Casa Espírita Missionários da Luz – ESDE2 - 10/11/2015
Tema: Do Atendimento aos Espíritos Suicidas
Objetivos:
Analisar as
características do atendimento espiritual aos suicidas
Bibliografia:
O Livro dos
Espíritos, pergs 943 à 957
O Céu e o Inferno –
2ª Parte - Cap. V
Após a Tempestade,
Joanna de Angelis/Divaldo Franco, Cap. 18 ‘Suicídio’
Ação
e Reação, André Luiz/Chico Xavier, Cap. 7 ‘Conversação preciosa’
Material: cópia do
texto de Memórias de um Suicida; texto de Kardec, genérico, enviar por email e
também a página de Joanna de Ângelis; pedir que levem o livro O Céu e o
Inferno.
Desenvolvimento:
- Prece inicial.
- Iniciar falando
que nosso objetivo hoje é estudar as características de alguns Espíritos suicidas,
e como ajudá-los na reunião mediúnica.
èPerguntar o que mais
chamou atenção no texto de Kardec enviado por email:
- o sofrimento dura
tanto quanto o tempo de vida que o suicida ainda teria;
- a sensação dos vermes
a corroerem o corpo;
- não perceber que está
morto;
- Este estado é comum nos suicidas, embora nem sempre se
apresente em idênticas condições, variando de duração e intensidade conforme as
circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta.
3. Leitura em conjunto, do trecho de Memórias de um
Suicida.
4. Leitura do trecho de O Céu e o Inferno,
2ª.parte, Cap. V – Mãe e Filho, se der tempo.
5. Prece final
6. Anexos
O Céu e o Inferno,
2ª. parte, cap. V
Esta dúvida da morte é
muito comum nas pessoas recentemente desencarnadas, e principalmente naquelas
que, durante a vida, não elevam a alma acima da matéria. É um fenômeno que parece
singular à primeira vista, mas que se explica naturalmente. Se a um indivíduo, pela primeira vez
sonambulizado, perguntarmos se dorme,
ele responderá quase sempre que não, e essa resposta é lógica: o
interlocutor é que faz mal a pergunta, servindo-se de um termo impróprio. Na
linguagem comum, a idéia do sono prende-se à suspensão de todas as faculdades
sensitivas; ora, o sonâmbulo que pensa, que vê e sente, que tem consciência da
sua liberdade, não se crê adormecido, e de fato não dorme, na acepção vulgar do
vocábulo. Eis a razão por que responde não, até que se familiariza com
essa maneira de apreender o fato. O mesmo acontece com o homem que acaba de
desencarnar; para ele a morte era o aniquilamento do ser, e, tal como o
sonâmbulo, ele vê, sente e fala, e assim não se considera morto, e isto
afirmando até que adquira a intuição do seu novo estado. Essa ilusão é sempre
mais ou menos dolorosa, uma vez que nunca é completa e dá ao Espírito uma tal
ou qual ansiedade. No exemplo supra ela constitui verdadeiro suplício pela
sensação dos vermes que corroem o corpo, sem falarmos da sua duração, que
deverá eqüivaler ao tempo de vida abreviada. Este estado é comum nos suicidas,
posto que nem sempre se apresente em idênticas condições, variando de duração e
intensidade conforme as circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta. A
sensação dos vermes e da decomposição do corpo não é privativa dos suicidas:
sobrevém
igualmente aos que viveram
mais da matéria que do espírito. Em tese, não há falta isenta de penalidades,
mas também não há regra absoluta e uniforme nos meios de punição.
(Allan Kardec)
Após a Tempestade, Joanna
de Ângelis/Divaldo Franco – ‘Suicídio’
“Ato de extrema rebeldia, reação do orgulho desmedido,
vingança de alto porte que busca destruir-se ante a impossibilidade de a outrem
aniquilar, o suicídio revela o estágio de brutalidade moral em que se demora a
criatura humana...
Por um minuto apenas, a revolta atira o ser no dédalo do desvario, conseguindo um tentame de desdita que se alonga por decênios lúridos de amarguras e infortúnios indescritíveis.
Por uma interpretação precipitada, o amor-próprio ferido arroja o homem que se deseja livrar de um problema no poço sem fundo de mais inditosas conjunturas, de que somente a peso de demorados remorsos e agonias consegue vencer...
Por um minuto apenas, a revolta atira o ser no dédalo do desvario, conseguindo um tentame de desdita que se alonga por decênios lúridos de amarguras e infortúnios indescritíveis.
Por uma interpretação precipitada, o amor-próprio ferido arroja o homem que se deseja livrar de um problema no poço sem fundo de mais inditosas conjunturas, de que somente a peso de demorados remorsos e agonias consegue vencer...
