despeito de todo o
cuidado, e do carinho de nossos dedicados irmãos, resvala novamente no
precipício da desarmonia, que o recoloca à mercê de seus perseguidores. Agora,
mais desarvorado do que nunca, exige
uma solução para o seu caso, deblaterando contra a ineficácia dos nossos
métodos de trabalho.
É hora de
falar-lhe com mais firmeza, ainda que sem o mais leve traço de arrogância, de
ressentimento ou de condenação. Ele precisa, ainda e sempre, de compreensão e
de esclarecimento, mas tem que reconhecer, também, que Deus não se acha à nossa
disposição, para atender a qualquer capricho ou cumprir ordens.
Digo-lhe, pois,
que ele não pediu a Deus; ele tentou
exigir de Deus um imediato alívio
para os seus males, que, afinal de contas, são decorrência de suas próprias
faltas contra a lei divina. Não é assim que as coisas funcionam. Por outro
lado, também não posso lhe tirar a dor, como num passe de mágica. Ele deve
convencer-se de que precisa ser mais humilde, mais paciente. A essa altura,
porém, seu hipnotizador, que se achava presente, recomeçou a indução, para
impedir que ele escapasse novamente do seu poder.
O Exilado – Hermínio
Miranda, Cap 7
SERÁ QUE DEUS ACREDITA EM MIM?
Esta é a história de
um ser que sofria por não sofrer, por não sentir nas profundezas de si mesmo
senão o imenso vazio da aridez, a solidão, o desencanto, a desesperança.
Estivera conosco na semana anterior mas não houvera tempo para continuarmos o
diálogo e ele retirou-se.
Voltou na semana
seguinte, ainda preso às estruturas de pensamento a que se habituara.
Continuava sem planos, sem esperanças, indiferente a tudo, inclusive quanto ao
que dele pudesse ser feito. De início, não sabia nem o que dizer. Notava,
porém, uma coisa estranha: enquanto a regra geral era prometer ajuda e esquecer
do prometido no momento seguinte, nós éramos diferentes, porque estávamos
realmente nos esforçando por ajudá-lo, com as nossas preces, a expressão do
nosso encorajamento na telepatia do amor fraterno. Isso tocara-o bastante,
enquanto aguardava uma oportunidade de voltar a falar conosco. Assistira
palestras, conversara com nossos companheiros espirituais, fizera perguntas,
observara a vida, enfim, de ângulos que lhe eram inusitados. Por isso estava
mais calmo, sentia a mente menos sobrecarregada. Vinha agradecer, mas nem tudo
estava bem, como que num passe de mágica.
Acreditava, por
exemplo, na existência de Deus, mas via agora como as coisas eram difíceis. A
gente vem para a vida de encarnado com a impressão de que viver é uma aventura
fácil como um cruzeiro, com todo o conforto e as facilidades de uma excursão. E
aí começamos a acumular erros em cima de erros e cada vez mais vamos nos
enredando pelos caminhos. (...)
Lá mesmo, na
instituição regeneradora, à qual foi recolhido temporariamente para repouso e
meditação, observou durante a semana a movimentação dos seres que ali se
encontram - alguns para servir, ajudar, instruir e a maioria para ser preparada
para novos cometimentos. Foi-lhes dito que não há mais tempo a perder; que
precisavam retornar à carne o quanto antes e que, para isso, orassem a Deus,
buscassem apoio de amigos e protetores, a fim de começar logo a tarefa da
recuperação já de muito retardada. Muitos foram os que começaram logo a
procurar informações e a fazer planos, a sonhar sonhos e alimentar esperanças.
Vira lá um companheiro que, programado para renascer sem os dois braços,
pleiteava ansiosamente abrandar a dificuldade em perspectiva, solicitando que
ao menos um braço lhe fosse concedido.
Quanto a ele, não.
"É pra cortar os dois braços? Pois sejam cortados. Precisa nascer na
imbecilidade? Está bem, serei imbecil." É tudo um só desencanto, uma só
indiferença, a secura fria, a ausência da emoção. Aceita tudo, concorda com
tudo, não discute, não pondera, não pleiteia nada. Dizem-lhe até que a sua
indiferença é uma forma de revolta, uma espécie de protesto de quem não sente
necessidade de reformar-se, o que ele admite ser verdadeiro.
O doutrinador pondera
que essa ausência incrível de emoção, deve ter suas raízes em algum episódio
extremamente doloroso no passado, que resultou num bloqueio assim tão rígido e
desesperador. A regressão, contudo, não fora feita com ele no mundo espiritual,
embora haja sido promovida em outros de seus companheiros.
- Mas, como é que
faço para achar isso? - pergunta ele. Onde que está esse elo?
O doutrinador insiste
que esse bloqueio deve ter sido provocado por uma violenta repressão do amor em
algum ponto de suas existências pregressas. Ele admite a validade da suposição
e prossegue:
- Os senhores me
ajudaram muito esta semana com os pensamentos. Porque antes, sabe, eu sentia um
silêncio terrível; agora não. É como se eu sentisse um calor diferente, como se
uma "coisa" começasse a falar dentro do meu pensamento. Comecei a
ouvir sons, sabe? Não está aquele vazio tão vazio ...
