Casa Espírita Missionários da Luz – ESDE2 - 18/08/2015
Tema: Processo Obsessivo (1ª parte)
Objetivos:
a)
Relatar
como se estabelece o processo obsessivo;
b)
Caracterizar
obsessor e obsidiado;
c)
Dizer
como auxiliar obsessores e obsidiados.
Bibliografia:
- O Livro dos Médiuns, Cap. XXIII – Da Obsessão
- A Gênese – Cap. XIV – itens 45 à 49;
- Nos Bastidores da Obsessão – Divaldo P.Franco/Manoel
P. De Miranda – 'Examinando a
Obsessão';
- Loucura e Obsessão –
Divaldo P. Franco/Manoel Philomeno de Miranda, Cap. 19 e 20
- Obsessão/Desobsessão – Suely Caldas – 'O Obsidiado';
'O Processo Obsessivo'; 'Quem é o obsessor'.
- Dramas da Obsessão, Yvonne Pereira/Bezerra de
Menezes, cap. 8.
Sugestões de Atividades: apostila FEB – Roteiro 38
Material: cópias
dos casos para estudo
Desenvolvimento:
- Leitura de página ‘Obsessão e
Desobsessão’, Cap. 13 – ‘QUEM É O OBSESSOR?’, Suely Caldas
- Prece inicial, e comentários da página de Suely Caldas.
- Iniciar falando
do processo obsessivo: obsessor >> mente << obsidiado.
Estudamos os diversos tipos de obsessão, mas o processo é sempre o mesmo:
via as mentes dos Espíritos envolvidos.
“Consciente ou
inconscientemente, usando ou não de artifício e sutilezas, o obsessor age
sempre aproveitando-se das brechas morais que encontra em sua vítima. Os condicionamentos
do pretérito são como Imãs a atraí-lo, favorecendo a conexão imprescindível ao
processo obsessivo, que tanto pode começar no berço como na infância ou em
qualquer fase da existência daquele que é alvo de seu interesse.” (SCHUBERT, Suely Caldas. Modo de ação do obsessor. In: -.
Obsessão/Desobsessão.)
4. Vamos estudar alguns casos de obsessão. Dividir
em 3 grupos e distribuir os casos para estudo e levantamento das características
da obsessão relatada: quem é o obsessor, o obsidiado, como se deu a obsessão e
suas características, e como foi a desobsessão.
Caso 1: Os trombadinhas e o ‘Obsessor Simpático’ (Suely Caldas)
Caso 2: Parasitose Espiritual (Manoel Philomeno de Miranda)
Caso 3: Obsessão da Família de Leonel (Bezerra de Menezes)
5. Prece final
6. Anexos
Obsessão e Desobsessão,
Cap. 13 – ‘QUEM É O OBSESSOR?’, Suely Caldas
“Obsessores visíveis e Invisíveis são
nossas próprias obras, espinheiros plantados por nossas mãos.”
(Seara
dos Médiuns, Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier,
“Obsessores”.)
Obsessor — Do
latim obsessor.. Aquele que causa a obsessão; que importuna. (15)
O obsessor é uma pessoa como nós.
Não é um monstro teratológico saído das trevas, onde tem a sua morada
para todo o sempre.
Não é um ser diferente, que só vive
de crueldades, nem um condenado sem remissão pela Justiça Divina.
Não
é um ser estranho a nós. Pelo contrário. É alguém que privou de nossa
convivência, de nossa intimidade, por vezes com estreitos laços afetivos. É
alguém, talvez, a quem amamos outrora. Ou um ser desesperado pelas crueldades
que recebeu de nós, nesse passado obumbroso, que a bênção da reencarnação
cobriu com os véus do esquecimento quase completo, em nosso próprio benefício.
O obsessor é o
irmão, a quem os sofrimentos e desenganos desequilibraram, certamente com a
nossa participação.
Muitos, por
desconhecimento, transferiram para o obsessor os atributos do próprio demônio,
se este existisse.
Entretanto,
quantos de nós já não cometemos essas mesmas atrocidades que ele comete agora?
Quantos de nós já não alimentamos ódios semelhantes? Quem está livre de trazer
nos escaninhos da consciência a mesma inimaginável tortura de um amor
desvairado, doentio, que se fez ódio e se converteu em taça de fel? Quem pode
dizer qual seria a nossa reação se vivêssemos as tormentas que lhe corroem as
profundezas da alma?