Sob a
constrição de injustificável ciúme, a criatura desforça-se da vida, naufragando
em águas encrespadas que a afogam sem a acalmar, de cuja asfixia incessante e
tormentosa não logra liberar-se...
Em nome
da dignidade atirada por terra se arroja a pessoa geniosa na covarde fuga pela
estrada-sem-fim da cavilosa ilusão, em que carpe, inconsolável, o choro do
arrependimento tardio...
Evitando
a enfermidade de alongada presença que conduzirá a morte, o impaciente antecipa
o momento da libertação e através desse gesto se escraviza por tempo infindável
ao desespero e à dor que o afligiam, agravados pela soma dos novos infortúnios
infligidos à existência que lhe não compete exterminar...
Temendo o sofrimento o suicida impõe-se maior soma de
aflições, no pressuposto de que o ato de covardia encetado seria sancionado
pelo apagar da consciência e pelo sono do nada...
...No fundo de todas as razões predisponentes para o
autocídio, excetuando-se as profundas neuroses e psicoses de perseguição, as
maníaco-depressivas — que procedem de antigas fugas espetaculares à vida e que
o espírito traz nos refolhos do ser como predisposições à repetição da falência
moral — se encontra o orgulho tentando, pela violência, solucionar questões que
somente a ação contínua no bem e a sistemática confiança em Deus podem
regularizar com a indispensável eficiência.
Condicionado para os triunfos de fora, não se arma o homem
para as conquistas interiores, mediante cujas realizações se imunizaria para as
dificuldades naturais da luta com que se encontra comprometido em prol da
própria ascensão.
Mudam-se
aas circunstâncias, alteram-se os componentes, variam as condições por piores
que se apresentem mediante o concurso do tempo.
A desdita sobrepõe-se a
ventura, ao desaire a alegria, ao infortúnio resignado a esperança quando se sabe converter os espinhos e pedrouços da
estrada em flores e bênçãos.
O homem está fadado à ventura e à plenitude espiritual.
Não sendo autor da vida, inobstante se faça o usufrutuário
nem sempre responsável, é-lhe vedada a permissão de aniquilá-la.
Rompe-lhe, pelo impulso irrefletido, a manifestação física,
jamais, porém, destrói as engrenagens profundas que lhe acionam a
exteriorização orgânica.
Toda investida negativa se converte em sobrecarga que deve conduzir o infrator do código de equilíbrio, que vige em todo lugar.
Toda investida negativa se converte em sobrecarga que deve conduzir o infrator do código de equilíbrio, que vige em todo lugar.
Alguns que se dizem religiosos mas, desassisados, costumam
asseverar, irrefletidos, que preferem adiar o resgate, mesmo que sejam
constrangidos ulteriormente a imposições mais graves... Incapazes, no entanto,
de suportarem o mínimo, se atribuem possibilidades de, após a falência, arcarem
com responsabilidades e encargos maiores. Presunção vã e justificativa enganosa
para desertarem do dever!
A si mesmos iludem os que debandam dos compromissos para com
a vida.
Não morrerão.
Ninguém se destrói ante a morte.
Províncias de infortúnio, regiões de sombras enxameiam em
ambos os lados da vida. Da mesma forma prosseguem além-da-morte os estados de
consciência ultrajada, de mente rebelada, de coração vencido...
Em considerando a problemática das graves quão imprevisíveis
desgraças decorrentes do suicídio, convém examinemos, também, a larga faixa dos
autocídios indiretos, daqueles que precipitam a hora da desencarnação, mediante
os processos mais variados.
São, também, suicidas, os sexólatras inveterados, os viciados
deste ou daquele teor, os que ingerem
altas cargas de tensão, os que se envenenam com o ódio e se desgastam com as
paixões deletérias, os glutões e ociosos, os que cultivam o pessimismo e as
enfermidades imaginárias...
A vida é um poema de amor e beleza esperando por nós.
Uma gota dágua transparente, uma nervura de folha, uma
partícula de adubo, uma pétala perfumada, uma semente fértil, um raio de sol, o
piscar de uma estrela são desafios à imaginação, à inteligência, à
contemplação, à meditação, ao amor!...
Há, sem dúvida, agravantes e atenuantes, no exame do
suicídio... Todavia, seja qual for o motivo, a circunstância para o crime da
retirada da vida, tal não consegue outro resultado senão o de ativar o
delituoso ao encontro da vida estuante, em circunstância análoga àquela da qual
pensou evadir-se, com os agravantes que não esperava defrontar...
