domingo, 4 de dezembro de 2016

Doutrinação - Atendimento aos Espíritos Suicidas

Casa Espírita Missionários da Luz – ESDE2 - 10/11/2015

Tema: Do Atendimento aos Espíritos Suicidas

Objetivos:
Analisar as características do atendimento espiritual aos suicidas

Bibliografia:
O Livro dos Espíritos, pergs 943 à 957
O Céu e o Inferno – 2ª Parte - Cap. V
Após a Tempestade, Joanna de Angelis/Divaldo Franco, Cap. 18 ‘Suicídio’
Ação e Reação, André Luiz/Chico Xavier, Cap. 7 ‘Conversação preciosa’

Material: cópia do texto de Memórias de um Suicida; texto de Kardec, genérico, enviar por email e também a página de Joanna de Ângelis; pedir que levem o livro O Céu e o Inferno.

Desenvolvimento:  

  1. Prece inicial.

  1. Iniciar falando que nosso objetivo hoje é estudar as características de alguns Espíritos suicidas, e como ajudá-los na reunião mediúnica.
èPerguntar o que mais chamou atenção no texto de Kardec enviado por email:
- o sofrimento dura tanto quanto o tempo de vida que o suicida ainda teria;
- a sensação dos vermes a corroerem o corpo;
- não perceber que está morto;
- Este estado é comum nos suicidas, embora nem sempre se apresente em idênticas condições, variando de duração e intensidade conforme as circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta.


3.   Leitura em conjunto, do trecho de Memórias de um Suicida.
4.   Leitura do trecho de O Céu e o Inferno, 2ª.parte, Cap. V – Mãe e Filho, se der tempo.

5.    Prece final

6.    Anexos

O Céu e o Inferno, 2ª. parte, cap. V

Esta dúvida da morte é muito comum nas pessoas recentemente desencarnadas, e principalmente naquelas que, durante a vida, não elevam a alma acima da matéria. É um fenômeno que parece singular à primeira vista, mas que se explica naturalmente.  Se a um indivíduo, pela primeira vez sonambulizado, perguntarmos  se dorme, ele responderá quase sempre que não, e essa resposta é lógica: o interlocutor é que faz mal a pergunta, servindo-se de um termo impróprio. Na linguagem comum, a idéia do sono prende-se à suspensão de todas as faculdades sensitivas; ora, o sonâmbulo que pensa, que vê e sente, que tem consciência da sua liberdade, não se crê adormecido, e de fato não dorme, na acepção vulgar do vocábulo. Eis a razão por que responde não, até que se familiariza com essa maneira de apreender o fato. O mesmo acontece com o homem que acaba de desencarnar; para ele a morte era o aniquilamento do ser, e, tal como o sonâmbulo, ele vê, sente e fala, e assim não se considera morto, e isto afirmando até que adquira a intuição do seu novo estado. Essa ilusão é sempre mais ou menos dolorosa, uma vez que nunca é completa e dá ao Espírito uma tal ou qual ansiedade. No exemplo supra ela constitui verdadeiro suplício pela sensação dos vermes que corroem o corpo, sem falarmos da sua duração, que deverá eqüivaler ao tempo de vida abreviada. Este estado é comum nos suicidas, posto que nem sempre se apresente em idênticas condições, variando de duração e intensidade conforme as circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta. A sensação dos vermes e da decomposição do corpo não é privativa dos suicidas: sobrevém
igualmente aos que viveram mais da matéria que do espírito. Em tese, não há falta isenta de penalidades, mas também não há regra absoluta e uniforme nos meios de punição.
(Allan Kardec)
Após a Tempestade, Joanna de Ângelis/Divaldo Franco – ‘Suicídio’

