domingo, 4 de dezembro de 2016

Processo Obsessivo

Casa Espírita Missionários da Luz – ESDE2 - 18/08/2015

Tema: Processo Obsessivo (1ª parte)

Objetivos:
a)    Relatar como se estabelece o processo obsessivo;
b)    Caracterizar obsessor e obsidiado;
c)    Dizer como auxiliar obsessores e obsidiados.

Bibliografia:
  • O Livro dos Médiuns, Cap. XXIII – Da Obsessão
  • A Gênese – Cap. XIV – itens 45 à 49;
  • Nos Bastidores da Obsessão – Divaldo P.Franco/Manoel P. De Miranda  – 'Examinando a Obsessão';
  • Loucura e Obsessão – Divaldo P. Franco/Manoel Philomeno de Miranda, Cap. 19 e 20
  • Obsessão/Desobsessão – Suely Caldas – 'O Obsidiado'; 'O Processo Obsessivo'; 'Quem é o obsessor'.
  • Dramas da Obsessão, Yvonne Pereira/Bezerra de Menezes, cap. 8.

Sugestões de Atividades: apostila FEB – Roteiro 38

Material:  cópias dos casos para estudo

Desenvolvimento:  
  1. Leitura de página ‘Obsessão e Desobsessão’, Cap. 13 – ‘QUEM É O OBSESSOR?’, Suely Caldas
  
  1. Prece inicial, e comentários da página de Suely Caldas.

  1. Iniciar falando do processo obsessivo: obsessor >> mente << obsidiado. Estudamos os diversos tipos de obsessão, mas o processo é sempre o mesmo: via as mentes dos Espíritos envolvidos.

Consciente ou inconscientemente, usando ou não de artifício e sutilezas, o obsessor age sempre aproveitando-se das brechas morais que encontra em sua vítima. Os condicionamentos do pretérito são como Imãs a atraí-lo, favorecendo a conexão imprescindível ao processo obsessivo, que tanto pode começar no berço como na infância ou em qualquer fase da existência daquele que é alvo de seu interesse.” (SCHUBERT, Suely Caldas. Modo de ação do obsessor. In: -. Obsessão/Desobsessão.)

4.    Vamos estudar alguns casos de obsessão. Dividir em 3 grupos e distribuir os casos para estudo e levantamento das características da obsessão relatada: quem é o obsessor, o obsidiado, como se deu a obsessão e suas características, e como foi a desobsessão.

Caso 1: Os trombadinhas  e o ‘Obsessor Simpático’   (Suely Caldas)
Caso 2: Parasitose Espiritual  (Manoel Philomeno de Miranda)
Caso 3: Obsessão da Família de Leonel  (Bezerra de Menezes)

5.    Prece final

6.    Anexos



Obsessão e Desobsessão, Cap. 13 – ‘QUEM É O OBSESSOR?’, Suely Caldas

       “Obsessores visíveis e Invisíveis são nos­sas próprias obras, espinheiros plantados por nossas mãos.”

       (Seara dos Médiuns, Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, “Obsessores”.)

      Obsessor — Do latim obsessor.. Aquele que causa a obsessão; que importuna. (15)
O obsessor é uma pessoa como nós.
Não é um monstro teratológico saído das trevas, onde tem a sua morada para todo o sempre.
Não é um ser diferente, que só vive de crueldades, nem um condenado sem remissão pela Justiça Divina.
Não é um ser estranho a nós. Pelo contrário. É alguém que privou de nossa convivência, de nossa intimidade, por vezes com estreitos laços afetivos. É alguém, talvez, a quem amamos outrora. Ou um ser desesperado pelas crueldades que recebeu de nós, nesse passado obumbroso, que a bênção da reencarnação cobriu com os véus do esquecimento quase completo, em nosso próprio benefício.
O obsessor é o irmão, a quem os sofrimentos e desenganos desequilibraram, certamente com a nossa participação.
Muitos, por desconhecimento, transferiram para o obsessor os atributos do próprio demônio, se este existisse.
Entretanto, quantos de nós já não cometemos essas mesmas atrocidades que ele comete agora? Quantos de nós já não alimentamos ódios semelhantes? Quem está livre de trazer nos escaninhos da consciência a mesma inimaginável tortura de um amor desvairado, doentio, que se fez ódio e se converteu em taça de fel? Quem pode dizer qual seria a nossa reação se vivêssemos as tormentas que lhe corroem as profundezas da alma?
O ódio só no amor tem cura. É o antídoto que anula os efeitos maléficos, que neutraliza, e, sobretudo, transforma para o bem. Geralmente, é o ódio que impulsiona o ser humano à vingança. É sempre um desforço que se pretende tomar, como quem está pedindo contas a outrem de atos julgados danosos aos seus interesses.
A figura do obsessor realmente impressiona, pelos prejuízos que a sua aproximação e sintonia podem ocasionar. E disto ele tira par­tido para mais facilmente assustar e coagir a sua vítima. E esta, apresentando, em razão do seu passado, os condicionamentos que facilitam a sintonia, traz, no mais recôndito do seu ser, o medo desse confronto inevitável e a certeza da própria culpa, tornando-se presa passiva do seu algoz de agora.
Não é fácil ao obsidiado amar o seu obsessor. Não é fácil per­doá-lo. Mas, é o que se torna necessário aprender.