O ódio só no amor
tem cura. É o antídoto que anula os efeitos maléficos, que neutraliza, e,
sobretudo, transforma para o bem. Geralmente, é o ódio que impulsiona o ser humano
à vingança. É sempre um desforço que se pretende tomar, como quem está pedindo
contas a outrem de atos julgados danosos aos seus interesses.
A figura do
obsessor realmente impressiona, pelos prejuízos que a sua aproximação e
sintonia podem ocasionar. E disto ele tira partido para mais facilmente
assustar e coagir a sua vítima. E esta, apresentando, em razão do seu passado,
os condicionamentos que facilitam a sintonia, traz, no mais recôndito do seu
ser, o medo desse confronto inevitável e a certeza da própria culpa,
tornando-se presa passiva do seu algoz de agora.
Não é fácil ao
obsidiado amar o seu obsessor. Não é fácil perdoá-lo. Mas, é o que se torna
necessário aprender.
SCHUBERT, Suely Caldas. ‘Modo de ação do obsessor’, Cap 14 - Obsessão/Desobsessão.
Certa
vez, na reunião em que colaboramos, sentimos a presença de um grupo de
Espíritos desencarnados entre 15 e 18 anos. Tinham a aparência desses que vemos
nas ruas, denominados "pivetes" ou "trombadinhas". Dentre
eles comunicou-se uma mocinha desencarnada aos 17 anos, maltrapilha e
extremamente zombeteira. Cantou-nos que andavam ao léu, pelas ruas, tal como
faziam antes, dedicando-se especialmente a entrarem nos lares cujas portas
estivessem abertas (e aqui no duplo sentido: físico e espiritual), com a
finalidade de provocar desordens e brigas entre os moradores. Isto descrito num
linguajar peculiar, com a gíria comumente empregada Também contou que tinham
prazer em usufruir do conforto dessas casas, refestelando-se nas poltronas
macias e desfrutando de comodidades que não tiveram em vida. Obviamente isto só
era possível nos lares em que, embora havendo conforto material, o ambiente
espiritual não diferençava muito do que era próprio a esses "pivetes"
desencarnados.
Foi
preciso muito amor e carinho de toda a equipe para conscientizá-los de que
existia para todos uma vida bem melhor, se quisessem despertar para ela. Que
havia ao lado deles pessoas que os amavam e que desejavam aproximar-se para
auxilia-los. E que acima de tudo estava Jesus, o Amigo Maior, que não desampara
nenhuma de suas ovelhas.
Como a
carência de amor dessas almas fosse bem maior que toda a revolta que os
abrasava, aos poucos emocionaram-se com os cuidados e carinho de que foram alvo
e, ao final, sob a liderança da jovem que se comunicou - uma espécie de
porta-voz do grupo - e que foi também a primeira a se sentir amorosamente
confortada, o grupo foi levado, após a prece comovente feita pelo doutrinador.
Durante a
Comunicação foi-nos possível divisar alguns quadros da vida dessa quase menina,
que nasceu, cresceu e viveu em locais que os homens habitualmente denominam
" na sarjeta". Sua desencarnação foi trágica, vitimada pelos maus
tratos de um homem.
Esse
pequeno grupo de Espíritos não tinha consciência completa do mal que causavam,
embora desejassem fazê-lo, vingando-se da sociedade que sempre os desprezara.
Viviam de modo quase semelhante ao que levavam quando na vida material, apenas
sentindo-se mais livres e com mais facilidade de ação. Não tinham ciência de
que poderia haver para eles um outro tipo de existência, revelando-se-lhes, na
reunião, aquele outro caminho: o das bênçãos do Alto em forma de trabalho digno
e edificante.
Alguns obsessores apresentam interessante faceta para os estudos do assunto.
Foi o caso de certa entidade que se comunicou na reunião do Centro
Espirita Ivon Costa. Muito educado, distinto, tratava ao esclarecedor com toda
calma e gentileza. Dizia-se, na verdade, perseguindo a uma pessoa a quem
odiava, mas não tinha raiva de mais ninguém e inclusive compreendia o nosso
papel ao tentarmos beneficiar a sua vítima. Acreditava em Deus, em Jesus, no
amor, mas não tinha vontade de abandonar o seu intento.