Expungem, sim, na Erraticidade, em inenarráveis condições, os
gravames da decisão funesta, e, na Terra, quando retornam, em cruentas
expiações, os que defraudam a sagrada concessão divina, que é o corpo plasmado
para a glória e a elevação do espírito.
Espera pelo amanhã, quando o teu dia se te apresente sombrio
e apavorante.
Aguarda um pouco mais, quando tudo te empurrar ao desespero.
A Divindade possui soluções que desconheces para todos os
enigmas e recursos que te escapam, a fim de elucidar e dirimir equívocos e
dificuldades.
Ama a vida e vive com amor — embora constrangido muitas vezes
à incompreensão, sob um clima de martírio e sobre um solo de cardos...
Recupera hoje o desperdício de ontem sem pensares, jamais, na
atitude simplista do suicídio, que é a mais complexa e infeliz de todas as
coisas que podem ocorrer ao homem.
Se te parecerem insuportáveis as dores, lembra-te de Jesus,
na suprema humilhação da Cruz, todavia, confiando em Deus, e de Maria, Sua Mãe,
em total angústia, fitando o filho traído, aparentemente abandonado, de alma
também trespassada pela dor sem nome, por meio de cuja confiança integral se
converteu em exemplo insuperável de resignação e paciência, na sua
inquestionável fé em Deus, tornando-se a Mãe Santíssima da Humanidade toda.”
O Céu e o Inferno,
2ª. parte, cap. V
MÃE E FILHO
Em março de 1865, o Sr.
M. C..., negociante em pequena cidade dos arredores de Paris, tinha em sua
casa, gravemente enfermo, o mais velho dos seus filhos, que contava 21 anos de
idade. Este moço, prevendo o desenlace, chamou sua mãe e teve forças ainda para
abraçá-la. Esta, vertendo copiosas lágrimas, disse-lhe: “Vai, meu filho,
precede-me, que não tardarei a seguir-te.” Dito isto, retirou-se, escondendo o
rosto entre as mãos.
As pessoas presentes a
essa cena desoladora consideravam simples explosão de dor as palavras da Sra.
C..., dor que o tempo acalmaria. Morto o doente, procuraram-na por toda a casa
e foram encontrá-la enforcada num celeiro. O enterro da suicida foi juntamente
feito com o do filho.
Evocação deste, muitos
dias depois do fato.
— P. Sabeis do suicídio de vossa mãe, em conseqüência do desespero que lhe
causou a vossa perda? — R. Sim, e, sem o pesar causado por essa fatal resolução
da parte dela, julgar-me-ia completamente feliz. Pobre, excelente mãe! Não pôde
suportar a prova dessa separação momentânea, e tomou, para se unir ao filho, o
caminho que dele mais deveria afastá-la. E por quanto tempo! Assim, retardou
indefinidamente uma reunião que tão pronta teria sido se sua alma se
conformasse submissa às vontades do Senhor; se fosse resignada, humilde,
arrependida diante da provação que se lhe impunha, da expiação que deveria
purificá-la! Orai, oh! orai por ela!... e sobretudo não a imiteis, vós outras,
mães que vos comoveis com a narrativa da sua morte. — Não acrediteis que ela
amasse mais que as outras mães, a esse filho que era o seu orgulho, não; é que
lhe faltaram a coragem e a resignação. Mães, que me ouvis, quando a agonia
empanar o olhar dos vossos filhos, lembrai-vos de que, como o Cristo, eles
sobem ao cimo do Calvário, donde deverão alçar-se à glória eterna.
Benjamin C...
Evocação da mãe. — R. Quero ver meu
filho. Tendes o poder de dar-mo? Cruéis!... Tomaram-mo para levá-lo à luz, e a
mim me deixaram em trevas. Quero-o... quero-o porque me pertence!... Nada vale
então o amor materno? Pois quê! tê-lo carregado no ventre por nove meses; tê-lo
amamentado; nutrido a carne da sua carne, sangue do seu sangue; guiado os seus
primeiros passos; ensinado a balbuciar o sagrado nome de Deus e o doce nome de
mãe; ter feito dele um homem cheio de atividade, de inteligência, de probidade,
de amor filial, para perdê-lo quando realizava as esperanças concebidas a seu
respeito, quando brilhante futuro se lhe antolhava! Não, Deus não é justo; não
é o Deus das mães, não lhes compreende as dores e desesperos... E quando me
dava a morte para me não separar de meu filho, eis que novamente mo roubam!...
Meu filho! meu filho, onde estás?
Evocador. — Pobre mãe,
compartilhamos da vossa dor. Buscastes, no entanto, um triste recurso para vos
reunirdes ao vosso filho: — O suicídio é um crime aos olhos de Deus, e deveis
saber que Deus pune toda infração das suas leis. A ausência do vosso filho é a vossa punição.
