domingo, 4 de dezembro de 2016

Organização das Reuniões Mediúnicas

Casa Espírita Missionários da Luz – ESDE2 - 29/09/2015

Tema: Das Reuniões Mediúnicas - Organização

Objetivos:
Salientar o papel do doutrinador, passista e dirigente da reunião mediúnica.

Bibliografia:
  • O Livro dos Médiuns – Cap. XX, item 230, &5; Cap XXXI
  • Diretrizes de Segurança (Raul Teixeira e Divaldo P. Franco)– perg 55, 72;
  • Correnteza de Luz (Raul Teixeira/Camilo) – Cap 18 e 19;
  • Diálogo com as Sombras (Hemínio C. Miranda) – Cap. II item 1 e IV item ‘O Passe’.

Sugestões de Atividades: apostilas da FEP (Organização da Reunião)  ou FEB – Roteiro 27

Material: cópia dos trechos a serem estudados pelos grupos

Desenvolvimento:  

  1. Prece inicial (não faremos leitura de página inicial pois o tema da noite é extenso).

  1. Iniciar falando do tema da noite e que faremos estudo de trechos diferenciados em grupos e depois apresentação dos pontos principais. É bom também pois vai treinando os participantes a exporem conteúdos doutrinários!

  1. Divisão em 4 grupos com os seguintes trechos, cada um:   30 minutos

a)    Correnteza de Luz, Cap. 18 – ‘Na direção’ ( e texto consulta de Diálogo com as Sombras)
b)    Correnteza de Luz, Cap. 19 – ‘Na doutrinação’ (e texto consulta de Diálogo com as Sombras)
c)    Diálogo com as Sombras  – Cap. II item 1, sub item ‘Outros participantes’
d)    Diálogo com as Sombras  – Cap. IV item ‘O Passe’

Cada grupo deve identificar os pontos principais para apresentar.

4.    Apresentação dos grupos (20 minutos)
5.    Conclusão, se necessário.
6.    Prece final

7.    Anexos – resumos dos pontos principais:

Grupo Mediúnico –Doutrinador
-Formação doutrinária: o conhecimento é a base de sustentação;
-Confronto não é de inteligência nem de cultura: é de corações, de sentimentos –não é uma disputa;
-Ser interessado no aspecto evangélico;
-Estar apoiado na emoção, no desejo de servir e ajudar: muitos Espíritos necessitam de 1º socorros e não de pregação!
-Autoridade moral ;
-Humildade: não se envaidecer com a doutrinação;
-Preciso ter fé no trabalho da equipe espiritual;
-Destemor: coragem x imprudência;
-Paciência, sensibilidade, tato: ouvir para ver o cerne do problema do Espírito; perceber seu contexto, sua percepção da situação em que se encontra;
-Energia para o momento da ação


Grupo Mediúnico –Outros participantes
-Contribuem para a concentração;
-Fornecem recursos vibratórios de alto valor;
-Auxiliam nos passes;
-É falsa a opinião de que não fazem nada;
-Podem estar sendo preparados para novas tarefas.

Interessados num trabalho sério, cansativo, contínuo e disciplinado?
èNão podem deixar-se envolver pela frustração se não desenvolver mediunidade ostensiva.

A Reunião Mediúnica
-Doutrinador não deve ficar face-a-face com o médium –razão psicológica (disputas);
-Se há psicografia –apoio com os papéis;
-A sequência das manifestações é definida pela equipe espiritual: uma por vez!
-Comentários sobre o trabalho realizado: disciplina e caridade para com os atendidos; não devem se alongar.

-A continuidade do atendimento, quando necessário, de modo geral é feita pelo mesmo médium -assiduidade;
-Saída da sala com discrição.


Textos de estudo:



Diálogo com as Sombras  – Cap. II item 1, sub item ‘Outros participantes’