Já sente a presença
humana na sua vida. -É isso.
Sim, meu caro. Mas
além disso, você não é um ser esquecido do amor de Deus. Temos em nós uma
centelha que não se extingue, ou então, se extinguiria o nosso ser. (...)
- O senhor sabe que
nesta semana eu já me senti melhor. Senti que alguém se interessa por mim. Os
senhores pensaram em mim, os senhores conversaram comigo. Já não me sinto tão
sozinho. E pensei: alguém pelo menos sabe que não sou maluco! Não sou um bólido
no espaço. Porque antes eu achava que era como um meteoro, um meteorito, uma
parte da criação que está ali solta, à revelia de si mesma ... Isso é o que eu
sentia.
- Mas, aqui entre
nós, na primeira vez que conversamos, quando você disse que estava sozinho, que
não tinha ninguém por você, nós oferecemos nossa amizade e não foi uma oferta
só para constar; você viu que ela realmente valeu. Você viu mais, que não houve
uma compreensão superficial - você foi entendido em profundidade aqui entre
nós. Graças a Deus conseguimos levar a você essa mensagem.
- Eu fui, sim,
compreendido. Eu agradeço. Isso foi muito bom, sabe? Inclusive lá, no meio
"deles" (no mundo espiritual) eu me sentia assim tão estranho porque
todo mundo pelo menos está querendo fazer alguma coisa, ou está chorando, ou
está se maldizendo, ou está ... sei lá. .. E eu estou ali como se fosse um peso
morto no meio daquilo tudo. Agora eu sinto que. Bem, pelo menos alguém entende
minha posição de peso morto.
- Mas nós não
consideramos você um peso morto e sim um ser que está procurando alguma coisa e
nós temos um pouco dessa alguma coisa para lhe dar. Você aprendeu a confiar em
nós ... Embora as desconfianças originais fossem grandes, você nos testou e viu
que éramos confiáveis. Por isso você cedeu a sua parte. Respeitamos e
agradecemos a decisão que você tomou porque sabemos que não foi fácil: Chegar
aqui, renunciar àquilo que você vinha fazendo, sem saber ainda o que vai fazer
daqui por diante. Sabemos, portanto, que sua decisão foi grave, foi importante
para você, como é importante para nós, pois o que está em jogo aqui não é,
digamos, o sucesso em nosso trabalho, é você, como ser humano. O que desejamos
é que você volte a acreditar em SI mesmo.
- Eu pedi para vir
aqui. Sabe por que? Porque aqui, com os senhores, é como se eu me sentisse
humano entre os humanos, pessoas que compreendem que eu tenho essas falhas;
gente com a qual eu não tenho vergonha de falar. Lá, eu fico com vergonha. Todo
mundo tem fé, todo mundo. " a gente acaba se sentindo mal. E eu penso:
abro a boca e sou uma incongruência, porque não tenho nada para contribuir ali.
Pelo menos aqui sinto que os senhores me entendem".
- Você está sendo
muito rigoroso consigo mesmo. Não acho que você esteja deixando de contribuir.
Você está contribuindo com uma coisa muito importante que é a lição da busca.
Você tem uma busca séria e honesta a fazer.
- Então, me ajuda,
por favor!
- Você já começou a
sentir no seu espírito as primeiras vibrações das respostas que o amor consegue
de nós. Aqui entre nós você está como se na sua família, conversando com
aqueles a quem você amou. Como se estivesse voltando de uma viagem e começasse
a conversar assim: "Escuta, estou com uns problemas ... ". E você é
acolhido desta maneira, como irmão, como companheiro que há muito tempo
esperávamos que chegasse. Essas respostas que você está suscitando no seu
espírito são apenas o prenúncio das identificações que você vai fazer daqui a
pouco ou mais tarde, não sei quando, aqui entre nós, de amigos que teve no
passado.
- Hoje mesmo, quando
eu vim para cá - até estou sentindo uma coisa diferente, uma coisa estranha
dentro de mim, sabe? Antes eu não sentia nada. Teve um momento, quando cheguei
aqui que senti até, sei lá ... uma vontade assim de ... coisa estranha ... como
se eu quisesse chorar, compreende? Houve uma coisa qualquer aí que alguém disse
ou pensou que mexeu lá muito fundo, dentro de mim. Senti uma nostalgia ... Não
foi vazio, não, foi uma nostalgia ... Uma coisa assim.
- A gente sempre tem
que dar o primeiro passo. Costumo dizer que a ave só nasce quando ela quebra o
ovo de dentro da casca para fora. Você deu o primeiro passo. Antes, os
companheiros que desejavam aproximar-se de você, seus amores do passado - pois
você também os tem, é claro - não tinham ali, como às vezes digo, um preguinho
para pendurar uma comunicação, uma emoção. Não havia uma tomada onde pudessem
ligar-se com seu espírito para deixar fluir novamente a corrente da vida. E
agora você já está abrindo essas brechas naquilo que era a sua aridez. Você vai
começar a receber o influxo dessas aproximações. Nós nos colocamos aqui como
seus amigos, não com o desejo egoista ou artificial de realizar um bom
trabalho, mas porque você é realmente um irmão nosso. Por isso é que oferecemos
a você o abrigo temporário, provisório, do nosso coração.