“Ato de extrema rebeldia, reação do orgulho desmedido, vingança de alto porte que busca destruir-se ante a impossibilidade de a outrem aniquilar, o suicídio revela o estágio de brutalidade moral em que se demora a criatura humana...
Por um minuto apenas, a revolta atira o ser no dédalo do desvario, conseguindo um tentame de desdita que se alonga por decênios lúridos de amarguras e infortúnios indescritíveis.
Por uma interpretação precipitada, o amor-próprio ferido arroja o homem que se deseja livrar de um problema no poço sem fundo de mais inditosas conjunturas, de que somente a peso de demorados remorsos e agonias consegue vencer...
Sob a constrição de injustificável ciúme, a criatura desforça-se da vida, naufragando em águas encrespadas que a afogam sem a acalmar, de cuja asfixia incessante e tormentosa não logra liberar-se...
Em nome da dignidade atirada por terra se arroja a pessoa geniosa na covarde fuga pela estrada-sem-fim da cavilosa ilusão, em que carpe, inconsolável, o choro do arrependimento tardio...
Evitando a enfermidade de alongada presença que conduzirá a morte, o impaciente antecipa o momento da libertação e através desse gesto se escraviza por tempo infindável ao desespero e à dor que o afligiam, agravados pela soma dos novos infortúnios infligidos à existência que lhe não compete exterminar...
Temendo o sofrimento o suicida impõe-se maior soma de aflições, no pressuposto de que o ato de covardia encetado seria sancionado pelo apagar da consciência e pelo sono do nada...
...No fundo de todas as razões predisponentes para o autocídio, excetuando-se as profundas neuroses e psicoses de perseguição, as maníaco-depressivas — que procedem de antigas fugas espetaculares à vida e que o espírito traz nos refolhos do ser como predisposições à repetição da falência moral — se encontra o orgulho tentando, pela violência, solucionar questões que somente a ação contínua no bem e a sistemática confiança em Deus podem regularizar com a indispensável eficiência.
Condicionado para os triunfos de fora, não se arma o homem para as conquistas interiores, mediante cujas realizações se imunizaria para as dificuldades naturais da luta com que se encontra comprometido em prol da própria ascensão.
Mudam-se aas circunstâncias, alteram-se os componentes, variam as condições por piores que se apresentem mediante o concurso do tempo.
A desdita sobrepõe-se a ventura, ao desaire a alegria, ao infortúnio resignado a esperança quando  se sabe converter os espinhos e pedrouços da estrada em flores e bênçãos.
O homem está fadado à ventura e à plenitude espiritual.
Não sendo autor da vida, inobstante se faça o usufrutuário nem sempre responsável, é-lhe vedada a permissão de aniquilá-la.
Rompe-lhe, pelo impulso irrefletido, a manifestação física, jamais, porém, destrói as engrenagens profundas que lhe acionam a exteriorização orgânica.
Toda investida negativa se converte em sobrecarga que deve conduzir o infrator do código de equilíbrio, que vige em todo lugar.
Alguns que se dizem religiosos mas, desassisados, costumam asseverar, irrefletidos, que preferem adiar o resgate, mesmo que sejam constrangidos ulteriormente a imposições mais graves... Incapazes, no entanto, de suportarem o mínimo, se atribuem possibilidades de, após a falência, arcarem com responsabilidades e encargos maiores. Presunção vã e justificativa enganosa para desertarem do dever!
A si mesmos iludem os que debandam dos compromissos para com a vida.
Não morrerão.
Ninguém se destrói ante a morte.
Províncias de infortúnio, regiões de sombras enxameiam em ambos os lados da vida. Da mesma forma prosseguem além-da-morte os estados de consciência ultrajada, de mente rebelada, de coração vencido...
Em considerando a problemática das graves quão imprevisíveis desgraças decorrentes do suicídio, convém examinemos, também, a larga faixa dos autocídios indiretos, daqueles que precipitam a hora da desencarnação, mediante os processos mais variados.
São, também, suicidas, os sexólatras inveterados, os viciados deste ou daquele teor, os que ingerem altas cargas de tensão, os que se envenenam com o ódio e se desgastam com as paixões deletérias, os glutões e ociosos, os que cultivam o pessimismo e as enfermidades imaginárias...
A vida é um poema de amor e beleza esperando por nós.
Uma gota dágua transparente, uma nervura de folha, uma partícula de adubo, uma pétala perfumada, uma semente fértil, um raio de sol, o piscar de uma estrela são desafios à imaginação, à inteligência, à contemplação, à meditação, ao amor!...
Há, sem dúvida, agravantes e atenuantes, no exame do suicídio... Todavia, seja qual for o motivo, a circunstância para o crime da retirada da vida, tal não consegue outro resultado senão o de ativar o delituoso ao encontro da vida estuante, em circunstância análoga àquela da qual pensou evadir-se, com os agravantes que não esperava defrontar...
Expungem, sim, na Erraticidade, em inenarráveis condições, os gravames da decisão funesta, e, na Terra, quando retornam, em cruentas expiações, os que defraudam a sagrada concessão divina, que é o corpo plasmado para a glória e a elevação do espírito.
Espera pelo amanhã, quando o teu dia se te apresente sombrio e apavorante.
Aguarda um pouco mais, quando tudo te empurrar ao desespero.
A Divindade possui soluções que desconheces para todos os enigmas e recursos que te escapam, a fim de elucidar e dirimir equívocos e dificuldades.
Ama a vida e vive com amor — embora constrangido muitas vezes à incompreensão, sob um clima de martírio e sobre um solo de cardos...
Recupera hoje o desperdício de ontem sem pensares, jamais, na atitude simplista do suicídio, que é a mais complexa e infeliz de todas as coisas que podem ocorrer ao homem.
Se te parecerem insuportáveis as dores, lembra-te de Jesus, na suprema humilhação da Cruz, todavia, confiando em Deus, e de Maria, Sua Mãe, em total angústia, fitando o filho traído, aparentemente abandonado, de alma também trespassada pela dor sem nome, por meio de cuja confiança integral se converteu em exemplo insuperável de resignação e paciência, na sua inquestionável fé em Deus, tornando-se a Mãe Santíssima da Humanidade toda.”