Um grupo mediúnico não se constitui apenas de um doutrinador e alguns médiuns já desenvolvidos e preparados para os seus encargos. Há sempre outros companheiros, sem mediunidade ostensiva, que podem e devem participar, respeitados o limite numérico e a qualificação pessoal anteriormente referidos.
Tais participantes merecem atenção e cuidados, como quaisquer outros que integrem o grupo. Devem obedecer à mesma disciplina, e entregar-se ao mesmo aprendizado doutrinário e à mesma atenta observação a que cada um dos demais é submetido, pois, ainda que não manifestamente, também trazem ao grupo a sua contribuição. São geralmente amigos e parentes de um ou outro membro, e sentem-se atraidos pelo trabalho. É necessário estudar bem e discutir com franqueza as suas motivações. Estão interessados num trabalho sério, cansativo, contínuo e disciplinado? Acham-se apenas impulsionados pela curiosidade passageira? Integram-se bem no grupo, mantendo boas relações de amizade com os demais componentes? Estarão dispostos a contentar-se com uma tarefa aparentemente inútil e apagada?
O trabalho, nos grupos de desobsessão, não oferece atrativos àqueles que não estejam preparados para a dedicação, sem escolher funções e sem buscar posições de relevo. Não apresenta, ademais, fenomenologia espetacular, para distrair aqueles que buscam nos fatos mediúnicos apenas a manifestação mais dramática, como as de efeitos físicos (materializações, transportes, levitação e outras), nem comunicações de Espíritos luminosos ou célebres. Nada disso. O trabalho é muito mais humilde, exige dedicação, esforço concentrado, renúncia, paciência. O grupo não se reúne para divertir-se com Espíritos, mas para servir e aprender. Não esperemos revelações extraordinárias, destinadas a abalar o mundo, nem convívio com os Espíritos redimidos, que fiquem à nossa disposição, para responder a qualquer pergunta ou fazer qualquer favor.
Por outro lado, o companheiro, ou companheira, sem mediunidade ostensiva, pode deixar-se envolver pela frustração, se não tem condições de “receber” Espíritos, escrever páginas psicográficas, ver ou ouvir os companheiros desencarnados. Muitos buscam aderir aos grupos na esperança de que isto aconteça e, de uma hora para outra, passem a funcionar como médiuns perfeitamente ajustados. Raramente a mediunidade eclode assim, espontânea e fulminante, pronta e afinada. Só excepcionalmente isso acontece. A norma geral é o desabrochar lento, muitas vezes penoso, a exigir estudo, dedicação, orientação e renúncias bastante sérias. Quando assistimos à manifestação de um Espírito sofredor, ou de um dos instrutores anônimos do Mundo Superior, através de um médium perfeitamente ajustado, não imaginamos quanto trabalho preparatório foi necessário desenvolver, até chegar àquele ponto; quantas dores, quanta vigilância, e preces, incertezas, dificuldades e desenganos. (...) E é por isso, também, que muitas mediunidades ficam, por assim dizer, inacabadas, toscas e primitivas, como obras que o artista não teve suficiente dedicação e tenacidade para concluir. Dizem que o gênio é dez por cento inspiração e noventa por cento transpiração; a mediunidade talvez guarde relação semelhante. (...)
Serão, então, dispensáveis os componentes do grupo que não ofereçam condições mediúnicas? Não. Sua participação é desejável. Se estão bem entrosados com as demais pessoas e mantém atitude construtiva, contribuem para a concentração das mentes no clima de segurança e de harmonia, e prestam serviços relevantes de apoio. Ainda que inconscientemente, muitas vezes têm papel importante no grupo, fornecendo recursos vibratórios de alto valor.
É muito freqüente ouvirmos desses companheiros uma palavra de desânimo e desinteresse, por acharem que nada estão fazendo no grupo, o que é falso. Os nossos instrutores espirituais estão cansados de insistir em que todos os recursos humanos colocados à disposição do trabalho são aproveitados. Não é necessário que todos, indistintamente, sejam médiuns, nem mesmo desejável. Os companheiros sem mediunidade ostensiva precisam convencer-se de que devem manter, em qualquer circunstância, e ao longo dos anos, uma atitude construtiva e disposta à cooperação. Deixem aos operadores desencarnados a incumbência de decidir quanto à utilização dos recursos de cada um. A atitude negativa acarreta dificuldades e desarmonias que prejudicam seriamente as tarefas mediúnicas, da mesma forma que o espírito Crítico, ou de fria observação, como se o membro do grupo fosse mero espectador.
Por mais de uma vez, tive oportunidade de verificar casos específicos de atitudes assim, quando o companheiro, ou a companheira, questionou a validade da sua presença no grupo. A um desses, um dos Espíritos que se incumbiam da orientação do grupo afirmou que, ao contrário, tal pessoa nos prestava excelentes serviços, como “dínamo de vibrações amorosas”, de que estava pleno o seu coração. Esses recursos eram amplamente utilizados no trabalho, sem que ela tivesse consciência do fato.
Além do mais, é comum desenvolverem-se nesses companheiros preciosas mediunidades, que se acham apenas em potencial, em período de expectativa e de provas, para experimentar-lhes a paciência e a tenacidade. Com o decorrer do tempo, começa a ensaiar-se timidamente a faculdade, numa rápida vidência, na captação de uma ou outra palavra ou intuição. Quase sempre podem também ser muito úteis como médiuns de passes, dado que praticamente todos os seres humanos dispõem dessa condição em potencial, se tiverem desejo de servir e pureza de intenções. Há condições para desenvolvê-la harmoniosamente, sob supervisão de alguém mais experimentado. Neste caso, aqueles que não dispõem de faculdades para incorporação, psicografia ou vidência, poderão incumbir-se da nobre tarefa do passe reparador, tão necessária num grupo de trabalhos práticos. A juízo do dirigente, e por ele orientados darão passes nos médiuns, após comunicações particularmente penosas, a fim de ajudá-los no reequilíbrio de suas energias e. aliviar aflições residuais deixadas pelas vibrações dolorosas do manifestante em desarmonia. Podem ainda Contribuir para a fluidificação da água.
Quanto ao mais, tenham paciência e portem-se com humildade e respeito. É possível que, com o tempo, venham a manifestar indícios indubitáveis de excelentes faculdades, que poderão ser cultivadas e aproveitadas. Mantenham-se em calma, sem açodamento ou excitação. Estudem e observem.
O dirigente do grupo deverá ter sensibilidade bastante para identificar os indícios e acompanhar cada caso individual, com sabedoria e bom senso.
O participante, porém, precisa estar preparado para a eventualidade de conviver com o grupo por longos anos, sem que nenhum fenômeno ostensivo se passe na intimidade de seu ser. Não pense, porém, que é inútil, só porque não incorpora, não vê ou não ouve Espíritos; às vezes, sua participação é preciosa. Conserve-se firme e tranqüilo; contribua para manter um bom ambiente de vibrações amorosas, vigie seus pensamentos, permaneça concentrado e em prece nos momentos mais críticos. Não se aflija se a sua contribuição é menos ostensiva. Num grupo bem harmonizado, todos são úteis e necessários, como já ensinava Paulo, ha tantos séculos:
      - Com efeito — dizia ele aos Coríntios (Primeira Epístola, capítulo 12, versículos 14 e seguintes) — o corpo não se compõe de um só membro, senão de muitos. Se o pé dissesse: “Como não sou mão, não pertenço ao corpo”, deixaria de ser parte do corpo, por isso? E se o ouvido dissesse: “Como não sou olho, não pertenço ao corpo”, deixaria de ser parte do corpo, por isso? Se todo o corpo fosse o olho, onde ficaria o ouvido? E se fosse todo ou­vido, onde ficaria o olfato?
      Nada, pois, de ambicionar, ou mesmo desejar, faculdades para as quais não estamos preparados, ou, pelo menos, ainda não estamos preparados. Tenho, sob este aspecto, uma experiência pessoal. Durante vários anos freqüentei um grupo mediúnico, sem saber ao certo o que fazia. Sentava-me entre os companheiros, procurava portar-me com respeito, atenção e vigilância interior. Nenhum fenômeno, nenhuma forma de mediunidade, nem mesmo uma palavra perdida, que eu tivesse captado, ou a fugaz visão de um companheiro desencarnado. A tudo ouvia, participando dos dramas e aflições dos irmãos desarvorados, que então nos procuravam, acompanhando com interesse as instruções e observações dos nossos benfeitores desencarnados. Esse grupo, constituído de pessoas que muito se estimavam e se mantinham bem afinadas, não tinha, porém, a rigidez de uma disciplina mais rigorosa. Vários dos seus componentes conversavam com os Espíritos, ao sabor dos acontecimentos. Os resultados eram bons, por certo, porque nos esforçávamos por manter a harmonia. Sentíamos, no entanto, que poderíamos fazer melhor a nossa tarefa, e, uma noite, antes da reunião, tomamos algumas decisões mais drásticas. Como o grupo não tinha uma liderança clara e específica, as tarefas foram distribuídas por uma espécie de consenso geral: A, B e C se limitarão às suas respectivas mediunidades, D fará as preces de abertura e encerramento. E, voltando-se para mim, disse aquele que estava com a palavra:
— Só você falará com os Espíritos.
Senti um “frio por dentro”. Eu? Que diria, meu Deus! Aos irmãos aflitos e desarmonizados.
O aprendizado dos tempos em que fiquei como simples observador revelou-se precioso, e, ainda que timidamente e sentindo cuidadosamente o difícil terreno em que pisava, comecei a tarefa que me fora atribuida procurando corresponder às esperanças daqueles que ma concediam.
E foi assim que, inesperadamente, me achei investido de uma responsabilidade que nem suspeitava me seria conferida.
Não Posso dizer se dei boa conta dela, mas, como me conservaram no posto pelo resto do tempo em que o grupo funcionou, creio que correspondi à confiança que em mim depositaram.
Este episódio é aqui documentado, apenas para enfatizar a circunstância de que, muitas vezes, estamos, no grupo, sendo imperceptivelmente preparados e testados para responsabilidades futuras. Esperemos com paciência. E se não chegar o dia de uma participação mais dinâmica e efetiva, ou, por outra, mais ostensiva, não importa; não perdemos o tempo, ofertando o pouco de que dispomos: alguém se beneficiou mesmo com esse pequeno óbolo da viúva. Não somos julgados pelos resultados, mas pela boa-vontade que evidenciarmos.
O dirigente do grupo deve estar bem atento a toda e qualquer contribuição dessa natureza, estimulando-a com interesse, Colocando à disposição do companheiro sua experiência e orientação, procurando ajudá-lo, assisti-lo no esclarecimento de dúvidas, estudando junto com ele (ou ela) as dificuldades da tarefa, oferecendo sugestões, sem colocar-se na posição de mestre infalível que tudo sabe, pois em questão de mediunidade precisamos ser humildes e sensatos para admitir que não sabemos tudo, longe disso; aquele que souber um pouco, utilize seus conhecimentos de maneira construtiva, sempre disposto a aprender mais, a rever pontos de vista, a reaprender. Cada caso é diferente, cada manifestação é diferente, uma vez que cada um de nós é um ser diferente, a atestar a infinita capacidade criadora dAquele que nos formulou no seu pensamento e nos deu forma, vida e consciência.