Ela. — Não; eu julgava Deus
melhor que os homens; não acreditava no seu inferno, porém cria na reunião das
almas que se amaram como nós nos amávamos... Enganei--me... Deus não é justo
nem bom, por isso que não compreende a grandeza da minha dor como do meu
amor!... Oh! quem me dará meu filho? Tê-lo-ei perdido para sempre? Piedade!
piedade, meu Deus!
Evocador. — Vamos, acalmai o
vosso desespero; considerai que, se há um meio de rever vosso filho, não é
blasfemando
de Deus, como ora o
fazeis. Com isso, em vez de atrairdes a sua misericórdia, fazeis jus a maior
severidade.
Ela. — Disseram-me que não
mais o tornaria a ver, e compreendi que o haviam levado ao paraíso. E eu
estarei, acaso, no inferno? no inferno das mães? Ele existe, demais o vejo...
Evocador. — Vosso filho não está
perdido para sempre; certo tornareis a vê-lo, mas é preciso merecê-lo pela
submissão à vontade de Deus, ao passo que a revolta poderá retardar
indefinidamente esse momento. Ouvi-me: Deus é infinitamente bom, mas é também
infinitamente justo. Assim, ninguém é punido sem causa, e se sobre a Terra Ele
vos infligiu grandes dores, é porque as merecestes. A morte de vosso filho era
uma prova à vossa resignação; infelizmente, a ela sucumbistes quando em vida, e
eis que após a morte de novo sucumbis; como pretendeis que Deus recompense os
filhos rebeldes? A sentença não é, porém, inexorável, e o arrependimento do
culpado é sempre acolhido. Se tivésseis aceito a provação com humildade; se
houvésseis esperado com paciência o momento da vossa desencarnação, ao
entrardes no mundo espiritual, em que vos achais, teríeis imediatamente
avistado vosso filho, o qual vos receberia de braços abertos. Depois da
ausência, vê-lo-íeis radiante. Mas, o que fizestes e ainda agora fazeis, coloca
entre vós e ele uma barreira. Não o julgueis perdido nas profundezas do Espaço,
antes mais perto do que supondes — é que véu impenetrável o subtrai à vossa
vista. Ele vos vê e ama sempre, deplorando a triste condição em que caístes
pela falta de confiança em Deus e aguardando ansioso o momento feliz de se vos
apresentar. De vós, somente, depende abreviar ou retardar esse momento. Orai a
Deus e dizei comigo: “Meu Deus, perdoai-me o ter duvidado da vossa justiça e
bondade; se me punistes, reconheço tê-lo merecido. Dignai-vos aceitar meu
arrependimento e submissão à vossa santa vontade.”
Ela. — Que luz de esperança
acabais de fazer despontar em minha alma! É um como relâmpago em a noite que me
cerca. Obrigada, vou orar... Adeus.
A morte, mesmo pelo suicídio, não produziu neste Espírito
a ilusão de se julgar ainda vivo. Ele apresenta-se consciente do seu estado: —
é que para outros o castigo consiste naquela ilusão, pelos laços que os prendem
ao corpo. Esta mulher quis deixar a Terra para seguir o filho na outra vida:
era, pois, necessário que soubesse aí estar realmente, na certeza da
desencarnação, no conhecimento exato da sua situação. Assim é que cada falta é
punida de acordo com as circunstâncias que a determinam, e que não há punições
uniformes para as faltas do mesmo gênero.
Memórias de um suicida – Yvonne Pereira
(Espíritos
suicidas foram levados a uma CE para atendimento espiritual)
Como sói
acontecer nas reuniões legítimas da iniciação espírita-cristã, cujos
princípios elevados impõem como base inalienável para o seu adepto a
auto-reforma moral e mental, naquela noite memorável para todos de minha
sinistra falange foi escolhido o tema evangélico a ser estudado e comentado.
Como vemos, o ensino era fornecido por Jesus, ali considerado Lente Magnífico,
Presidente de Honra, cujas lições levantavam o pedestal de tudo o que se
desenrolaria.
Iniciada foi,
pois, a leitura do Evangelho, seguindo-se explanação formosa e fecunda, do
presidente terreno. As parábolas elucidativas, as ações magnânimas e
carinhosas, as promessas inolvidáveis mais uma vez enternecem o coração dos
aprendizes da Escola de Allan Kardec, que circulavam a mesa, repercutindo
gratamente, pela primeira vez, no
Intimo de cada um de nós outros, o divino convite para a redenção — pois até
então não ouvíramos ainda dissertações congêneres.