O Céu e o Inferno, 2ª. parte, cap. V

MÃE E FILHO
Em março de 1865, o Sr. M. C..., negociante em pequena cidade dos arredores de Paris, tinha em sua casa, gravemente enfermo, o mais velho dos seus filhos, que contava 21 anos de idade. Este moço, prevendo o desenlace, chamou sua mãe e teve forças ainda para abraçá-la. Esta, vertendo copiosas lágrimas, disse-lhe: “Vai, meu filho, precede-me, que não tardarei a seguir-te.” Dito isto, retirou-se, escondendo o rosto entre as mãos.
As pessoas presentes a essa cena desoladora consideravam simples explosão de dor as palavras da Sra. C..., dor que o tempo acalmaria. Morto o doente, procuraram-na por toda a casa e foram encontrá-la enforcada num celeiro. O enterro da suicida foi juntamente feito com o do filho.

Evocação deste, muitos dias depois do fato. — P. Sabeis do suicídio de vossa mãe, em conseqüência do desespero que lhe causou a vossa perda? — R. Sim, e, sem o pesar causado por essa fatal resolução da parte dela, julgar-me-ia completamente feliz. Pobre, excelente mãe! Não pôde suportar a prova dessa separação momentânea, e tomou, para se unir ao filho, o caminho que dele mais deveria afastá-la. E por quanto tempo! Assim, retardou indefinidamente uma reunião que tão pronta teria sido se sua alma se conformasse submissa às vontades do Senhor; se fosse resignada, humilde, arrependida diante da provação que se lhe impunha, da expiação que deveria purificá-la! Orai, oh! orai por ela!... e sobretudo não a imiteis, vós outras, mães que vos comoveis com a narrativa da sua morte. — Não acrediteis que ela amasse mais que as outras mães, a esse filho que era o seu orgulho, não; é que lhe faltaram a coragem e a resignação. Mães, que me ouvis, quando a agonia empanar o olhar dos vossos filhos, lembrai-vos de que, como o Cristo, eles sobem ao cimo do Calvário, donde deverão alçar-se à glória eterna.
Benjamin C...

Evocação da mãe. — R. Quero ver meu filho. Tendes o poder de dar-mo? Cruéis!... Tomaram-mo para levá-lo à luz, e a mim me deixaram em trevas. Quero-o... quero-o porque me pertence!... Nada vale então o amor materno? Pois quê! tê-lo carregado no ventre por nove meses; tê-lo amamentado; nutrido a carne da sua carne, sangue do seu sangue; guiado os seus primeiros passos; ensinado a balbuciar o sagrado nome de Deus e o doce nome de mãe; ter feito dele um homem cheio de atividade, de inteligência, de probidade, de amor filial, para perdê-lo quando realizava as esperanças concebidas a seu respeito, quando brilhante futuro se lhe antolhava! Não, Deus não é justo; não é o Deus das mães, não lhes compreende as dores e desesperos... E quando me dava a morte para me não separar de meu filho, eis que novamente mo roubam!... Meu filho! meu filho, onde estás?

Evocador. — Pobre mãe, compartilhamos da vossa dor. Buscastes, no entanto, um triste recurso para vos reunirdes ao vosso filho: — O suicídio é um crime aos olhos de Deus, e deveis saber que Deus pune toda infração das suas leis. A  ausência do vosso filho é a vossa punição.

Ela. — Não; eu julgava Deus melhor que os homens; não acreditava no seu inferno, porém cria na reunião das almas que se amaram como nós nos amávamos... Enganei--me... Deus não é justo nem bom, por isso que não compreende a grandeza da minha dor como do meu amor!... Oh! quem me dará meu filho? Tê-lo-ei perdido para sempre? Piedade! piedade, meu Deus!