SCHUBERT, Suely Caldas. ‘Modo de ação do obsessor’, Cap 14 - Obsessão/Desobsessão.

Certa vez, na reunião em que colaboramos, sentimos a presença de um grupo de Espíritos desencarnados entre 15 e 18 anos. Tinham a aparência desses que vemos nas ruas, denominados "pivetes" ou "trombadinhas". Dentre eles comunicou-se uma mocinha desencarnada aos 17 anos, maltrapilha e extremamente zombeteira. Cantou-nos que andavam ao léu, pelas ruas, tal como faziam antes, dedicando-se especialmente a entrarem nos lares cujas portas estivessem abertas (e aqui no duplo sentido: físico e espiritual), com a finalidade de provocar desordens e brigas entre os moradores. Isto descrito num linguajar peculiar, com a gíria comumente empregada Também contou que tinham prazer em usufruir do conforto dessas casas, refestelando-se nas poltronas macias e desfrutando de comodidades que não tiveram em vida. Obviamente isto só era possível nos lares em que, embora havendo conforto material, o ambiente espiritual não diferençava muito do que era próprio a esses "pivetes" desencarnados.
Foi preciso muito amor e carinho de toda a equipe para conscientizá-los de que existia para todos uma vida bem melhor, se quisessem despertar para ela. Que havia ao lado deles pessoas que os amavam e que desejavam aproximar-se para auxilia-los. E que acima de tudo estava Jesus, o Amigo Maior, que não desampara nenhuma de suas ovelhas.
Como a carência de amor dessas almas fosse bem maior que toda a revolta que os abrasava, aos poucos emocionaram-se com os cuidados e carinho de que foram alvo e, ao final, sob a liderança da jovem que se comunicou - uma espécie de porta-voz do grupo - e que foi também a primeira a se sentir amorosamente confortada, o grupo foi levado, após a prece comovente feita pelo doutrinador.
Durante a Comunicação foi-nos possível divisar alguns quadros da vida dessa quase menina, que nasceu, cresceu e viveu em locais que os homens habitualmente denominam " na sarjeta". Sua desencarnação foi trágica, vitimada pelos maus tratos de um homem.
Esse pequeno grupo de Espíritos não tinha consciência completa do mal que causavam, embora desejassem fazê-lo, vingando-se da sociedade que sempre os desprezara. Viviam de modo quase semelhante ao que levavam quando na vida material, apenas sentindo-se mais livres e com mais facilidade de ação. Não tinham ciência de que poderia haver para eles um outro tipo de existência, revelando-se-lhes, na reunião, aquele outro caminho: o das bênçãos do Alto em forma de trabalho digno e edificante.