Para as criaturas
terrenas ali presentes tratava-se apenas do irmão presidente a ler e comentar
o assunto escolhido, em hora de inspiração radiosa, em que jorros de intuições
vivíssimas, cintilantes, cascateavam do Alto revivendo a extensa relação das
exemplificações do Modelo Divino e expressões de Sua moral impoluta. Para os Espíritos
que se aglomeravam no recinto, porém, invisíveis à quase totalidade dos
circunstantes humanos, e, particularmente, para os desditosos que para ali
foram encaminhados a fim de se esclarecerem, havia muito, muito mais que isso!
Para estes, são figuras, vultos, seqüências que se agitam a cada frase do
orador! Ë uma aula —estranha, singular terapêutica! — que nos ministravam qual
medicamentação celeste a fim de balsamizar nossas desgraças! A palavra,
vibração do pensamento criador, repercutindo em ondas sonoras, onde se retratavam
as imagens mentais daquele que a proferia, e espalhando-se pelo recinto
saturado de substâncias fluido-magnéticas apropriadas e fluidos animalizados
dos médiuns e assistentes encarnados, é rapidamente acionada e concretizada,
tornando-se visível graças a efeitos naturais que as forças mentais conjugadas
dos Tutelares reunidos no Templo, com as dos demais cooperadores em ação, produziam.
Intensificam-se as atividades dos técnicos da Vigilância, comissionados para o
delicado labor da captação das ondas onde as imagens mentais se retrataram, da
coordenação e estabilidade de seqüências, etc., etc. A palavra assim trabalhada
no maravilhoso laboratório mental, assim modelada e retida por eminentes
especialistas devotados ao bem do próximo — corporificou-.e, tornou-se
realidade, criada que foi a cena viva do que foi lido e exposto!
De nossas arquibancadas, rodeado de
lanceiros quais prisioneiros do pecado que em verdade éramos, tivemos a inédita
e grata surpresa de assistir ao desenrolar das narrativas escolhidas, em
movimentações, na faixa flamejante que do Alto descia iluminando a mesa e o recinto.
Se havia referência à personalidade inconfundível do Mestre Nazareno — era a
reprodução de Sua augusta imagem que se desenhava, tal como cada um se habituara a imaginá-lo no âmago do pensamento
desde a infância! (...)
E era um desfilar
empolgante de cenas, das quais o Consolador
Amável destacava-se irradiando convites irresistíveis a nós outros, réprobos
sofredores e desesperançados, enquanto o orador rememorava as divinas ações
por Ele praticadas!...
Silêncio
religioso presidia as arquibancadas. Frêmito de emoções desconhecidas acendia,
nas profundezas sensíveis dos nossos Espíritos atribulados e tristes, uma
alvorada de confiança, prelúdio prometedor da Fé que nos deveria impulsionar
para os labores da salvação. Suspensos pelos interesses do ensinamento
poderosamente sedutor, fitávamos embevecidos aqueles quadros sugestivos,
criados momentaneamente para nossa elucidação, e nos quais destacávamos o
Nazareno socorrendo os desgraçados, enquanto a palavra afetuosa do orador,
envolta nas ondas fluídicas, ainda mais doces, do pensamento caridoso dos seres
angélicos que nos assistiam, instruía ternamente, com entonações que
repercutiam até ao âmago dos nossos Espíritos sequiosos de consolo, como imprimindo
em seus refolhos, para sempre, a imagem incomparável do Médico Celeste que nos
deveria curar! Então sentimos que, pela primeira vez, desde muitos anos, a
Esperança descia seus mantos de luz sobre nossas almas enoitadas pelas trevas
do desânimo e da ímpia descrença!
De súbito, brado
angustioso, de suprema desesperação, feriu a majestade do religioso silêncio
que abendiçoava o cenáculo!
Um dos nossos
míseros pares, justamente daqueles a quem denominávamos “retalhados”, durante o
cativeiro no Vale Sinistro, por conservarem no corpo astral az trágicas sombras
do esfacelamento do envoltório carnal sob as rodas de pesados veículos de
ferro, e cujo estado de incompreensão e sofrimento, muito grave, exigira o
concurso humano a fim de ser suavizado — esperando receber também alívio aos
feros padecimentos que o exasperavam, arrojou-se de joelhos ao solo e suplicou
por entre lágrimas, tão pungentes que sacudiram de compaixão as fibras dos
circunstantes — como outrora teriam feito os desgraçados em presença do Meigo
Rabi da Galiléia:
“— Jesus-Cristo!
Meu Senhor e Salvador! Compadecei-vos também de mim! Eu creio, Senhor! e quero
a vossa misericórdia! Não posso mais! Não posso mais! Enlouqueci no sofrimento!