Evocador. — Vamos, acalmai o vosso desespero; considerai que, se há um meio de rever vosso filho, não é blasfemando
de Deus, como ora o fazeis. Com isso, em vez de atrairdes a sua misericórdia, fazeis jus a maior severidade.

Ela. — Disseram-me que não mais o tornaria a ver, e compreendi que o haviam levado ao paraíso. E eu estarei, acaso, no inferno? no inferno das mães? Ele existe, demais o vejo...

Evocador. — Vosso filho não está perdido para sempre; certo tornareis a vê-lo, mas é preciso merecê-lo pela submissão à vontade de Deus, ao passo que a revolta poderá retardar indefinidamente esse momento. Ouvi-me: Deus é infinitamente bom, mas é também infinitamente justo. Assim, ninguém é punido sem causa, e se sobre a Terra Ele vos infligiu grandes dores, é porque as merecestes. A morte de vosso filho era uma prova à vossa resignação; infelizmente, a ela sucumbistes quando em vida, e eis que após a morte de novo sucumbis; como pretendeis que Deus recompense os filhos rebeldes? A sentença não é, porém, inexorável, e o arrependimento do culpado é sempre acolhido. Se tivésseis aceito a provação com humildade; se houvésseis esperado com paciência o momento da vossa desencarnação, ao entrardes no mundo espiritual, em que vos achais, teríeis imediatamente avistado vosso filho, o qual vos receberia de braços abertos. Depois da ausência, vê-lo-íeis radiante. Mas, o que fizestes e ainda agora fazeis, coloca entre vós e ele uma barreira. Não o julgueis perdido nas profundezas do Espaço, antes mais perto do que supondes — é que véu impenetrável o subtrai à vossa vista. Ele vos vê e ama sempre, deplorando a triste condição em que caístes pela falta de confiança em Deus e aguardando ansioso o momento feliz de se vos apresentar. De vós, somente, depende abreviar ou retardar esse momento. Orai a Deus e dizei comigo: “Meu Deus, perdoai-me o ter duvidado da vossa justiça e bondade; se me punistes, reconheço tê-lo merecido. Dignai-vos aceitar meu arrependimento e submissão à vossa santa vontade.”

Ela. — Que luz de esperança acabais de fazer despontar em minha alma! É um como relâmpago em a noite que me cerca. Obrigada, vou orar... Adeus.

A morte, mesmo pelo suicídio, não produziu neste Espírito a ilusão de se julgar ainda vivo. Ele apresenta-se consciente do seu estado: — é que para outros o castigo consiste naquela ilusão, pelos laços que os prendem ao corpo. Esta mulher quis deixar a Terra para seguir o filho na outra vida: era, pois, necessário que soubesse aí estar realmente, na certeza da desencarnação, no conhecimento exato da sua situação. Assim é que cada falta é punida de acordo com as circunstâncias que a determinam, e que não há punições uniformes para as faltas do mesmo gênero.




Memórias de um suicida – Yvonne Pereira

(Espíritos suicidas foram levados a uma CE para atendimento espiritual)