Diálogo com as Sombras (Hemínio C. Miranda) – Cap. II item 1 e IV item ‘O Passe’.

A técnica do passe magnético, nas sessões de desobsessão, merece algumas observações específicas.  (...)
Como sabemos, porém, o passe é utilizado também para magnetizar, provocando, nesse caso, o desdobramento do perispírito, e até o acesso à memória integral e conseqüente conhecimento de vidas anteriores, segundo experiências de Albert de Rochas, reiteradas posteriormente por vários pesquisadores. (...)
Poucos estudos existem, ao que sabemos, sobre o passe aplicado aos seres desencarnados, não apenas para fins curativos de disfunções perispirituais, como para provocar a regressão de memória. Parece, no entanto, lógico inferir que o mecanismo é idêntico ao passe aplicado em seres encarnados. Os ensinamentos de André Luiz permitem-nos concluir assim, quando informam que o passe magnético, apoiado na prece, constitui poderoso fator de reajustamento para os desencarnados cujos perispíritos se acham lesados em decorrência de quedas morais.
O perispírito, como veículo da sensibilidade e intermediário entre o Espírito e o ambiente em que vive, está presente, tanto no encarnado como no desencarnado. Sua estrutura, embora mais sutil noutro campo vibratório, é similar à do corpo físico, pois é ele o modelador da nossa organização material. Dessa forma, o Espírito desencarnado, incorporado ao médium, torna-se facilmente acessível ao passe magnético e, portanto, aberto aos benefícios que o passe proporciona.  (...)
Sem dúvida alguma, o passe é recurso válido nos labores mediúnicos, mas deve ser empregado com certas cautelas e com moderação. Nesse campo, definições precisas e definitivas não existem ainda, pelo simples fato de que o ser humano, além de ser uma organização consciente extremamente complexa, é imprevisível. O passe, como todos os demais recursos com que procuramos socorrer os nossos irmãos desencarnados em crise, precisa ser ministrado no momento certo, com a técnica adequada e na extensão necessária. Mas, qual o momento, qual a técnica e qual a extensão, para cada caso? Não podemos ainda — e creio que não poderemos fazê-lo tão cedo — escrever normas rígidas para a tecnologia do passe sobre os desencarnados.
No entanto, os amigos espirituais que tão generosamente se colocaram ao nosso lado, para orientar e apoiar o nosso trabalho de doutrinação, têm-nos trazido sempre o estímulo dos seus ensinamentos, e creio que algumas observações já estão mais amadurecidas e em condições de mais aprofundados estudos e desenvolvimento. Nunca é demais lembrar que, neste campo de trabalho, o conhecimento real emerge da experimentação, de um ou outro engano, de falhas e de êxitos, mas que, em hipótese alguma, deveremos enveredar imprudentemente pelas trilhas da fantasia, desligados dos conceitos fundamentais da Doutrina Espírita, tal como codificada por Kardec e suplementada pelos seus continuadores. A teorização somente é válida quando escorada na experiência, mas não devemos esquecer que a recíproca também é legítima, ou seja, a experimentação deve balizar-se dentro daqueles conceitos fundamentais que a Doutrina e a lógica já confirmaram. (...)
A identificação da mediunidade em potencial e o seu desenvolvimento, em termos de Doutrina Espírita, devem resultar de cuidadoso planejamento, estudo metódico e prática bem orientada, mesmo porque, qualquer trabalho mal orientado, nesta fase, pode criar vícios de difícil erradicação posterior.
Creio que princípios gerais semelhantes a esses aplicam-se também ao estudo do passe, nas sessões de desobsessão. Ele é realmente o recurso válido e potente, no trato dos nossos irmãos desencarnados; sua técnica, não obstante, precisa ser desenvolvida com muita prudência e seriedade.
A primeira norma que poderíamos lembrar é a de que não deve ser aplicado a qualquer momento, indiscriminadamente, e por qualquer motivo. O passe provoca reações variadas no ser humano, encarnado ou desencarnado. Ele pode serenar ou excitar, condensar ou dispersar fluídos, causar bem-estar ou incômodo, curar ou trazer mais dor, provocar crises psíquicas e orgânicas, ou fazê-las cessar, subjugar ou liberar, transmitir vibrações de amor ou de ódio, enfim, construir ou destruir.
Precisamos estar sempre protegidos pela prece e pelas boas intenções, sempre que nos levantamos para dar passes num irmão desencarnado incorporado. Mas, para que dar passes?
Em vários casos ele pode ser aplicado, mas é preciso usá-lo com moderação, para que, ao tentarmos acalmar um Espírito agitado, não o levemos a um estado de sonolência que dificulte a comunicação com ele, justamente do que mais precisamos. Se temos necessidade de dialogar, para ajudá-lo, como vamos entorpecê-lo a ponto de levá-lo ao sono magnético? Às vezes, no entanto, isso é necessário. Já debatemos por algum tempo o seu problema; o que, tinha que ser dito, pelo menos por enquanto, foi dito, e ele continua agitado. Neste caso, o passe pode ajudá-lo a serenar-se. De outras vezes, é necessário mesmo adormecê-lo, a fim de que, ao ser retirado pelos mentores, seja recolhido a instituições de repouso, para tratamento mais adequado, ou trazido na sessão se­guinte, em melhores condições de acesso.
O passe ajuda também a desintegrar certos apetrechos que costumam trazer, como “capacetes”, “couraças”, “objetos” imantados, armas, simbolos, vestimentas especiais. Para isto serão passes de dispersão.
Com o passe, podemos mais facilmente alcançar-lhes o centro da emoção, transmitindo-lhes diretamente ao coração as vibrações do nosso afeto, que parecem escorrer como uma descarga elétrica, ao longo dos braços.
O passe cura dores que julgam totalmente “físicas”, pois localizam-se muito realisticamente em pontos específicos de seus perispíritos. Com passes — e neste caso precisamos também de um médium que tenha condições de exteriorizar ectoplasma — poderemos reconstituir-lhes lesões mais sérias ou deformações perispirituais.
Com o passe os adormecemos, para provocar fenômenos de regressão de memória ou projeções mentais, com as quais os mentores do grupo compõem os “quadros fluídicos”, tão necessários, às vezes, ao despertamento de Espírito em estado de alienação.
Com o passe podemos também ajudá-los a livrar-se da indução hipnótica alheia, ou da própria, isto é, da auto-hipnose.
De todos esses aspectos temos tido experiências altamente ins­trutivas e algumas de intensa dramaticidade. Já relatei algumas ao longo destas páginas. Veremos outros exemplos.
São mais freqüentes as oportunidades em que é preciso adormecer o Espírito, especialmente ao fim da conversa, de modo a serem conduzidos pelos trabalhadores desencarnados.
É também comum o trabalho de “desfazer” vestimentas especiais, dentro das quais se julgam protegidos de nossos fluídos. Certo Espírito, além de capacete e couraça, ligava-se por um fio, segundo nos explicou, ao seu grupo. Cinqüenta companheiros seus haviam ficado reunidos, em rigorosa concentração, para sustentá-lo na sua “perigosa” missão junto a nós. O passe pode “desfazer” os fios que ligam Espíritos aos seus redutos. Desta vez, porém, as ligações foram mantidas e, no devido tempo, os mentores do grupo utilizaram-se daqueles condutos para levar ao grupo deles uma vigorosíssima carga fluídica, que os desarvorou completamente.
Numa dessas ocasiões, o fio também foi preservado, para que, através dele, se “retransmitisse”, aos comparsas do Espírito manifestado, as palavras que ele ouvia do doutrinador.
Com mais freqüência do que seria de supor-se, somos instruí-dos a provocar a desintegração de objetos e apetrechos, como no caso daquele que nos trouxe, para fins muito bem definidos, um invisível prato de sangue, que depositou sobre a mesa.
São também constantes os fenômenos de regressão de memória, quase sempre reportando-se a vidas anteriores, nas quais se escondem núcleos de problemas afetivos, O passe ajuda os Espíritos, a despeito deles mesmos, nesses mergulhos providenciais no passado, mas nem sempre necessariamente em vidas anteriores. Lembro-me, a propósito, de um doloroso e comovente caso. O Espírito era agressivo, violento e de dificílima abordagem. Seu problema central é a mãe. Tem-lhe ódio mortal. Ao que parece, destacou-se na vida, mas nunca pôde esquecer-se de suas origens e perdoar a progenitora por ter sido uma pobre e infeliz peixeira do cais. Quando vê diante de si o Espírito de sua mãe, de braços estendidos, grita-lhe impropérios terriveis, manda-a de volta ao cais, ameaça bater-lhe e humilha-a de todas as maneiras. Creio que ele não conheceu o pai e, segundo diz, sofreu humilhações na escola, por causa de sua vida miserável, numa época de preconceitos muito severos. Ajudados por nossos passes, os amigos espirituais fazem com ele uma regressão de memória, até à infância, quando, muito pequeno, ainda aceitava a mãe, porque dependia dela e a consciência do seu drama interior estava adormecida. Ele se tornou sonolento e, com voz mansa, começou a chamar pela mãe, até que adormeceu sobre a mesa e foi retirado.
Na semana seguinte, voltou novamente com todo o ímpeto, agora agravado pelos “ardis” que utilizamos contra ele, na sessão anterior. Ainda muito difícil, está pelo menos em condições de ouvir melhor o que lhe digo. Começo a pedir-lhe que procure compreender a mãe. Ele sabe que o espírito é imortal e que vivemos muitas vidas. Por que razão teria ele, por exemplo, escolhido aquela mãe, e não outra? É porque já estava ligado a ela anteriormente. Ademais, sabia ele das obsessões de que ela fora vítima? Foi isto, precisamente, que rompeu o dique das suas emoções represadas: ele próprio fora seu obsessor, enquanto ela se encontrava na carne e ele permanecia no mundo espiritual. A sua reencarnação através dela foi um recurso da lei divina do reajuste, necessário a ambos. Num “flash” doloroso, ele compreendeu todo o seu drama terrível e entrou numa tremenda crise de remorso.
Ao cabo de uma longa conversa — e agora é o momento em que o doutrinador precisa de maior sensibilidade ainda — ele é novamente adormecido e levado.
Em suma: o passe tem importante lugar no trabalho mediúnico, mas precisa ser utilizado com prudência e sob cuidadosa orientação dos trabalhadores desencarnados. Não deve ser empregado para atordoar o manifestante, exatamente quando precisamos de sua lucidez para argumentar com ele sobre o seu problema; mas, às vezes, precisa ser aplicado exatamente para serená-lo e prepará-lo para outra ocasião, em que se apresentará mais receptivo. Tenho perfeita consciência das dificuldades que o problema oferece e do embaraço em que me encontro para ser mais específico na formulação de observações concretas e de normas de ação mais definidas. Em assuntos dessa natureza, é melhor confessar a escassez de conhecimentos do que arriscar-se a ditar regras que não estão nitidamente definidas pela experiência. Se posso sugerir alguma coisa, é que exercitem com parcimônia o recurso do passe em Espíritos desencarnados e observem atentamente seus efeitos e possibilidades. Um dia saberemos mais acerca desse precioso instrumento de trabalho, no campo mediúnico.



Correnteza de Luz, Cap. 18 – ‘Na direção’

“Daí a necessidade de serem, os diretores dos grupos espíritas, dotados de fino tato, de rara sagacidade, para discernir as comunicações autênticas das que não o são e para não ferir os que se iludem a si mesmos”.
O Livro dos Médiuns – 2ª. Parte, cap. XX, item 230/5.


Na Direção

Na tarefa de dirigir os labores da Instituição Espírita, quais as reuniões de intercâmbio, achamos por bem alinhar alguns tópicos que nos possam servir à meditação, para melhor aproveitamento da tarefa, ainda que não guardem estas notas quaisquer pretensões absolutistas, senão a de singelas contribuições a tantos que solicitam apoio em semelhantes misteres.