Socorrei-me, Jesus de Nazaré, a mim também, por piedade!.. .“
A um sinal de
Alceste e de Romeu, os bondosos enfermeiros ampararam-no, conduzindo-o ao
médium, uma senhora ainda jovem, delicada de talhe e de feições, e que na
véspera se comprometera ao magno desempenho, quando das investigações dos
obreiros do Instituto para conseguirem a reunião. Dois médicos, responsáveis
pelo Espírito em questão, acompanharam-no, estabelecendo sua ligação com o
precioso veículo, e também a este dispensando a mais desvelada assistência, a
fim de que nenhum contratempo sobreviesse.
A cena, então,
atingiu a culminância mais patética e, ao mesmo tempo, mais sublime que
imaginar se possa!
Apossando-se de
um aparelho carnal que, piedosamente, por momentos lhe emprestavam, no intuito
cristão de beneficiá-lo, por ajudá-lo a conseguir alivio, o desgraçado suicida
sentiu, em toda a sua plenitude, a tragédia que havia longos anos vinha
experimentando o seu viver nas trevas do martírio inconcebível!... pois tinha
agora, ao seu dispor, outros órgãos materiais, nos quais suas vibrações,
ardentes e tempestuosas, esbarrando brutalmente, voltavam plenamente
animalizadas para produzirem no seu torturado corpo astral repercussões
minuciosas do que fora passado! Gritos lancinantes, estertores macabros,
terrores satânicos, todo o pavoroso estado mental que arrastava, refletiu ele
sobre a médium, que traduziu, tanto quanto lho permitiam as forças do sublime
dom que possuía, para os circunstante. encarnados ali presentes —, a
assombrosa calamidade que o túmulo encobria!
Enlouquecido, vendo sobre a mesa os
fragmentos em que se convertera em
desgraçado corpo de carne, por ele próprio atirado sob as rodas de um trem de
ferro, pois seu inacreditável estado mental fazia-o ver, por toda parte, o mal
que existia em si mesmo, chaga
que lhe violentara a consciência — arrebatou a jovem médium em
agitações penosas e, debruçando-se sobre a mesa, pôs-se a reunir aquele, mesmos fragmentos, tentando reorganizar o
corpo, que via, cheio de horror, eternamente disperso sobre os trilhos, presa dramática de
uma das mais abomináveis alucinações que o Além-túmulo costuma registrar!
Vulnerado pelos
fogos da inconcebível tortura do réprobo a estampar a realização da assertiva
severa do Evangelho:
“- e sereis atirados nas
trevas exteriores onde chorareis e rangereis os dentes”,
a infortunada ovelha desgarrada, que
desdenhara ouvir as advertências do prudente e sábio Pastor da Galiléia, ia,
nervosamente, arrepanhando papéis, livros e lápis que se achavam dispostos
sobre a mesa, à disposição dos psicógrafos, e, neles julgando reconhecer as próprias vísceras esfaceladas, ossos
triturados, carnes sangrentas — o
coração, o cérebro — reduzidos a montículos repugnantes —
mostrava-os, chorando convulsivamente, ao presidente da reunião, a quem
enxergava com facilidade, suplicando sua intervenção junto a Jesus Nazareno, já
que tão bem O conhecia, para remediar-lhe a alucinadora situação de se sentir
assim despedaçado e reconhecer-se, e sentir-se Vivo! Nervoso, irrequieto,
excitadíssimo, o dantesco prisioneiro dos tentáculos malvados do suicídio
gargalhava e chorava a um mesmo tempo, suplicava e gemia, estorcia-se e
ululava, expunha, sufocado em lá grimas afogueadas pelo martírio, o drama
incomensurável que para si mesmo criara com o suicídio, o remorso inconsolável
de preferir a descrença em que vivera e morrera à conformidade conselheira e
prudente, frente às penas da adversidade, pois, reconhecia agora, tardiamente,
que todos os dramas que a vida terrena
apresenta são meros
contratempos passáveis, contrariedades banais, comparados aos monstruosos sofrimentos originários do suicídio, cuja
natureza e intensidade nenhum ser humano, mesmo um Espírito desencarnado, é
competente para avaliar, uma vez
que as não tenha experimentado!
Comovido — a
personagem principal da mesa — o presidente, a quem tutelares invisíveis
amorosamente inspiram, fala-lhe piedosamente, consola-o apontando a luz
sacrossanta do Evangelho do Mestre Divino como o recurso supremo e único capaz
de socorrê-lo, afiançando-lhe ainda, com sua palavra de honra, a qual não tem
dúvidas em empenhar, tal a certeza do que afirma, a intervenção do Médico
Celeste, que proporcionará alivio imediato aos estranhos males que o afligem.