Como sói acontecer nas reuniões legítimas da ini­ciação espírita-cristã, cujos princípios elevados impõem como base inalienável para o seu adepto a auto-reforma moral e mental, naquela noite memorável para todos de minha sinistra falange foi escolhido o tema evangélico a ser estudado e comentado. Como vemos, o ensino era fornecido por Jesus, ali considerado Lente Magnífico, Presidente de Honra, cujas lições levantavam o pedes­tal de tudo o que se desenrolaria.
Iniciada foi, pois, a leitura do Evangelho, seguin­do-se explanação formosa e fecunda, do presidente ter­reno. As parábolas elucidativas, as ações magnânimas e carinhosas, as promessas inolvidáveis mais uma vez en­ternecem o coração dos aprendizes da Escola de Allan Kardec, que circulavam a mesa, repercutindo gratamen­te, pela primeira vez, no Intimo de cada um de nós ou­tros, o divino convite para a redenção — pois até então não ouvíramos ainda dissertações congêneres.
Para as criaturas terrenas ali presentes tratava-se apenas do ir­mão presidente a ler e comentar o assunto escolhido, em hora de inspiração radiosa, em que jorros de intui­ções vivíssimas, cintilantes, cascateavam do Alto revi­vendo a extensa relação das exemplificações do Modelo Divino e expressões de Sua moral impoluta. Para os Es­píritos que se aglomeravam no recinto, porém, invisíveis à quase totalidade dos circunstantes humanos, e, parti­cularmente, para os desditosos que para ali foram encaminhados a fim de se esclarecerem, havia muito, muito mais que isso! Para estes, são figuras, vultos, seqüências que se agitam a cada frase do orador! Ë uma aula —estranha, singular terapêutica! — que nos ministravam qual medicamentação celeste a fim de balsamizar nossas desgraças! A palavra, vibração do pensamento criador, repercutindo em ondas sonoras, onde se retratavam as imagens mentais daquele que a proferia, e espalhando-se pelo recinto saturado de substâncias fluido-magnéticas apropriadas e fluidos animalizados dos médiuns e assis­tentes encarnados, é rapidamente acionada e concreti­zada, tornando-se visível graças a efeitos naturais que as forças mentais conjugadas dos Tutelares reunidos no Templo, com as dos demais cooperadores em ação, pro­duziam. Intensificam-se as atividades dos técnicos da Vigilância, comissionados para o delicado labor da cap­tação das ondas onde as imagens mentais se retrataram, da coordenação e estabilidade de seqüências, etc., etc. A palavra assim trabalhada no maravilhoso laboratório mental, assim modelada e retida por eminentes especia­listas devotados ao bem do próximo — corporificou-.e, tornou-se realidade, criada que foi a cena viva do que foi lido e exposto!
          De nossas arquibancadas, rodeado de lanceiros quais prisioneiros do pecado que em verdade éramos, tivemos a inédita e grata surpresa de assistir ao desenrolar das narrativas escolhidas, em movimentações, na faixa fla­mejante que do Alto descia iluminando a mesa e o re­cinto. Se havia referência à personalidade inconfundível do Mestre Nazareno — era a reprodução de Sua augusta imagem que se desenhava, tal como cada um se habi­tuara a imaginá-lo no âmago do pensamento desde a infância! (...)
E era um desfilar empolgante de cenas, das quais o   Consolador Amável destacava-se irradiando convites irresistíveis a nós outros, réprobos sofredores e deses­perançados, enquanto o orador rememorava as divinas ações por Ele praticadas!...
Silêncio religioso presidia as arquibancadas. Frêmito de emoções desconhecidas acendia, nas profundezas sen­síveis dos nossos Espíritos atribulados e tristes, uma alvorada de confiança, prelúdio prometedor da Fé que nos deveria impulsionar para os labores da salvação. Sus­pensos pelos interesses do ensinamento poderosamente se­dutor, fitávamos embevecidos aqueles quadros sugestivos, criados momentaneamente para nossa elucidação, e nos quais destacávamos o Nazareno socorrendo os desgra­çados, enquanto a palavra afetuosa do orador, envolta nas ondas fluídicas, ainda mais doces, do pensamento caridoso dos seres angélicos que nos assistiam, instruía ternamente, com entonações que repercutiam até ao âma­go dos nossos Espíritos sequiosos de consolo, como im­primindo em seus refolhos, para sempre, a imagem in­comparável do Médico Celeste que nos deveria curar! Então sentimos que, pela primeira vez, desde muitos anos, a Esperança descia seus mantos de luz sobre nossas almas enoitadas pelas trevas do desânimo e da ímpia descrença!
De súbito, brado angustioso, de suprema desespera­ção, feriu a majestade do religioso silêncio que abendi­çoava o cenáculo!