O trabalhador da direção mediúnica, simbolizando o timoneiro encarnado de embarcação séria e grave, deverá ajustar-se aos processos da tranqüila vigilância consigo mesmo e à sua volta, procurando sintonia com as Esferas do Bem, das quais deverá assimilar a necessária inspiração.

Não abdicará das disciplinas, em face da vida, disciplinas assinaladas pela nobreza de caráter e fidelidade ao Ideal que abraçou, na faixa dos contatos com os campos da atividade espiritual junto aos desencarnados.

Ao diretor encarnado das tarefas de intercâmbio cabe o dever de estudar e meditar, de analisar e comparar os textos e contextos que conheça, com os fatos e feitos do cotidiano, por ele observados, procurando, sempre, retirar maiores proveitos das lições, amadurecendo pensamentos e pontos de vista.

Será importante, igualmente, ao dirigente, o empenho do bom senso, esforçando-se por dialogar, com simpleza, com os companheiros que lidam nos mesmos serviços, recolhendo da experiência alheia os ensinos e ocorrências que mais o enriqueçam, ao tempo em que expressará suas próprias impressões e aprendizados, sem afetação de qualquer teor, certo de que ninguém estará, realmente, formado ou acabado nessa nobre e abençoada Escola.

À frente dos labores mediúnicos, manter-se com simpleza e sem pieguismo, forjando confiança e elaborando segurança para os partícipes da Equipe sob seu comando.

Conduzir leituras e comentários suaves, sem permitir as excitadas digressões ou o palavrório incontrolado, sabendo que as leituras ou ligeiros comentários antes da prática fenomênica têm por escopo a sintonização do grupo, a afinação de todos em redor dos acontecimentos que terão lugar, debaixo da sua direção, reconhecendo a necessidade do apassivamento mental dos participantes, ao invés da excitação natural dos momentos de discussões e análises das reuniões tipicamente para estudos doutrinários.

Orar com sobriedade, sem encenações ou impostações prejudiciais, que apenas desajustam o clima psíquico do ambiente, sem qualquer utilidade.

Durante o processamento do labor mediúnico, jamais induzir os companheiros da mediunidade ostensiva, narrando presenças espirituais ao lado deles ou determinando quantos desencarnados se contam no recinto para o atendimento. Evitará tais procedimentos, que geram insegurança e perturbação nas mentes despreparadas para o discernimento ou por demais submissas às induções dessa ordem, o que, tantas vezes, provocará os episódios anímicos, desnecessários, ou da torpe mistificação.

Na dedicação salutar com que se aplica no labor da direção dos trabalhos, o dirigente deverá ser aquele irmão bem quisto pela Equipe, e que conte com o respeito natural de todos, dando cumprimento aos seus quefazeres com a abençoada cooperação psíquica dos participantes, o que será de imensa valia para o desenrolar das sessões.

Será de muito bom alvitre lembrar ao irmão dirigente a validade de abrir mão, tanto quanto possa, das dependências infelizes, vulgarmente conhecidas por vícios, ainda que sejam chamados vícios sociais, a fim de que a autoridade moral espontânea lhe seja apanágio indispensável na realização do seu luminoso mister.

A direção dos cometimentos mediúnicos, em nenhuma circunstância, deverá ser confiada a leigos ou a indivíduos sem a devida maturidade, ainda que em processo, caso em que se desenvolverá e amadurecerá ao lado de alguém mais tarimbado no labor.

Os acidentes decorrentes da insensatez e da inexperiência são inavaliáveis.

Enquanto se processam as reuniões será compatível que o dirigente faça ou solicite de algum participante, uma ligeira e sentida prece, evitando largos silêncios, capazes de predispor os cooperadores às dispersões prejudiciais, sem fazer disso excessiva cantilena de preces despropositadas.

Em caso de ser a reunião de efeitos físicos, quando, geralmente, há médiuns em estado de transe em compartimentos para isso destinados, vale sugerir, além das orações, rápidos e oportunos comentários sobre alguma referência evangélica, indicada pelo dirigente, visando manter o clima de acordamento e reflexão, quando, ainda, com o mesmo objetivo, utilizam-se melodias suaves nas vozes tranqüilas dos participantes, sem excessos desconectantes do real sentido do empreendimento espiritual.

Dirigindo sessões mediúnicas, o individuo é o médium da orientação superior dos Emissários desencarnados. Todo cuidado será importante. Toda vigilância será bem-vinda. Todo devotamento será imprescindível.

Recordem-nos de que, em matéria de conduzimento, foi Jesus que se mostrou o Dirigente por excelência, tornando-se mediador do Pensamento Criador de Deus, ao tempo em que soube tanger os esforços de todos os que com Ele sintonizavam, a fim de que a vida se expressasse na Terra com o sinete dos Céus.




Correnteza de Luz, Cap. 19 – ‘Na doutrinação’

Quando os Espíritos não respondem a certas perguntas, será porque o não queiram, ou por que uma força superior se opõe a certas revelações?
- Por ambas essas causas. Há coisas que não podem ser reveladas e outras que o próprio Espírito não conhece.    (O Livro dos Médiuns – 2ª. Parte, cap. XXVI, item 288, 5ª. Pergunta.)

Na Doutrinação

“Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem... ’ Jesus (Mc. 9:25)

Nos labores de atendimento aos irmãos sofredores ou perturbados do Mundo dos Espíritos, é necessário adotar a postura da compreensão, da boa vontade e da paciência, a fim de que se torne útil o intercâmbio, justificando os esforços e dedicações dos Espíritos programadores das tarefas de socorro, para que sejam colimados seus objetivos.

Nos serviços de doutrinação, será importante evocar o ensino de Jesus Cristo, o Excelso Orientador, que deixou claro que todo o empenho de libertação do companheiro do Espaço deverá estar alicerçado numa inabalável confiança em Deus, a Ele entregando-nos com sinceridade e grandeza d´alma, que se expressam por meio da humildade.

Ao socorrer-se o irmão do Além, em processo de ódio, em explosão de vingança, faz-se mister a indulgência, o entendimento fraterno, sem apoio ao mal, mas, ajustando-se à fraternal empatia, relativamente ao necessitado. Nenhuma arrogância, que represente ácido nas expressões verbais; nenhum pieguismo, que seria teia viscosa a deter os movimentos da lucidez; nenhum gracejo improcedente que signifique nota de desatenção ao companheiro doente; nenhum desafio ou desacato, que se tornaria irrefletida loucura, uma vez que sendo frágil a estrutura moral da maioria dos indivíduos, certamente não resistiria à investida invisível, urdida na provocação; nenhum descontrole emocional, capaz de impregnar o diálogo com a sombra do desequilíbrio, denotando a impropriedade do tipo de atendimento e a inadaptação de quem o realiza.

*

Para os que têm a abençoada ocasião de conversar com as almas sofridas de todo o jaez, mostra-se imprescindível a união mental com o Cristo, representado pelos Espíritos Enobrecidos que, de costume, orientam e conduzem as atividades benfazejas, quando a Equipe de serviços dos encarnados encontra-se em condições de merecer tal assistência.