Eleva então uma prece, singela e amorosa, depois de convidar todos os corações
presentes a galgar com ele o espaço infindo, em busca do seio amorável de
Jesus, para a súplica de mercês imediatas para o desgraçado que precisa
serenidade a fim de expungir da mente a visão macabra com que os próprios
delitos lhe fustigam a alma e a continuação da Vida, as quais pretendeu
aniquilar com a deserção pelos atalhos do suicídio!
Acompanham-no de
boamente todos quantos se interessam pelo infeliz alucinado: — encarnados que
compõem a mesa, desencarnados que realizam a magnificência da sessão, isto é,
instrutores, vigilantes, assistentes guias da Casa, lanceiros e até nós outros,
os delinqüentes mais serenos, profundamente comovidos. Oram ainda os diretores
de nossa Colônia, que, do segredo do Templo, assistem quanto se desenrola entre
nós; oram Teócrito e seus adjuntos, os quais, do Hospital, igualmente assistem
aos trabalhos através dos possantes aparelhos que conhecemos ou simplesmente
servindo-se da dupla vista, que facilmente acionam. E assim docemente harmonizada
e fortalecida ao impulso vigoroso dos pensamentos homogêneos de tantos corações
fraternalmente unidos sob o ósculo sublime da Caridade, no que pode ela
encerrar de mais belo e desinteressado — a prece ilibada e santa transformou-se
em corrente vigorosa de luz resplendente, que dentro de curtos minutos atingiu
o Alvo Sagrado e voltou fecundada pelo amplexo da Sua divina misericórdia! Cada
pensamento, que se unifica aos demais em anseios compassivos, cada expressão
caridosa extraída do coração, que subia à procura do Pai Altíssimo em favor do
infeliz ferreteado pelo suicídio, que precisou do concurso humano para se
adaptar ao além-túmulo — são vozes a lhe segredarem esperanças, são bálsamos
fecundos e inestimáveis a gotejarem tréguas, vislumbres de bonanças nas
cruentas tempestades que sacodem seu Espírito ergastulado na desgraça! (...)
Pouco a pouco, sem, que uma única palavra tornasse a ser proferida, e
enquanto apenas as forças mentais de desencarnados conjugadas com as de
encarnados morejavam, efetivou-se a Divina Intervenção... e não desdenharemos
descrevê-la, digno que é o seu transcendentalismo da nossa apreciação.
As vibrações mentais dos assistentes encarnados, e particularmente da
médium, cuja saúde físico-material, físico-astral, moral e mental,
encontrava-se em condições satisfatórias, pois que fora anteriormente examinada pelos provedores do importante
certame espiritual, reagiam contra as do comunicante, que, viciadas,
enfermas, positivamente descontroladas, investiam violentamente sobre
aquelas, como ondas revoltas de imensa torrente que se despejasse abruptamente
no seio esmeraldino do oceano, formoso e sobranceiro refletindo os esplendores
do firmamento ensolarado. Estabeleceu-se, assim, luta árdua, na realização de
sublime operação psíquica, uma vez que influenciações saudáveis, fluidos
magnéticos mesclados de essências espirituais aconselháveis no caso,
fornecidos pela médium e pelos guias assistentes, deveriam impor-se e domar as
emitidas pela entidade sofredora, incapaz de algo produzir distante do
inferior. A corrente poderosa pouco a pouco apresentou os frutos salutares que
era de esperar, dominando suavemente as vibrações nefastas do suicida depois
de passar pelo áureo veículo mediúnico, o qual, materializando-a, adaptando-a em afinidades com o paciente, tornava-a
assimilável por este, cujo envoltório astral fortemente se ressentia das
impressões animalizadas deixadas pelo corpo carnal que se extinguia sob a pedra do sepulcro! Eram como que
compressas anestesiantes que se aplicassem na organização fluídica do
penitente, suavizando-lhe o efervescer das múltiplas excitações, a fim de
torná-la em condições de suportar a verdadeira terapêutica requisitada pelo
melindroso caso. Era como sedativo divino que piedosamente gotejasse virtudes
hialinas sobre suas chagas anímicas, através
do filtro humano representado pelo magnetismo mediúnico, sem o qual o
infeliz não assimilaria, de forma alguma, nenhum benefício que se lhe
desejasse aplicar! E era como transfusão de sangue em moribundo que voltasse à
vida após ter-se encontrado às bordas do túmulo, infiltração de essências
preciosas que a médium recebia do Alto, ou dos mentores presentes, em
abundância, transmitindo em seguida ao padecente.