Um dos nossos míseros pares, justamente daqueles a quem denominávamos “retalhados”, durante o cativeiro no Vale Sinistro, por conservarem no corpo astral az trágicas sombras do esfacelamento do envoltório carnal sob as rodas de pesados veículos de ferro, e cujo estado de incompreensão e sofrimento, muito grave, exigira o concurso humano a fim de ser suavizado — esperando receber também alívio aos feros padecimentos que o exasperavam, arrojou-se de joelhos ao solo e suplicou por entre lágrimas, tão pungentes que sacudiram de com­paixão as fibras dos circunstantes — como outrora te­riam feito os desgraçados em presença do Meigo Rabi da Galiléia:
“— Jesus-Cristo! Meu Senhor e Salvador! Compa­decei-vos também de mim! Eu creio, Senhor! e quero a vossa misericórdia! Não posso mais! Não posso mais! Enlouqueci no sofrimento! Socorrei-me, Jesus de Naza­ré, a mim também, por piedade!.. .“
A um sinal de Alceste e de Romeu, os bondosos en­fermeiros ampararam-no, conduzindo-o ao médium, uma senhora ainda jovem, delicada de talhe e de feições, e que na véspera se comprometera ao magno desempenho, quando das investigações dos obreiros do Instituto para conseguirem a reunião. Dois médicos, responsáveis pelo Espírito em questão, acompanharam-no, estabelecendo sua ligação com o precioso veículo, e também a este dispensando a mais desvelada assistência, a fim de que nenhum contratempo sobreviesse.
A cena, então, atingiu a culminância mais patética e, ao mesmo tempo, mais sublime que imaginar se possa!
Apossando-se de um aparelho carnal que, piedosa­mente, por momentos lhe emprestavam, no intuito cristão de beneficiá-lo, por ajudá-lo a conseguir alivio, o des­graçado suicida sentiu, em toda a sua plenitude, a tra­gédia que havia longos anos vinha experimentando o seu viver nas trevas do martírio inconcebível!... pois tinha agora, ao seu dispor, outros órgãos materiais, nos quais suas vibrações, ardentes e tempestuosas, esbarrando brutalmente, voltavam plenamente animalizadas para produzirem no seu torturado corpo astral repercussões minuciosas do que fora passado! Gritos lancinantes, es­tertores macabros, terrores satânicos, todo o pavoroso estado mental que arrastava, refletiu ele sobre a médium, que traduziu, tanto quanto lho permitiam as forças do sublime dom que possuía, para os circunstante. encar­nados ali presentes —, a assombrosa calamidade que o túmulo encobria!
Enlouquecido, vendo sobre a mesa os fragmentos em que se convertera em desgraçado corpo de carne, por ele próprio atirado sob as rodas de um trem de ferro, pois seu inacreditável estado mental fazia-o ver, por toda parte, o mal que existia em si mesmo, chaga que lhe vio­lentara a consciência — arrebatou a jovem médium em agitações penosas e, debruçando-se sobre a mesa, pôs-se a reunir aquele, mesmos fragmentos, tentando reorganizar o corpo, que via, cheio de horror, eternamente disperso sobre os trilhos, presa dramática de uma das mais abomináveis alucinações que o Além-túmulo costu­ma registrar!
Vulnerado pelos fogos da inconcebível tortura do réprobo a estampar a realização da assertiva severa do Evangelho:
“- e sereis atirados nas trevas exteriores onde chorareis e rangereis os dentes”,
a infortunada ovelha desgarrada, que desdenhara ouvir as advertências do prudente e sábio Pastor da Galiléia, ia, nervosamente, arrepanhando papéis, livros e lápis que se achavam dispostos sobre a mesa, à disposição dos psicógrafos, e, neles julgando reconhecer as próprias vísceras esfaceladas, ossos triturados, carnes sangrentas — o coração, o cérebro — reduzidos a montículos repugnan­tes — mostrava-os, chorando convulsivamente, ao presidente da reunião, a quem enxergava com facilidade, suplicando sua intervenção junto a Jesus Nazareno, já que tão bem O conhecia, para remediar-lhe a alucinadora situação de se sentir assim despedaçado e reconhecer-se, e sentir-se Vivo! Nervoso, irrequieto, excitadíssimo, o dantesco prisioneiro dos tentáculos malvados do suicí­dio gargalhava e chorava a um mesmo tempo, suplicava e gemia, estorcia-se e ululava, expunha, sufocado em lá grimas afogueadas pelo martírio, o drama incomensurá­vel que para si mesmo criara com o suicídio, o remorso inconsolável de preferir a descrença em que vivera e mor­rera à conformidade conselheira e prudente, frente às penas da adversidade, pois, reconhecia agora, tardiamen­te, que todos os dramas que a vida terrena apresenta são meros contratempos passáveis, contrariedades ba­nais, comparados aos monstruosos sofrimentos originá­rios do suicídio, cuja natureza e intensidade nenhum ser humano, mesmo um Espírito desencarnado, é competente para avaliar, uma vez que as não tenha experimentado!