É de excelente aplicabilidade para o doutrinador, o habito feliz da prece, contrita e salutar, com que se eleva a níveis psíquicos superiores; a meditação profunda e honesta, em que o seareiro procura ampliar os próprios recursos de captação inspirativa, direcionando para a Luz os impulsos de sua alma; a leitura que lhe amplie os conhecimentos gerais sobre a matéria de que trata; uma logicidade e uma ponderação que o treino e a perseverança vão estruturando como conquista pessoal. Além disso, alteia-se o respeito ao labor, sensibilizando o doutrinador, que registrará a sublime misericórdia de Deus para com as misérias humanas.

Todo tarefeiro da doutrinação espírita deverá entender que, ao dialogar com o Invisível, estará à frente de formidável espelho que o capacitará a perceber, em si mesmo, o que lhe sobra dos males e vícios demonstrados pelo desencarnado e o quanto de virtudes lhe falta, quando se dirija aos Vitoriosos, que brilham no Mundo Espírita, quando se apresentem incentivando e iluminando, ensinando sempre.

Doutrinar, em Espiritismo, significar exercitar o próprio crescimento e a própria libertação, promovendo, no contínuo trabalho, com esmero e denodo, as alas com que avançará para os céus da paz interior, após atendidos os compromissos para os quais, certamente, foi preparado quando ainda no Além.

Com Jesus, a determinação é a do amor, a ordenação é enérgica e fraterna, a orientação é coerente com aquilo que se conhece por experiência de vida.

Doutrinar com Cristo é apontar o rumo da Luz, norteando-se o doutrinador também por ele. É indicar a fonte de águas cristalinas do perdão e do esquecimento do mal, dessedentando-se no mesmo manancial, para que, no decorrer dos dias, a palavra humana daquele que corrige e aconselha reflita o verbo do Senhor, prelecionando as aleluias de vida abundante, imperecível, transformando sentimentos e vidas para a glorificação do Amor, para o encontro da alma com o seu Criador.



Diálogo com as Sombras, Cap. 4 ‘O DOUTRINADOR’

Num grupo mediúnico, chama-se doutrinador a pessoa que se incumbe de dialogar com os companheiros desencarnados necessitados de ajuda e esclarecimento. (...)