UM OBSESSOR "SIMPÁTICO"
Alguns obsessores apresentam interessante faceta para os estudos do assunto.
Foi o caso de certa entidade que se comunicou na reunião do Centro Espirita Ivon Costa. Muito educado, distinto, tratava ao esclarecedor com toda calma e gentileza. Dizia-se, na verdade, perseguindo a uma pessoa a quem odiava, mas não tinha raiva de mais ninguém e inclusive compreendia o nosso papel ao tentarmos beneficiar a sua vítima. Acreditava em Deus, em Jesus, no amor, mas não tinha vontade de abandonar o seu intento.
Mesmo com todos esses dados positivos de caráter, o seu esclarecimento foi demorado, rendendo-se por fim à evidência do amor, diante de aproximação de um Espírito a quem muito amava e que foi por ele visto durante os trabalhos.
(SCHUBERT, Suely Caldas, Quem e o obsessor? - Obsessão/Desobsessão)


Loucura e Obsessão – Divaldo P. Franco/Manoel Philomeno de Miranda, Cap. 19 e 20

Trata-se de um paciente da Casa, filho do Diretor-Presidente da Instituição. Vítima de pertinaz obsessão, a que faz jus , não granjeou títulos de enobrecimento para que o problema tivesse a solução conforme o desejo de todos, particularmente dos pais, que são abnegados trabalhadores do bem e portadores de méritos valiosos. Todavia, há circunstâncias e ocorrências que não puderam ser solucionadas da forma como é considerada a saúde na Terra. (...)”
Conduzido pela mentora, e logo atraído ao perispírito de Antenor, o médium e pai do obsidiado, o Espírito obsessor entrou, de imediato, em estertores e, transfigurando a face do médium e o seu conjunto: expressão, gestos, voz, exclamou: “Nunca o perdoarei!”. (...)
“Não te pedimos que o perdoes. Rogamos que lhe dês oportunidade de reparar os males que praticou em relação a ti e àqueles a quem amas. Sem querer justificá-lo, digo-te que ele estava louco. O traidor, que rouba a confiança e estrangula a amizade, nas forças do seu crime, encontra-se fora de si. Basta que tenhas piedade e lhe concedas o que a ti ele não ofereceu, levando-te a este estado...”
 -- “Só palavras, que em nada modificam a situação. Você tem o direito de interceder por ele: é seu filho, o infame que a mim desgraçou.”
 -- “Eu o sei e me apiedo de vós ambos. Choro o meu filho infeliz e lamento por ti, meu pobre irmão. Ele acaba de completar vinte anos e já se vão dezesseis de dores inomináveis para nós e para ele. Quando se iniciou a doença, ele foi, a pouco e pouco, perdendo os recursos da fala, da  compreensão, enquanto se lhe aumentava a agressividade, a irritação, a par do retardamento mental... Tu falas de dor, todavia, sem desejar relacionar sofrimentos, sua mãe e eu, desde então, nunca mais pudemos repousar, à noite, pois é quando mais ele se excita e se desespera... Acostumamo-nos a quase não dormir. (...)  Quantas vezes ele nos bateu na face! Quantas outras, tu lhe tomaste as mãos e nos agrediste também! A princípio, não sabíamos o de que se tratava. Críamos apenas no diagnóstico médico, que afirmava ser um incurável distúrbio neurológico, que lhe lesara grandes áreas orgânicas. Da aflição inicial e da amargura que nos tomou, passamos à piedade... Quando a fé em Deus e na Sua  justiça nos clareou a noite das dores, ante a certeza da reencarnação e da sobrevivência do Espírito à morte física, passamos a amá-lo e a ter mais coragem...”
-- “Não me tente sensibilizar -- interrompeu-o o Espírito --, pois que isto mais me revolta. Ele é seu filho querido, porém traiu-me, roubando-me ao lar a filha amada a quem corrompeu e desgraçou, levando-a ao suicídio... E se passava como meu amigo, a quem abri a minha casa e lhe concedi a honra que não merecia, de conviver com a minha família. Cada um de nós, agora, zela e luta por seu próprio filho. Nunca mais soube dela, a filha, a quem ele destruiu...
Ao referir-se à causa de sua desventura, o choro convulsivo dominou o comunicante de forma irrefreável.”  (...)
Uma das trabalhadoras espirituais do trabalho chega conduzindo uma Entidade adormecida, “que se encontrava na faixa etária dos dezesseis anos, reencarnada e portadora de suave beleza, embora assinalada por funda melancolia. Era a mesma filha do perseguidor, que voltara à carne e, na condição de surda-muda, resgatava no silêncio o engano da alucinação suicida.” O pai, reconheceu-a imediatamente e, abruptamente vencido por variadas emoções, e chorando muito, ele -- que chegou a odiá-la por algum tempo na existência pretérita -- clamou: “Perdoa-me, filha querida, perdoa-me! Quanta dor e saudade!... Oh! Deus, quanta dor, ainda!...”. (...)
Deus é amor e te traz a filhinha de volta. Embora reencarnada, poderás agora acompanhá-la, ajudá-la, e reparar, também, os teus erros. Terás sido, por acaso, um pai sem falha? Não terá ela saído do lar, a fim de liberar-se um pouco da tua opressão? Medita!
Agradece, meu irmão, este momento. Agradeçamos todos, e, como sinal do teu reconhecimento, liberta a quem te fez infeliz”.
 “Você pede-me que o liberte e não tem ideia do que solicita. A palavra liberte terá um significado muito profundo, quase terrível para você e para ele, para a família, caso eu concorde com o apelo. Estamos tão intimamente ligados, quanto a planta parasita na árvore que a hospeda. Com o tempo, as raízes da naturalmente enxertada penetraram na seiva da outra, gerando tremenda simbiose. Ambos nos necessitamos para viver. Embora eu aqui me encontre, estou vinculado a ele... Se eu arrancar-me do seu convívio físico e mental, eu me desequilibrarei muito, e o corpo dele morrerá...”  (...)
Seu filho morrerá, então, infelizmente. Sem mim, ele não sobreviverá. Escolha: tê-lo comigo, ou, sem mim, perdê-lo” (...)
“(...) meu irmão, haja o que houver, eu te suplico: tem misericórdia dele e de ti mesmo...” (...)
“Profundamente sensibilizado, o comunicante encerrou o diálogo:
Perdoai-me, os pais e vós outros por tanta desgraça. Reconheço que agora sou o mais infeliz de todos. A minha insistência na perseguição gerará mais infortúnio: todavia, a minha renúncia produzirá a amargura. Entre as duas conjunturas, elejo a que menos mal irá causar-vos. Desse modo, rogando a Deus que tenha misericórdia de todos nós, eu me despeço, e prometo que libertarei aquele que me fez o mal, a quem tentarei perdoar de todo o coração.
-- Deus te abençoe e te guarde!, concluiu o doutrinador.” (...)