Mesmo com todos esses dados positivos de caráter, o seu
esclarecimento foi demorado, rendendo-se por fim à evidência do amor, diante de
aproximação de um Espírito a quem muito amava e que foi por ele visto durante
os trabalhos.
(SCHUBERT,
Suely Caldas, Quem e o obsessor? - Obsessão/Desobsessão)
Loucura e
Obsessão – Divaldo P. Franco/Manoel Philomeno de Miranda, Cap. 19 e 20
“Trata-se
de um paciente da Casa, filho do Diretor-Presidente da Instituição. Vítima de
pertinaz obsessão, a que faz jus , não granjeou títulos de enobrecimento para
que o problema tivesse a solução conforme o desejo de todos, particularmente
dos pais, que são abnegados trabalhadores do bem e portadores de méritos
valiosos. Todavia, há circunstâncias e ocorrências que não puderam ser
solucionadas da forma como é considerada a saúde na Terra. (...)”
Conduzido pela mentora, e logo atraído
ao perispírito de Antenor, o médium e pai do obsidiado, o Espírito obsessor
entrou, de imediato, em estertores e, transfigurando a face do médium e o seu
conjunto: expressão, gestos, voz, exclamou: “Nunca o perdoarei!”. (...)
“Não
te pedimos que o perdoes. Rogamos que lhe dês oportunidade de reparar os males
que praticou em relação a ti e àqueles a quem amas. Sem querer justificá-lo,
digo-te que ele estava louco. O traidor, que rouba a confiança e estrangula a
amizade, nas forças do seu crime, encontra-se fora de si. Basta que tenhas
piedade e lhe concedas o que a ti ele não ofereceu, levando-te a este
estado...”
-- “Só palavras, que em nada modificam a
situação. Você tem o direito de interceder por ele: é seu filho, o infame que a
mim desgraçou.”
-- “Eu o sei e me apiedo de vós ambos. Choro o
meu filho infeliz e lamento por ti, meu pobre irmão. Ele acaba de completar
vinte anos e já se vão dezesseis de dores inomináveis para nós e para ele.
Quando se iniciou a doença, ele foi, a pouco e pouco, perdendo os recursos da
fala, da compreensão, enquanto se lhe
aumentava a agressividade, a irritação, a par do retardamento mental... Tu
falas de dor, todavia, sem desejar relacionar sofrimentos, sua mãe e eu, desde
então, nunca mais pudemos repousar, à noite, pois é quando mais ele se excita e
se desespera... Acostumamo-nos a quase não dormir. (...) Quantas vezes ele nos bateu na face! Quantas
outras, tu lhe tomaste as mãos e nos agrediste também! A princípio, não
sabíamos o de que se tratava. Críamos apenas no diagnóstico médico, que
afirmava ser um incurável distúrbio neurológico, que lhe lesara grandes áreas
orgânicas. Da aflição inicial e da amargura que nos tomou, passamos à
piedade... Quando a fé em Deus e na Sua
justiça nos clareou a noite das dores, ante a certeza da reencarnação e
da sobrevivência do Espírito à morte física, passamos a amá-lo e a ter mais
coragem...”
--
“Não me tente sensibilizar -- interrompeu-o o Espírito --, pois que isto mais
me revolta. Ele é seu filho querido, porém traiu-me, roubando-me ao lar a filha
amada a quem corrompeu e desgraçou, levando-a ao suicídio... E se passava como
meu amigo, a quem abri a minha casa e lhe concedi a honra que não merecia, de
conviver com a minha família. Cada um de nós, agora, zela e luta por seu
próprio filho. Nunca mais soube dela, a filha, a quem ele destruiu...
Ao
referir-se à causa de sua desventura, o choro convulsivo dominou o comunicante
de forma irrefreável.” (...)
Uma das trabalhadoras espirituais do
trabalho chega conduzindo uma Entidade adormecida, “que se encontrava na faixa etária dos dezesseis anos, reencarnada e
portadora de suave beleza, embora assinalada por funda melancolia. Era a mesma
filha do perseguidor, que voltara à carne e, na condição de surda-muda,
resgatava no silêncio o engano da alucinação suicida.” O pai, reconheceu-a
imediatamente e, abruptamente vencido por variadas emoções, e chorando muito,
ele -- que chegou a odiá-la por algum tempo na existência pretérita -- clamou:
“Perdoa-me, filha querida, perdoa-me!
Quanta dor e saudade!... Oh! Deus, quanta dor, ainda!...”. (...)