      Sua formação doutrinaria é de extrema importânçia. Não poderá jamais fazer um bom trabalho, sem conhecimento íntimo dos postulados da Doutrina Espírita. Entre os espíritos que lhe são trazidos para entendimento, há argumentadores prodigiosamente inteligentes, bem preparados e experimentados em diferentes técnicas de debate, dotados de excelente dialética. Isto não significa que todo doutrinador tem de ser um gênio, de enorme capacidade intelectual e de impecável formação filosófica. A conversa com os espíritos desajustados não deve ser um frio debate acadêmico. Se o dirigente encarnado dos trabalhos está bem familiarizado com as obras fundamentais do Espiritismo, ele encontrará sempre o que dizer ao manifestante, ainda que não esteja no mesmo nível intelectual dele. O confronto aqui não é de inteligências, nem de culturas; é de corações, de sentimentos. O conhecimento doutrinário torna-se importante como base de sustentação. O doutrinador precisa estar convencido de que a Doutrina Espírita dispõe de todos os informes de que ele necessita para cuidar dos manifestantes em desequilíbrio, mas isso não é tudo, porque ele pode ser um bom conhecedor dos princípios teóricos do Espiritismo e ser completamente desinteressado do aspecto evangélico; ou, ainda, conhecer a doutrina e recitar prontamente qualquer versículo evangélico, mas não apoiar o seu conhecimento na emoção e no legítimo desejo de servir e ajudar. (...). A doutrinação virá no momento oportuno, e, antes que o doutrinador possa dedicar-se a este aspecto específico, ele deve estar preparado para discutir o problema pessoal do espírito, a fim de obter dele a informação de que necessita. É nesse momento que ele precisa utilizar-se de seus conhecimentos gerais, intercalando aqui e ali um pensamento evangélico que se adapte às condições desenvolvidas no diálogo.
Isto nos leva a outro aspecto importante: o “status” moral do doutrinador. Sua autoridade moral é importante, por certo, mas qual de nós, encarnados, ainda em lutas homéricas contra imperfeições milenares, pode arrogar-se uma atitude de superioridade moral sobre os companheiros mais desarvorados das sombras? Ainda temos mazelas e ainda erramos gravemente. (...)
Por outro lado, não podemos esperar a perfeição para ajudar o irmão que sofre. É exatamente porque ainda somos tão imperfeitos quanto ele, que estamos em condições de servi-lo mais de perto. (...)
O doutrinador precisa, ainda, ser uma criatura de fé viva, positiva, inabalável. Ele não pode dar aquilo que não tem. Se me perguntassem qual o elemento mais importante na estrutura da personalidade do doutrinador, eu não saberia dizer, mas ficaria indeciso entre a fé e o amor, sobre o qual ainda falaremos adiante. Que tipo de fé? A fé espírita, tal como a conceituou Kardec: sincera, convicta, lógica, plenamente suportada pela razão, mas sem se deixar contaminar pela frieza hierática do racionalismo estéril e vazio. (...)
Sem ela, o doutrinador estará desarmado, despreparado para a sua tarefa, por mais bem-dotado que seja, com relação aos demais atributos necessários à sua função.
Ele precisa estar confiante nos poderes espirituais que sustentam o seu trabalho, sem os quais nenhuma tarefa de desobsessão é possível, e todos os riscos são iminentes e inevitáveis. Ele tem de saber que, ao levantar-se para dar um passe, a fé lhe trará os recursos de que necessita para servir. Ele deve saber que, ao formular sua prece, vai encontrar a resposta ao que implora, em benefício do companheiro que sofre. (...)
Outro ingrediente necessário, na psicologia do doutrinador, é o amor. Não é por acaso que nos textos evangélicos caridade e amor são tratados como sinônimos. Impossível seria considerar a caridade sem o amor, tanto quanto o amor descaridoso. (...)
É desse amor-doação que precisa o doutrinador. Do amor que, segundo o Cristo, devemos sentir, com relação aos nossos próprios inimigos. É isto bem verdadeiro, no caso da doutrinação de Espíritos conturbados, porque, ao se apresentarem diante de nós, vêm com a força e a agressividade de inimigos implacáveis. Se respondermos à sua agressividade com a nossa, o trabalho se perde e desencadeamos contra nós a reação sustentada da cólera, do rancor, do ódio. Sem nenhuma figura de retórica, é preciso ter, no trabalho de desobsessão, a capacidade de amar os inimigos.
(...)   É claro que estas observações são válidas para todos os componentes do grupo, mas particularmente se dirigem ao doutrinador, porque é ele o seu porta-voz, é nele que os Espíritos desequilibrados identificam a petulante intenção de interferir com seus planos pessoais, é ele, usualmente, o responsável pela direção dos aspectos, por assim dizer, terrenos, do trabalho. É lógico e natural, portanto, para os irmãos desorientados, que se concéntre no doutrinador grande parte do esforço de envolvimento, bem como suas cóleras e suas ameaças. O médium doutrinador tem que devolver todo esse concentrado ataque vibratório, transformado em compreensão, tolerância e, principalmente, amor fraterno.
(...)
Se não dispuser de um mínimo de aptidões, o candidato a tal função deve procurar desenvolvê-las, ou assumir outra tarefa, para a qual, seus recursos pessoais sejam mais adequados. Uma dessas virtudes é a paciência. Não pode ele, sem prejuízo sério para o seu trabalho, atirar-se sofregamente ao interrogatório do Espírito manifestante. Tem que ouvir, aturar desaforos e impropérios, agressões verbais e impertinências. Tem que aguardar o momento de falar. Para isso, necessita de outra qualidade pessoal, não particularmente rara, mas que precisa ser cultivada, quando não despertada: a sensibilidade, que o levará a sentir pacientemente o terreno estranho, difícil e desconhecido em que pisa, as reações do Espírito, procurando localizar os pontos em que o manifestante, por sua vez, seja mais sensível e acessível. Isto se faz com uma qualidade pessoal chamada tato, segundo a qual, vamos, pela observação cuidadosa, serena, nos informando de determinada situação ou acontecimento, até que estejamos seguros de poder tomar uma posição ou uma decisão sobre o assunto.