E assim, desencarna o jovem obsidiado. Explica a mentora:

À medida que a obsessão se faz mais profunda, o fenômeno da simbiose -- interdependência entre o explorador psíquico e o explorado -- se torna mais terrível. Chega o momento em que o perseguidor se enleia nos fluidos do perseguido de tal maneira que as duas personalidades se confundem... A ingerência do agente perturbador no cosmo orgânico do paciente termina por jugulá-lo aos condimentos e emanações da sua presa, tornando-se, igualmente, vítima da situação, impossibilitando-se o afastamento. Por outro lado, a magnetização e intoxicação fluídica do agressor sobre o hospedeiro transforma-se em alimento próprio para a organização celular, que, se não a recebe, de repente, desajusta o seu equilíbrio. No princípio, gera distonia, desarticulação, para depois adaptar-se e aceitar a energia deletéria sem maiores choques nos elementos que constituem o universo celular...”
 “É natural, portanto, que o explorador esteja, neste momento, experimentando uma forma específica de morte, que decorre da falta de alimento a que se entregou nos últimos largos anos. É o efeito da exploração, que agora se lhe apresenta como carência. “
“Como, porém, ninguém fica ao desamparo do Amor, ajudando-se a Alberto é inevitável que a ele também se atenda. Neste momento, a nossa Anita, chefiando um grupo de cooperadores de nossa Casa, está colaborando em favor do seu reajustamento e readaptação ao novo habitat físico-mental”.  (...)
Esclareceu Dr. Bezerra: “Sabemos que o perispírito é o corpo que transmite ao soma o indispensável para a sua manutenção. Sendo a parasitose obsessiva o resultado da ligação do perispírito do encarnado com o do Espírito, o intercâmbio de energias faz-se automaticamente. Ora, à medida que se torna mais acentuado o intercâmbio fluídico, a energia invasora passa a influenciar as células sangüíneas e as histiocitárias, que começam a produzir anticorpos e defesas imunológicas no nível que lhes corresponde, alterando o equilíbrio fisiopsicossomático do paciente. Às vezes, aquela energia deletéria facilita a invasão bacteriana, favorecendo a instalação de vários processos patológicos de efeitos irreversíveis, que encontram apoio na consciência culpada.