Lentamente a médium se aquietou, porque o desgraçado “retalhado” se
acalmara. Já não via os reflexos mentais do ato temerário, o que equivale
adiantar que desaparecera a satânica visão dos fragmentos do próprio corpo, que
em vão tentara recolher para recompor. Grata sensação de alívio perpassava suas
fibras perispirituais doloridas pelos amargores longamente suportados...
Continuava o silêncio augusto propício às dulçorosas revelações imateriais do
amparo maternal de Maria, da misericórdia inefável de seu Filho Imaculado. Pelo
recinto repercutiam ainda as tonalidades blandiciosas da melodia evangélica,
quais cavatinas siderais harpejando esperanças:
“— Vinde a mim, vós que sofreis e vos achais
sobrecarregados, e eu vos aliviarei....“
enquanto ele chorava em grandes
desabafos, entrevendo possibilidade de melhor situação. Suas lágrimas, porém,
já não traduziam os estertores violentos do início, mas expressão agradecida de
quem sente a intervenção beneficente...
Então, Alceste e Romeu acionaram as forças da
intuição, com veemência, sobre a mente do presidente da mesa, que se
engrinaldou de luminosidades adamantinas. Aproximaram-se os técnicos do
aparelho mediúnico, a que o infeliz se encostava. Explica-lhe o presidente, pormenorizadamente,
quanto lhe sucedeu e por que sucedeu. Ministra-lhe aula expressiva, a que
aqueles agentes corporificam com a criação de quadros demonstrativos. Vimos
que se repetia então na sessão espiritista terrena o que havíamos assistido nas
assembléias do Hospital presididas pelo insigne Teócrito: — A vida do paciente
ressurge, como fotografada, refletida nesses quadros, de suas mesmas
recordações, desfilando à frente de seus olhos desde o berço até o túmulo por
ele mesmo cavado! Ele reviu o que praticou, assistiu aos estertores rápidos da
agonia que a si próprio ofereceu sob as rodas de um veículo; contemplou, perplexo
e aterrado, os destroços a que seu gesto brutal reduzira sua configuração humana
cheia de vigor e de seiva para o prolongamento da existência... mas fê-lo agora
independente daqueles destroços, como se houvera despertado de hediondo pesadelo!...
Observou mesmo, desfeito em lágrimas, que mãos piedosas recolheram seus
despojos sangrentos de sobre os trilhos; assistiu comovido ao sepultamento dos
mesmos em terra. consagrada... e viu o vulto confortador de uma Cruz montando
guarda à sua sepultura. Compreendeu, assim, e aceitou o acontecimento que
sentia dificuldades e repulsas em acatar, isto é, que era imortal e continuaria
vivendo, vivendo ainda e para todo o sempre, apesar do
suicídio! Que de nada aproveitara a resolução infernal de pretender burlar as
leis divinas senão para sobrecarregar-lhe a existência, assim como a consciência,
de responsabilidades tão graves quanto pesadíssimas! E que, se o corpo
material se extinguia, com efeito, no lodo pútrido de um sepulcro — o Espírito,
que é a personalidade real, porque descendente da Luz Eterna do Supremo
Criador, marcharia indestrutível para o futuro, apesar de todos os percalços e
contratempos, vivo e eterno como a própria Essência Imortal que lhe fornecia a
Vida!
Oh, Deus do Céu!
Que ofício religioso ultrapassará em glórias essa reunião singela, desprovida
de atavios e repercussões sociais, mas onde a atribulada alma de um suicida,
descrente da misericórdia do seu Criador, desesperada pelo acervo dos
sofrimentos daí conseqüentes e inclemência dos remorsos, é convertida aos
alvores da Fé, pela doçura irresistível do Evangelho do Meigo Nazareno!... Que
cerimônia, que ritual, quais festividades e pompas existentes sobre a Terra
poderio ombrear-se com a magnificência do santuário secreto de um núcleo de
estudos e labores espirituais onde os missionários do Amor e da Caridade do
Unigênito de Deus em Seu nome esvoaçam, mergulhados em vibrações ilibadas e
puras, oferecendo aos iniciados modernos, que se congregam em cadeias mentais
excelentes, o precioso exemplo de nova prática da Fraternidade!... Em que
setor humano depararia o homem glorificação mais honrosa para lhe condecorar a
alma, do que essa, de ser elevado à meritória categoria de colaborador das
Esferas Celestes, enquanto os Embaixadores da Luz lhe desvendam os mistérios
do túmulo ofertando-lhe sacrossantos ensinamentos de uma Moral redentora, de
uma Ciência Divina, no intuito generoso de reeducá-lo para o definitivo
ingresso no redil do Divino Pastor?!...
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