A paciência, a sensibilidade e o tato nos facultam as informações que buscamos, mas não disparam, por si mesmos, os mecanismos da ação, ou seja, não nos indicam a providência a tomar, nem nos sustentam no que fizermos. Para isso, se pede outra disposição que poderíamos chamar de energia, que deve ser controlada e oportuna. Há de chegar-se a um ponto, na doutrinação, em que se torna imperiosa a tomada de uma atitude firme, enérgica, que não pode ser contundente, nem agressiva. É a hora da energia, e o momento tem que ser o certo. Nem antes, nem depois da oportunidade. (...)
O doutrinador deve estar em permanente estado de vigilância, na mais ampla acepção do termo. Vigilância quanto aos seus próprios sentimentos e pensamentos, quanto às suas suposições e intuições, quanto ao que se contém nas entrelinhas do que diz o manifestante, quanto ao que ocorre à sua volta, com os demais componentes do grupo, quanto à sua própria conduta, não apenas durante o trabalho mediúnico, propriamente dito, mas no seu proceder diário. Convém repetir: não precisa ser um santo, e não o será mesmo. Vigilância e boa intenção não são santidade. O doutrinador precisa servir em estado de alertamento constante.
(...)
Creio poder afirmar que não seria desejável qualquer forma de mediunidade que colocasse o dirigente, ou doutrinador, em estado de inconsciência. Ele precisa manter-se lúcido durante todo o período de trabalho. (...)
De uma vez por todas, tiremos de nossa cabeça a noção falaz de que o bom doutrinador pode dispensar a colaboração dos Espíritos Superiores. (...) Já fazemos muito quando não atrapalhamos os dedicados companheiros da Espiritualidade Maior. (...)
Com isto, chegamos a outra faculdade necessária ao doutrinador: a humildade. Ele vai precisar dela, com freqüência impressionante. A princípio, para aceitar as ironias, agressões e impertinências dos pobres irmãos atormentados. Depois, se e quando conseguir convencer, o companheiro, de seus enganos e de seus erros, para não assumir a atitude do vencedor que pisa na garganta do vencido, para mostrar o seu poder e confirmar a sua vaidade e seu orgulho. É a partir do momento em que o turbulento manifestante de há pouco se converte em verdadeiro trapo humano, arrependido e em pranto, que o doutrinador deve mostrar toda a sua compaixão humilde e o seu respeito pela dor alheia.
Tem, ainda, que ser humilde no aprendizado. Cada manifestação traz a sua lição, a sua informação, a sua surpresa. Em trabalho mediúnico, estamos sempre aprendendo e nunca sabemos o suficiente. Se não nos aproximarmos dele com humildade, pouco ou nenhum progresso conseguiremos realizar.
A humildade é necessária, também, quando não conseguimos convencer o companheiro infeliz. Precisamos estar preparados para a derrota, em muitos casos. (...). Claro que positivo, em sentido genérico, ele sempre o é. (...) Muitos daqueles dramas, que se desenrolam diante de nós, arrastam-se há séculos. Não se ajustam em minutos de conversa. Humildade, pois, para aceitar esses casos e continuar lutando. Não somos super-homens, nem semideuses.
Humildade, ainda, quando precisarmos reconhecer o potencial intelectual do irmão espiritual com o qual nos defrontamos. E isso é muito freqüente. Não quer dizer que nos devamos curvar servilmente diante dele, rendendo homenagens à sua inteligência e ao seu conhecimento; quer dizer que precisamos admitir, às vezes, que não estamos em condições de superá-lo naquilo que constitui o seu ponto forte. Nem é essa a técnica recomendada. (...) Ele precisa de atenção, fraternidade, respeito e sinceridade, não de debates estéreis, nos quais facilmente nos vencerá, para consolidar a sua vaidade lamentável. (...) Nada, pois, de aparentar o que ainda não somos. E, mesmo que o fôssemos, a humildade, ainda assim, seria indicada.
Lembremos ainda uma qualidade: o destemor. Já disse alhures que, em trabalho mediúnico, temos que ser destemidos, sem ser temerários. Coragem não é o mesmo que imprudência.
O  destemor é de extrema utilidade nas tarefas de doutrinação. Fustigados pela interferência dos grupos mediúnicos em seus tenebrosos afazeres, os Espíritos violentos comparecerão possuídos de irritação, rancor e ódio, mesmo. Manifestam-se aos berros, dão murros na mesa, ameaçam céus e terras, procuram intimidar e propõem-se a vigiar-nos implacavelmente, a atacar nossos pontos fracos ou fazer um cerco impiedoso em torflo de nossa família, provocar acidentes, doenças, perturbações. O arsenal de ameaças é vasto, e eles manipulam, com extrema sagacidade, as armas da pressão. Se nos deixarmos impressionar pelas verdadeiras cenas que fazem, estaremos realmente perdidos, porque nos colocaremos na faixa vibratória desejada por eles, Os benfeitores espirituais sempre nos advertem, de maneira tranqüila e segura:
— Nada de temores infundados. Sofremos apenas aquilo que está nos nossos compromissos espirituais, e não em decorrência do trabalho de desobsessão.
(...)
Não tema, siga em frente. O trabalho está sob a proteção de forças positivas e abençoadas. Isto, porém, não significa que deveremos e poderemos deixar cair as guardas. A proteção existe, mas não para dar cobertura à imprudência, à irresponsabilidade.
Não custa, pois, anotar mais uma das aptidões necessárias ao bom desempenho do trabalho mediúnico, em geral, e do doutrinador, em particular: a prudência.
(...)
Por outro lado, o doutrinador é, usualmente, o pára-raios predileto do grupo, porque os Espíritos atribulados, trazidos ao diálogo, com ele se entendem e se desentendem. É nele que identificam a origem de seus problemas. É ele, usualmente, o organizador ou responsável pelo grupo, bem como o seu porta-voz junto ao mundo espiritual.(...).
Em suma, o doutrinador não pode deixar de dispor de cinco qualidades, ou aptidões básicas:
- Formação doutrinária muito sólida, com apoio insubstituível nos livros da Codificação Kardequiana.
- Familiaridade com o Evangelho de Jesus.
      - Autoridade moral.
      - Fé.
      - Amor.
As demais são desejáveis, importantes também, mas não tão criticas:
Paciência; Sensibilidade; Tato; Energia; Vigilância; Humildade; Destemor; Prudência.