Interrompendo-se, repentinamente, o concurso desse fator energético, o perispírito do hospedeiro sofre abalo violento e os seus centros vitais se desajustam, refletindo-se no sistema retículo-endotelial e nos gânglios linfáticos, que respondem, no plasma sangüíneo, pelo surgimento das hemácias e dos leucócitos, dos trombócitos, macrófagos e linfócitos que são o resultado de incontáveis grupamentos que se originam nos laboratórios complexos e extraordinários do baço, da medula óssea, do fígado e de todo o conjunto ganglionar... O organismo físico se desarmoniza, e a mente em desconcerto nada pode fazer em favor do reajuste e funcionamento das peças celulares, ocorrendo a expulsão do Espírito encarnado...”
Dramas da Obsessão – Yvonne Pereira/Bezerra de Menezes – Cap. 8


A família de Leonel, sofria obsessão por parte de uma família de judeus, que intentava levar a todos pelo suicídio. Leonel e a filha de 20 anos, já haviam se suicidado. O outro filho tentou o suicídio se jogando nos trilhos do trem, mas foi salvo a tempo de ser pego pelo trem.

A obsessão era realizada por um Espírito, rabino judeu, e seus 3 filhos, que haviam sido presos, torturados e mortos pela Inquisição, em meados do século XVI, em Portugal. Os causadores dessa desgraça que se abateu sobre a família judaica, estavam todos reencarnados na família de Leonel.

Os dois suicidas e os 4 obsessores, permaneciam na casa da família de Leonel, quando se iniciou o trabalho de desobsessão, a pedido do Espírito Ester, que a época era sobrinha do rabino e também foi supliciada junto com o tio e os primos.

O Espírito Roberto, da equipe socorrista espiritual, vai até a casa de Leonel, para retirar de lá, os 4 obsessores, levando-os ao Centro Espírita onde ocorreria a doutrinação mediúnica. Os dois suicidas já haviam sido retirados pela equipe socorrista.

Vejamos alguns trechos dessa ação de socorro do Espírito Roberto:

“Roberto fora hebreu em certa existência vivida em Portugal e na Espanha e fácil lhe seria valer-se da circunstância para atingir os nobres fins que trazia em mira. Fez, portanto, que retroagissem ao passado as próprias forças mentais (...), pela ação de uma irradiação da própria vontade... e voltou a ser o judeu de outrora, o homem oprimido e sofredor em Portugal, ao tempo da Inquisição, ameaçado a cada passo por um sequestro e quiçá pela morte, sob os tratos do Santo Oficio.

Assim transfigurado, deixou-se materializar conforme requeriam as circunstâncias, e penetrou serenamente na residência sinistrada (...).
— Que Moisés e os Profetas te guardem dos teus inimigos e dos inimigos da nossa raça, Rabino...  — saudou Roberto (...)

Grave, não demonstrando sequer surpresa, como se a saudação e o dialeto em que fora ela proferida fossem garantidas credenciais recomendando o visitante, o obsessor correspondeu naturalmente o cumprimento comum entre os seus:
— Que Moisés e os Profetas te guardem, e à nossa raça, da crueldade dos nossos inimigos...(...)
— De onde és?... Como te chamas?... Ao que vens?
— Venho da Andaluzia... Chamo-me Miguel... Trago-te uma mensagem de paz e de amor, a par da minha visita pessoal, com um convite... (...)
__ És porventura um perseguido, um infeliz de quem fizeram um pária, como a nós outros, os de cá?...
— Não, Rabino, não me perseguem... Isso passou, com o tempo... Coloquei-me sob a égide de um grande e poderoso “Rabboni”... o qual sabe defender de todos os males quantos se acolhem à sua sombra... E venho convidar-te, em nome de tua sobrinha Ester, a visitá-la e a te entenderes com ela, pois sei que sofres desde muito, que tu e os teus fostes torturados sob mil injúrias e tratos cruéis, e que, portanto, necessitas de grande repouso e consolações...
— Assim tem sido, meu jovem andaluz... Porém, como me conheces?...
— Conheço-te, e aos teus, através dos relatos da tua Ester... Ela mandou-me a ti...”
(...)
— Quer dizer, então, Rabino, que esses de quem hoje te vingas, isto é, Leonel e família, pertenceram ao “Santo Ofício”, ou à Inquisição, em Portugal... e que o drama que neste cenário entrevejo tem origem nesse remoto tempo?...