“Deus
é amor e te traz a filhinha de volta. Embora reencarnada, poderás agora
acompanhá-la, ajudá-la, e reparar, também, os teus erros. Terás sido, por
acaso, um pai sem falha? Não terá ela saído do lar, a fim de liberar-se um
pouco da tua opressão? Medita!”
“Agradece,
meu irmão, este momento. Agradeçamos todos, e, como sinal do teu
reconhecimento, liberta a quem te fez infeliz”.
“Você
pede-me que o liberte e não tem ideia do que solicita. A palavra liberte terá
um significado muito profundo, quase terrível para você e para ele, para a
família, caso eu concorde com o apelo. Estamos tão intimamente ligados, quanto
a planta parasita na árvore que a hospeda. Com o tempo, as raízes da naturalmente
enxertada penetraram na seiva da outra, gerando tremenda simbiose. Ambos nos
necessitamos para viver. Embora eu aqui me encontre, estou vinculado a ele...
Se eu arrancar-me do seu convívio físico e mental, eu me desequilibrarei muito,
e o corpo dele morrerá...” (...)
“Seu
filho morrerá, então, infelizmente. Sem mim, ele não sobreviverá. Escolha:
tê-lo comigo, ou, sem mim, perdê-lo” (...)
“(...) meu irmão, haja o que houver, eu te suplico: tem misericórdia dele e de
ti mesmo...” (...)
“Profundamente
sensibilizado, o comunicante encerrou o diálogo:
Perdoai-me,
os pais e vós outros por tanta desgraça. Reconheço que agora sou o mais infeliz
de todos. A minha insistência na perseguição gerará mais infortúnio: todavia, a
minha renúncia produzirá a amargura. Entre as duas conjunturas, elejo a que
menos mal irá causar-vos. Desse modo, rogando a Deus que tenha misericórdia de
todos nós, eu me despeço, e prometo que libertarei aquele que me fez o mal, a
quem tentarei perdoar de todo o coração.
--
Deus te abençoe e te guarde!, concluiu o doutrinador.” (...)
E assim, desencarna o jovem obsidiado. Explica a
mentora:
“À
medida que a obsessão se faz mais profunda, o fenômeno da simbiose --
interdependência entre o explorador psíquico e o explorado -- se torna mais terrível.
Chega o momento em que o perseguidor se enleia nos fluidos do perseguido de tal
maneira que as duas personalidades se confundem... A ingerência do agente
perturbador no cosmo orgânico do paciente termina por jugulá-lo aos condimentos
e emanações da sua presa, tornando-se, igualmente, vítima da situação,
impossibilitando-se o afastamento. Por outro lado, a magnetização e intoxicação
fluídica do agressor sobre o hospedeiro transforma-se em alimento próprio para
a organização celular, que, se não a recebe, de repente, desajusta o seu
equilíbrio. No princípio, gera distonia, desarticulação, para depois adaptar-se
e aceitar a energia deletéria sem maiores choques nos elementos que constituem
o universo celular...”
“É natural, portanto, que o explorador esteja,
neste momento, experimentando uma forma específica de morte, que decorre da
falta de alimento a que se entregou nos últimos largos anos. É o efeito da
exploração, que agora se lhe apresenta como carência. “
“Como,
porém, ninguém fica ao desamparo do Amor, ajudando-se a Alberto é inevitável
que a ele também se atenda. Neste momento, a nossa Anita, chefiando um grupo de
cooperadores de nossa Casa, está colaborando em favor do seu reajustamento e
readaptação ao novo habitat físico-mental”. (...)
Esclareceu Dr. Bezerra: “Sabemos que o perispírito é o corpo que
transmite ao soma o indispensável para a sua manutenção. Sendo a parasitose
obsessiva o resultado da ligação do perispírito do encarnado com o do Espírito,
o intercâmbio de energias faz-se automaticamente. Ora, à medida que se torna
mais acentuado o intercâmbio fluídico, a energia invasora passa a influenciar
as células sangüíneas e as histiocitárias, que começam a produzir anticorpos e
defesas imunológicas no nível que lhes corresponde, alterando o equilíbrio
fisiopsicossomático do paciente. Às vezes, aquela energia deletéria facilita a
invasão bacteriana, favorecendo a instalação de vários processos patológicos de
efeitos irreversíveis, que encontram apoio na consciência culpada.”