Comovido — a personagem principal da mesa — o presidente, a quem tutelares invisíveis amorosamente inspiram, fala-lhe piedosamente, consola-o apontando a luz sacrossanta do Evangelho do Mestre Divino como o recurso supremo e único capaz de socorrê-lo, afiançan­do-lhe ainda, com sua palavra de honra, a qual não tem dúvidas em empenhar, tal a certeza do que afirma, a intervenção do Médico Celeste, que proporcionará alivio imediato aos estranhos males que o afligem. Eleva en­tão uma prece, singela e amorosa, depois de convidar todos os corações presentes a galgar com ele o espaço infindo, em busca do seio amorável de Jesus, para a súplica de mercês imediatas para o desgraçado que pre­cisa serenidade a fim de expungir da mente a visão macabra com que os próprios delitos lhe fustigam a alma e a continuação da Vida, as quais pretendeu aniquilar com a deserção pelos atalhos do suicídio!
Acompanham-no de boamente todos quantos se in­teressam pelo infeliz alucinado: — encarnados que com­põem a mesa, desencarnados que realizam a magnificên­cia da sessão, isto é, instrutores, vigilantes, assistentes guias da Casa, lanceiros e até nós outros, os delinqüentes mais serenos, profundamente comovidos. Oram ainda os diretores de nossa Colônia, que, do segredo do Templo, assistem quanto se desenrola entre nós; oram Teócrito e seus adjuntos, os quais, do Hospital, igualmente assis­tem aos trabalhos através dos possantes aparelhos que conhecemos ou simplesmente servindo-se da dupla vista, que facilmente acionam. E assim docemente harmoni­zada e fortalecida ao impulso vigoroso dos pensamentos homogêneos de tantos corações fraternalmente unidos sob o ósculo sublime da Caridade, no que pode ela encerrar de mais belo e desinteressado — a prece ilibada e santa transformou-se em corrente vigorosa de luz res­plendente, que dentro de curtos minutos atingiu o Alvo Sagrado e voltou fecundada pelo amplexo da Sua divina misericórdia! Cada pensamento, que se unifica aos de­mais em anseios compassivos, cada expressão caridosa extraída do coração, que subia à procura do Pai Altíssimo em favor do infeliz ferreteado pelo suicídio, que pre­cisou do concurso humano para se adaptar ao além-tú­mulo — são vozes a lhe segredarem esperanças, são bálsamos fecundos e inestimáveis a gotejarem tréguas, vislumbres de bonanças nas cruentas tempestades que sacodem seu Espírito ergastulado na desgraça! (...)
Pouco a pouco, sem, que uma única palavra tornasse a ser proferida, e enquanto apenas as forças mentais de desencarnados conjugadas com as de encarnados mo­rejavam, efetivou-se a Divina Intervenção... e não des­denharemos descrevê-la, digno que é o seu transcendentalismo da nossa apreciação.
As vibrações mentais dos assistentes encarnados, e particularmente da médium, cuja saúde físico-material, físico-astral, moral e mental, encontrava-se em condições satisfatórias, pois que fora anteriormente examinada pelos provedores do importante certame espiritual, rea­giam contra as do comunicante, que, viciadas, enfer­mas, positivamente descontroladas, investiam violenta­mente sobre aquelas, como ondas revoltas de imensa torrente que se despejasse abruptamente no seio esmeraldino do oceano, formoso e sobranceiro refletindo os esplendores do firmamento ensolarado. Estabeleceu-se, assim, luta árdua, na realização de sublime operação psíquica, uma vez que influenciações saudáveis, fluidos magnéticos mesclados de essências espirituais aconselhá­veis no caso, fornecidos pela médium e pelos guias assis­tentes, deveriam impor-se e domar as emitidas pela en­tidade sofredora, incapaz de algo produzir distante do inferior. A corrente poderosa pouco a pouco apresentou os frutos salutares que era de esperar, dominando sua­vemente as vibrações nefastas do suicida depois de pas­sar pelo áureo veículo mediúnico, o qual, materializando-a, adaptando-a em afinidades com o paciente, tornava-a assimilável por este, cujo envoltório astral fortemente se ressentia das impressões animalizadas deixadas pelo corpo carnal que se extinguia sob a pedra do sepulcro! Eram como que compressas anestesiantes que se apli­cassem na organização fluídica do penitente, suavizan­do-lhe o efervescer das múltiplas excitações, a fim de torná-la em condições de suportar a verdadeira terapêu­tica requisitada pelo melindroso caso. Era como sedativo divino que piedosamente gotejasse virtudes hialinas so­bre suas chagas anímicas, através do filtro humano representado pelo magnetismo mediúnico, sem o qual o infeliz não assimilaria, de forma alguma, nenhum bene­fício que se lhe desejasse aplicar! E era como transfusão de sangue em moribundo que voltasse à vida após ter-se encontrado às bordas do túmulo, infiltração de essências preciosas que a médium recebia do Alto, ou dos men­tores presentes, em abundância, transmitindo em seguida ao padecente.