- É horrível você
sentir-se sozinho.
- Eu sei, mas a gente
se isola, não é? Nós é que nos isolamos, não somos isolados. A gente fecha a
comunicação com o mundo exterior. .. Como é que vai receber? E você, graças a
Deus, já está se abrindo e já sente um pouco de afeto por nós e de
reconhecimento, de gratidão. E, no entanto, nós é que somos gratos a você por
ter renunciado a tanto e ter-nos trazido essa confissão tão bonita, tão
honesta, tão sincera e comovente.
- O senhor sabe? Vou
lhe dizer uma coisa. Essa semana pensei muito numa coisa que uma pessoa daqui
(do grupo mediúnico) pensou e "falou" para mim. Que eu pensava muito
em mim mesmo, que eu estava muito concentrado em mim mesmo, que precisava
pensar nos outros, que a vida também tem coisas boas, que é bom viver, que há
outros aspectos ... Eu comecei a pensar nisso.
- É. Para encontrar
os outros, a gente tem de sair de dentro de si mesmo.
- Diálogo com as Sombras – trecho do item do, cap. 2 – item ‘Mulheres
’
Poucas semanas
depois deste caso, tivemos outra manifestação de Espírito feminino. Também é
das que se dizem atraentes e sedutoras, estando, obviamente, empenhada em
fascinar criaturas encarnadas e desencarnadas, a serviço dos seus mandantes.
Vai logo dizendo, muito sorridente, que não venha com as minhas conversas
macias. Ainda se fossem outras conversas... diz, maliciosamente. Declara-se
muito sutil e por isso é destacada para missões delicadas. Teria descoberto que
o pobre doutrinador é muito amado e teve o desejo de conhecê-lo pessoalmente;
no entanto, mal pode esconder seu desapontamento. Presa aos seus
condicionamentos, esperava, por certo, que eu fosse jovem e belo, e não um
desenxabido senhor de cabeça a branquear. Digo-lhe que realmente sou um velho
sem graça e quando lhe pergunto se ela é jovem, responde corretamente que o
Espírito não tem idade. A uma outra pergunta minha, declara que vive no céu,
pois o céu é um estado de espírito e ela é muito feliz. A conversa prolonga-se
aparentemente sem rumo, mas é a fase em que são colhidas as informações de que
necessitamos para o trabalho real de doutrinação.
Depois de reunidos
os elementos que me parecem suficientes, proponho-me a orar. Ela protesta,
alegando que eu oro demais e, mal me levanto, ela se debruça sobre a mesa, em
pranto, numa crise emocionante, dolorosa. Sinto por ela uma infinita e paternal
ternura e lhe falo com muito carinho. Ela deixa cair todas as guardas e me
conta que é uma infeliz: foi explorada pelos homens aqui, na carne, e continua
a ser explorada do lado de lá. Vive num verdadeiro campo de concentração, com
outras criaturas infelizes. Enquanto “ela” estava lá — refere-se, como depois
apuramos, à irmã atendida semanas antes e que descobrimos ter sido uma duquesa
— foi protegida; depois, não. Havia sido incumbida de uma tarefa, junto à
esposa de alguém que estávamos interessados em ajudar; mas, ao chegar junto a
essa pobre senhora, viu-a em pranto, a chorar às escondidas. Teve pena dela e
ficou sem coragem de executar friamente o seu mandato.
(Estava presente
também quando telefonei para essa amiga encarnada, para consolá-la de dores que
me havia confiado.) Aproveito para dizer-lhe que foi aquele momento de
compaixão, diante da sua vítima em perspectiva, que a salvou, permitindo que
fosse, por sua vez, socorrida. Sente-se muito desconcertada e arrependida de
ter-me tratado como tratou, de início. Quando lhe digo que tenho idade para ser
seu pai, ela me interrompe para afirmar que não teve a intenção de me ofender:
Como estou, precisamente naquela noite, comemorando 56 anos de idade, digo-lhe
que ela acaba de me dar o mais lindo presente: seu coração. Ela teme seus
verdugos e está apavorada ante as perspectivas de ser arrastada por eles, ao
deixar o médium. Sente-se muito emocionada ante o carinho e o respeito com que
a tratamos, se diz cansada e confessa que até aos meus prejudicou bastante, em
suas atividades, Vê, agora, ao seu lado, uma jovem pacificada e tranqüila, que
veio recebê-la, mas um dos emissários da sua tenebrosa organização está
presente, em outro médium, e tenta confundi-la, dizendo que a moça que a espera
também é deles, o que não é verdade. Pergunto se ela confia em mim. Diz que sim.
Peço-lhe que siga a moça, e ela parte, repetindo uma pequena prece que lhe
sugiro:
— Jesus, me ajude!
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