Diálogo com as Sombras – ‘Dirigente’

Como todo grupamento humano, este também deve ter alguém que assuma a posição de coordenador, de condutor. É preciso, não obstante, muita atenção e vigilância desde esta primeira hora. Esse motivador, ou iniciador, não poderá fugir de certa posição de liderança, mas é necessário não esquecer nunca de que tal condição não confere a ninguém poderes ditatoriais e arbitrários sobre o grupo. Por outro lado, o líder, ou dirigente, terá que dispor de certa dose de autoridade, exercida por con­senso geral, para disciplinação e harmonização do grupo. Liderar é coordenar esforços, não impor condições. O líder natural e es­pontâneo é aceito também com naturalidade e espontaneidade, sem declarar-se tal.

O dirigente do grupo não é o que se senta à cabeceira da mesa e dá instruções — ele é apenas um companheiro, um coordenador, um auxiliar, em suma, dos verda­deiros responsáveis pela tarefa global, que se acham no mundo espiritual. Qualquer sintoma de rivalidade entre médiuns deve ser prontamente identificado e combatido. Ainda falaremos disso, mais adiante. Por ora, basta dizer, e nunca o diremos com ênfase bastante, que deve predomlnar entre os encarnados um clima de liberdade consciente, franqueza sem agressividade, lealdade sem submissão, autoridade sem prepotência, afeição sem preferências, e perfeita unidade de propósitos.
No momento em que o desentendimento e a desafeição começam a medrar entre os encarnados, o grupo está em processo de desagregação. Isto implica dizer que os elementos perturbadores dessa harmonia interna devem ser prontamente identificados. O responsável pelo grupo, ou quem for para isso designado, deve procurar os desajustados para entendimento particular, reservado. Se não for possível reconduzi-los a uma atitude construtiva, não resta alternativa senão o afastamento, pois o trabalho das equipes encarnada e desencarnada deve ser colocado acima das nossas posições pessoais.
A decisão de afastar alguém não é fácil, e nem deve ser tomada precipitadamente e por ouvir dizer, pois é uma ação de natureza grave. Não apenas o grupo se privará do seu concurso, qualquer que seja a sua posição, como ele próprio, sentindo-se como que “expulso”, quase um “excomungado”, poderá cair numa faixa de desânimo, quando não de revolta, que o desprotege espiritualmente e o precipita em imprevisíveis aflições. Não se trata de criar uma atmosfera inquisitorial de espionagem mútua, de desconfianças e rivalidades, ou rancores surdos, pois disso também se aproveitariam os irmãos desencarnados que precisam do nosso afeto e compreensão; mas os objetivos e finalidades do grupo devem ficar a salvo de nossas paixões. Se, para isso, for necessário afastar um ou outro companheiro, teremos que fazê-lo. Cumprir o desagradável mandato com amor, equilíbrio e serenidade, mas também com firmeza. Talvez o companheiro perturbador possa retornar à tarefa mais adiante, já regenerado, mas entre sacrificá-lo pessoalmente e sacrificar todo o programa, não há como hesitar. (...)
Creio poder afirmar que não seria desejável qualquer forma de mediunidade que colocasse o dirigente, ou doutrinador, em estado de inconsciência. Ele precisa manter-se lúcido durante todo o período de trabalho.
(...)
(...) o dirigente humano do grupo, precisa, como já dissemos, estar consciente dessa responsabilidade e usar sua autoridade com muito tato, sem abandonar a firmeza. Disciplina não é sinônimo de ditadura. Quando o grupo reunir-se, para debater problemas ligados ao trabalho, deve o dirigente comportar-se como simples participante, para estimular a criatividade e a contribuição dos demais membros. No momento de tomar a decisão, cabe a ele suportar os ônus e as responsabilidades decorrentes. Precisa tratar a todos, médiuns ou não, com o mesmo carinho e compreensão, sem paternalismos e preferências, mas sem má-vontade contra qualquer um dos membros da equipe. Precisa despertar, nos seus companheiros, a afeição, a camaradagem e o respeito. Poderá ser o primeiro entre eles; certamente deverá ser o único a falar com os Espíritos; mas não e o maior”.
(...)
Outro ingrediente necessário, na psicologia do doutrinador, é o amor. Não é por acaso que nos textos evangélicos caridade e amor são tratados como sinônimos. Impossível seria considerar a caridade sem o amor, tanto quanto o amor descaridoso. (...)
É desse amor-doação que precisa o doutrinador. Do amor que, segundo o Cristo, devemos sentir, com relação aos nossos próprios inimigos. É isto bem verdadeiro, no caso da doutrinação de Espíritos conturbados, porque, ao se apresentarem diante de nós, vêm com a força e a agressividade de inimigos implacáveis. Se respondermos à sua agressividade com a nossa, o trabalho se perde e desencadeamos contra nós a reação sustentada da cólera, do rancor, do ódio. Sem nenhuma figura de retórica, é preciso ter, no trabalho de desobsessão, a capacidade de amar os inimigos.
(...)   É claro que estas observações são válidas para todos os componentes do grupo, mas particularmente se dirigem ao doutrinador, porque é ele o seu porta-voz, é nele que os Espíritos desequilibrados identificam a petulante intenção de interferir com seus planos pessoais, é ele, usualmente, o responsável pela direção dos aspectos, por assim dizer, terrenos, do trabalho. É lógico e natural, portanto, para os irmãos desorientados, que se concéntre no doutrinador grande parte do esforço de envolvimento, bem como suas cóleras e suas ameaças. O médium doutrinador tem que devolver todo esse concentrado ataque vibratório, transformado em compreensão, tolerância e, principalmente, amor fraterno.


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