Lentamente a médium se aquietou, porque o desgra­çado “retalhado” se acalmara. Já não via os reflexos mentais do ato temerário, o que equivale adiantar que desaparecera a satânica visão dos fragmentos do próprio corpo, que em vão tentara recolher para recompor. Grata sensação de alívio perpassava suas fibras perispirituais doloridas pelos amargores longamente su­portados... Continuava o silêncio augusto propício às dulçorosas revelações imateriais do amparo maternal de Maria, da misericórdia inefável de seu Filho Imaculado. Pelo recinto repercutiam ainda as tonalidades blandiciosas da melodia evangélica, quais cavatinas siderais har­pejando esperanças:
“— Vinde a mim, vós que sofreis e vos achais sobrecarregados, e eu vos aliviarei....“
enquanto ele chorava em grandes desabafos, entrevendo possibilidade de melhor situação. Suas lágrimas, porém, já não traduziam os estertores violentos do início, mas expressão agradecida de quem sente a intervenção bene­ficente...
          Então, Alceste e Romeu acionaram as forças da in­tuição, com veemência, sobre a mente do presidente da mesa, que se engrinaldou de luminosidades adamantinas. Aproximaram-se os técnicos do aparelho mediúnico, a que o infeliz se encostava. Explica-lhe o presidente, por­menorizadamente, quanto lhe sucedeu e por que sucedeu. Ministra-lhe aula expressiva, a que aqueles agentes corporificam com a criação de quadros demonstrativos. Vi­mos que se repetia então na sessão espiritista terrena o que havíamos assistido nas assembléias do Hospital presididas pelo insigne Teócrito: — A vida do paciente ressurge, como fotografada, refletida nesses quadros, de suas mesmas recordações, desfilando à frente de seus olhos desde o berço até o túmulo por ele mesmo cavado! Ele reviu o que praticou, assistiu aos estertores rápidos da agonia que a si próprio ofereceu sob as rodas de um veículo; contemplou, perplexo e aterrado, os destroços a que seu gesto brutal reduzira sua configuração huma­na cheia de vigor e de seiva para o prolongamento da existência... mas fê-lo agora independente daqueles des­troços, como se houvera despertado de hediondo pesa­delo!... Observou mesmo, desfeito em lágrimas, que mãos piedosas recolheram seus despojos sangrentos de sobre os trilhos; assistiu comovido ao sepultamento dos mes­mos em terra. consagrada... e viu o vulto confortador de uma Cruz montando guarda à sua sepultura. Com­preendeu, assim, e aceitou o acontecimento que sentia dificuldades e repulsas em acatar, isto é, que era imortal e continuaria vivendo, vivendo ainda e para todo o sempre, apesar do suicídio! Que de nada aproveitara a re­solução infernal de pretender burlar as leis divinas senão para sobrecarregar-lhe a existência, assim como a cons­ciência, de responsabilidades tão graves quanto pesadís­simas! E que, se o corpo material se extinguia, com efeito, no lodo pútrido de um sepulcro — o Espírito, que é a personalidade real, porque descendente da Luz Eterna do Supremo Criador, marcharia indestrutível para o futuro, apesar de todos os percalços e contratempos, vivo e eterno como a própria Essência Imortal que lhe fornecia a Vida!
Oh, Deus do Céu! Que ofício religioso ultrapassará em glórias essa reunião singela, desprovida de atavios e repercussões sociais, mas onde a atribulada alma de um suicida, descrente da misericórdia do seu Criador, desesperada pelo acervo dos sofrimentos daí conseqüen­tes e inclemência dos remorsos, é convertida aos alvores da Fé, pela doçura irresistível do Evangelho do Meigo Nazareno!... Que cerimônia, que ritual, quais festivi­dades e pompas existentes sobre a Terra poderio om­brear-se com a magnificência do santuário secreto de um núcleo de estudos e labores espirituais onde os missio­nários do Amor e da Caridade do Unigênito de Deus em Seu nome esvoaçam, mergulhados em vibrações ilibadas e puras, oferecendo aos iniciados modernos, que se con­gregam em cadeias mentais excelentes, o precioso exem­plo de nova prática da Fraternidade!... Em que setor humano depararia o homem glorificação mais honrosa para lhe condecorar a alma, do que essa, de ser elevado à meritória categoria de colaborador das Esferas Celes­tes, enquanto os Embaixadores da Luz lhe desvendam os mistérios do túmulo ofertando-lhe sacrossantos ensi­namentos de uma Moral redentora, de uma Ciência Di­vina, no intuito generoso de reeducá-lo para o definitivo ingresso no redil do Divino Pastor?!...


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