“Interrompendo-se,
repentinamente, o concurso desse fator energético, o perispírito do hospedeiro
sofre abalo violento e os seus centros vitais se desajustam, refletindo-se no
sistema retículo-endotelial e nos gânglios linfáticos, que respondem, no plasma
sangüíneo, pelo surgimento das hemácias e dos leucócitos, dos trombócitos,
macrófagos e linfócitos que são o resultado de incontáveis grupamentos que se
originam nos laboratórios complexos e extraordinários do baço, da medula óssea,
do fígado e de todo o conjunto ganglionar... O organismo físico se desarmoniza,
e a mente em desconcerto nada pode fazer em favor do reajuste e funcionamento
das peças celulares, ocorrendo a expulsão do Espírito encarnado...”
Dramas da Obsessão – Yvonne
Pereira/Bezerra de Menezes – Cap. 8
A família de Leonel, sofria
obsessão por parte de uma família de judeus, que intentava levar a todos pelo
suicídio. Leonel e a filha de 20 anos, já haviam se suicidado. O outro filho
tentou o suicídio se jogando nos trilhos do trem, mas foi salvo a tempo de ser
pego pelo trem.
A obsessão era realizada por
um Espírito, rabino judeu, e seus 3 filhos, que haviam sido presos, torturados
e mortos pela Inquisição, em meados do século XVI, em Portugal. Os causadores
dessa desgraça que se abateu sobre a família judaica, estavam todos
reencarnados na família de Leonel.
Os dois suicidas e os 4
obsessores, permaneciam na casa da família de Leonel, quando se iniciou o
trabalho de desobsessão, a pedido do Espírito Ester, que a época era sobrinha
do rabino e também foi supliciada junto com o tio e os primos.
O Espírito Roberto, da equipe
socorrista espiritual, vai até a casa de Leonel, para retirar de lá, os 4
obsessores, levando-os ao Centro Espírita onde ocorreria a doutrinação
mediúnica. Os dois suicidas já haviam sido retirados pela equipe socorrista.
Vejamos alguns trechos dessa
ação de socorro do Espírito Roberto:
“Roberto fora hebreu em certa
existência vivida em Portugal e na Espanha e fácil lhe seria valer-se da
circunstância para atingir os nobres fins que trazia em mira. Fez, portanto,
que retroagissem ao passado as próprias forças mentais (...), pela ação de uma
irradiação da própria vontade... e voltou a ser o judeu de outrora, o homem
oprimido e sofredor em Portugal, ao tempo da Inquisição, ameaçado a cada
passo por um sequestro e quiçá pela morte, sob os tratos do Santo Oficio.
Assim transfigurado, deixou-se
materializar conforme requeriam as circunstâncias, e penetrou serenamente na
residência sinistrada (...).
— Que Moisés e os Profetas te
guardem dos teus inimigos e dos inimigos da nossa raça, Rabino... — saudou Roberto (...)
Grave, não demonstrando sequer
surpresa, como se a saudação e o dialeto em que fora ela proferida fossem
garantidas credenciais recomendando o visitante, o obsessor correspondeu naturalmente
o cumprimento comum entre os seus:
— Que Moisés e os Profetas te
guardem, e à nossa raça, da crueldade dos nossos inimigos...(...)
— De onde és?... Como te
chamas?... Ao que vens?
— Venho da Andaluzia...
Chamo-me Miguel... Trago-te uma mensagem de paz e de amor, a par da minha
visita pessoal, com um convite... (...)
__ És porventura um
perseguido, um infeliz de quem fizeram um pária, como a nós outros, os de
cá?...
— Não, Rabino, não me
perseguem... Isso passou, com o tempo... Coloquei-me sob a égide de um grande e
poderoso “Rabboni”... o qual sabe defender de todos os males quantos se acolhem
à sua sombra... E venho convidar-te, em nome de tua sobrinha Ester, a visitá-la
e a te entenderes com ela, pois sei que sofres desde muito, que tu e os teus
fostes torturados sob mil injúrias e tratos cruéis, e que, portanto, necessitas
de grande repouso e consolações...
— Assim tem sido, meu jovem
andaluz... Porém, como me conheces?...
— Conheço-te, e aos teus,
através dos relatos da tua Ester... Ela mandou-me a ti...”
(...)