A entidade obsessora voltou-se, agitada por significativa surpresa:
— Remoto?... Tu dizes um tempo remoto ?... Não! Foi ontem mesmo!... Pois ainda não estamos com o reinado de El-Rei Dom João 3º?... Ainda estou ferido, e também os meus filhos, vês?... Ardem-me horrívelmente as queimaduras, e magoam-me... Sangram-me os dedos, de onde me arrancaram as unhas... Sofro muito... e também os meus pobres e queridos filhos, que eram jovens honestos e gentis, que nenhuma ofensa dirigiram àquela malta... mas os quais agora vejo reduzidos a este estado... Foi ontem mesmo, foi! Oh!... Mas sim... Às vezes parece-me que esse tempo está muito distante... que tudo aquilo aconteceu há séculos... Mas tal impressão de longevidade se dá porque tenho estado encarcerado muitas vezes... e nas sombras de uma masmorra o tempo se afigura mais longo, não é verdade?...(...)

Dize a minha Ester que venha cá, antes, ver-nos... Sentimos inconsoláveis saudades dela, mortificantes preocupações a seu respeito nos desorientam... Procurámo-la por toda a parte onde nos pareceu possível encontrá-la... Porque nos abandonou assim? Ou têm-na presa?... Sim, os miseráveis desonraram-na e encarceraram-na... que venha ver-nos... Dize-lhe que está vingada (...) Se me ausentar daqui, algo desagradável sucederá... Meus filhos são inexperientes, sem mim não saberiam agir... Dize a minha Ester que venha cá...(...)

— Creio muito justas as tuas ponderações, Rabino, e concordo contigo: — a lei de Moisés prescreve, com efeito, a retribuição das ofensas contra nós praticadas pelos nossos inimigos... Muito a teu pesar, porém, declaro-te que Ester não deseja medir-se com estes réprobos... Esqueceu-os completamente, porque é feliz! Não está prisioneira, nada sofre... Todavia, não virá... Se queres vê-la e falar-lhe, terás de buscá-la onde se encontra... E aproveitarás a oportunidade para te entenderes com o “Rabboni” de que venho falando, do qual é ela discípula...

— Tu mais e mais me aguças as preocupações e a curiosidade... Mas estou indeciso... Esse teu “Rabboni” me reprochará pelos feitos que venho realizando em torno dos meus algozes?... Muitos outros o têm feito, mandando-me perdoar-lhes, pois dizem que, com efeito, a lei e os profetas ensinam o amor aos semelhantes... Mas, que têm eles com os meus assuntos particulares?...Aos semelhantes, sim, concordo! Mas, e aos inimigos?... Um inimigo será um semelhante nosso?... Como poderei amar Frei Hildebrando, João-José, Fausto e Cosme de Mirandela, a Condessa Maria de Faro?... Quem é, afinal, ele, esse Rabboni teu amigo ?...(...)

— É um dos nossos! Como tu, como eu, como teus filhos, foi igualmente perseguido, vilipendiado, supliciado pela casta sacerdotal... Não, ele não te deteria nas ações que preferires praticar, pois concede-nos liberdade de ação... deseja, sim, que renunciemos ao mal por amor à virtude, mas quer que o façamos por nossa livre e espontânea vontade, sem quaisquer coações... Vem, sem temor... E a fim de que nenhuma anormalidade advenha, contrariando-te, deixaremos aqui alguns amigos — uns milicianos árabes — de ronda a esta casa... São também teus amigos... desejam ser úteis a ti e aos teus filhos.

O chefe dos ofensores aquiesceu, talvez premido por uma vontade superior interessada em conceder-lhe ensejos para a emenda de princípios, e certamente vencido pelo desejo de rever Ester, sua sobrinha, igualmente supliciada e morta pelo tribunal da Inquisição, a qual, no entanto, jamais pudera reencontrar, desde quatro séculos, uma vez que ela soubera, desde muito, acolher-se sob a inspiração do Bem e do Amor, perdoando àqueles que a haviam torturado no passado, e, portanto, afinando-se com a Luz.


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