— Quer dizer, então, Rabino,
que esses de quem hoje te vingas, isto é, Leonel e família, pertenceram ao
“Santo Ofício”, ou à Inquisição, em Portugal... e que o drama que neste cenário
entrevejo tem origem nesse remoto tempo?...
A entidade obsessora
voltou-se, agitada por significativa surpresa:
— Remoto?... Tu dizes um tempo
remoto ?... Não! Foi ontem mesmo!... Pois ainda não estamos com o reinado de
El-Rei Dom João 3º?... Ainda estou ferido, e também os meus filhos, vês?...
Ardem-me horrívelmente as queimaduras, e magoam-me... Sangram-me os dedos, de
onde me arrancaram as unhas... Sofro muito... e também os meus pobres e
queridos filhos, que eram jovens honestos e gentis, que nenhuma ofensa
dirigiram àquela malta... mas os quais agora vejo reduzidos a este estado...
Foi ontem mesmo, foi! Oh!... Mas sim... Às vezes parece-me que esse tempo está
muito distante... que tudo aquilo aconteceu há séculos... Mas tal impressão de
longevidade se dá porque tenho estado encarcerado muitas vezes... e nas sombras
de uma masmorra o tempo se afigura mais longo, não é verdade?...(...)
Dize a minha Ester que venha cá, antes, ver-nos... Sentimos
inconsoláveis saudades dela, mortificantes preocupações a seu respeito nos
desorientam... Procurámo-la por toda a parte onde nos pareceu possível
encontrá-la... Porque nos abandonou assim? Ou têm-na presa?... Sim, os
miseráveis desonraram-na e encarceraram-na... que venha ver-nos... Dize-lhe que
está vingada (...) Se me ausentar daqui, algo desagradável sucederá... Meus
filhos são inexperientes, sem mim não saberiam agir... Dize a minha Ester que
venha cá...(...)
— Creio muito justas as tuas
ponderações, Rabino, e concordo contigo: — a lei de Moisés prescreve, com
efeito, a retribuição das ofensas contra nós praticadas pelos nossos
inimigos... Muito a teu pesar, porém, declaro-te que Ester não deseja medir-se
com estes réprobos... Esqueceu-os completamente, porque é feliz! Não está
prisioneira, nada sofre... Todavia, não virá... Se queres vê-la e falar-lhe,
terás de buscá-la onde se encontra... E aproveitarás a oportunidade para te
entenderes com o “Rabboni” de que venho falando, do qual é ela discípula...
— Tu mais e mais me aguças as
preocupações e a curiosidade... Mas estou indeciso... Esse teu “Rabboni” me
reprochará pelos feitos que venho realizando em torno dos meus algozes?...
Muitos outros o têm feito, mandando-me perdoar-lhes, pois dizem que, com
efeito, a lei e os profetas ensinam o amor aos semelhantes... Mas, que têm eles
com os meus assuntos particulares?...Aos semelhantes, sim, concordo! Mas, e aos
inimigos?... Um inimigo será um semelhante nosso?... Como poderei amar Frei
Hildebrando, João-José, Fausto e Cosme de Mirandela, a Condessa Maria de
Faro?... Quem é, afinal, ele, esse Rabboni teu amigo ?...(...)
— É um dos nossos! Como tu,
como eu, como teus filhos, foi igualmente perseguido, vilipendiado, supliciado
pela casta sacerdotal... Não, ele não te deteria nas ações que preferires
praticar, pois concede-nos liberdade de ação... deseja, sim, que renunciemos ao
mal por amor à virtude, mas quer que o façamos por nossa livre e espontânea
vontade, sem quaisquer coações... Vem, sem temor... E a fim de que nenhuma
anormalidade advenha, contrariando-te, deixaremos aqui alguns amigos — uns
milicianos árabes — de ronda a esta casa... São também teus amigos... desejam
ser úteis a ti e aos teus filhos.
O chefe dos ofensores
aquiesceu, talvez premido por uma vontade superior interessada em conceder-lhe
ensejos para a emenda de princípios, e certamente vencido pelo desejo de rever
Ester, sua sobrinha, igualmente supliciada e morta pelo tribunal da Inquisição,
a qual, no entanto, jamais pudera reencontrar, desde quatro séculos, uma vez
que ela soubera, desde muito, acolher-se sob a inspiração do Bem e do Amor,
perdoando àqueles que a haviam torturado no passado, e, portanto, afinando-se
com a Luz.
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